Brejo do Mutambal, lá vamos nós!
* Por
Mara Narciso
Tempos difíceis de
problemas petrificados desfavorecem o espírito para viajar, mas, para não ficar
viajando apenas nas fotos dos amigos, é possível seguir pelas estradas do norte
de Minas nas palavras de Benedito Said em sua brilhante participação semanal no
Programa Nossa Arte Nossa Gente, da Rádio Unimontes, hoje, se fazendo chamar
Rádio Universitária. Há 12 anos, completados neste mês, o programa criado por
Josecé Alves do Santos começou para dar espaço aos artistas da terra, o que tem
sido feito de forma equânime. Em todos os programas há o “Dedo de Prosa”, com
entrevistas.
Cravadas quase oito e
meia de sábado, o programa gravado na quinta-feira está no ar desde as 8 h.
Alex Tuta já anunciou e tocaram algumas músicas, Lúcio Higino contou o “causim”
e enumeraram na Agenda Cultural as atrações da semana, entre apresentações de
cantores em barzinhos, shows, Exposição de Hélio Brantes e outras. Então, a
trilha sonora com seu berrante cria a expectativa para a “Paisagem na Janela”.
Lúcio Higino diz: chegou a hora tão esperada da Nossa Viagem e Alex Tuta fala:
chega mais, Bené!
Então, as radiações
eletromagnéticas trazem a gostosa prosa poética de Benedito Said. A Rural azul
e branca está pronta, somos informados do nosso destino, e a viagem ao Brejo do
Mutambal vai começar. O lugar fica em Varzelândia, e tem belezas naturais,
montanhas, cachoeiras, comidas diferentes, festejos e seus tipos humanos
curiosos.
O Filósofo gostava de
ouvir rádio, e era o único que recebia jornais e revistas, mesmo com meses de
atraso. Traduzia as novidades através da sua maneira peculiar de ver o mundo,
num lugar aonde só chegavam as ondas de rádio AM, aquelas das conversas, das
músicas e das notícias. A graça estava na interpretação dos fatos após a
audição do moço. Sobre alguma votação na Câmara Federal, por exemplo, ele
dizia: podem até aprovar, mas, chegar até aqui no Brejo do Mutambal, acho
difícil. Numa época houve um Plebiscito, e ele: isso de plebiscito não é bom
não. O certo é o povo escolher. E Benedito Said completou: sim, a plebe é que
deve votar.
Tinha por lá outra
personagem peculiar, Antônio Sinfrônio, metido a conquistador, mas que não
conseguia ninguém. Ensinaram a ele que o importante era saber onde beijar uma
mulher. Ele logo se interessou. O “professor” falou que ele poderia beijar uma
mulher em Varzelândia, em Montes Claros, em Belo Horizonte e se ele tivesse
mais dinheiro, poderia beijar em Paris. Não foi dito se viajou, se beijou e se
conquistou, portanto, persiste a curiosidade.
Depois ficamos sabendo
que no Brejo do Mutambal ainda tem lamparina ou candeia, também chamada de fifó
a querosene, que gerou, pela similaridade com um palavrão muitos comentários e
risadas dos apresentadores. A viagem foi um momento de diversão e bom-humor,
numa descontração que não perdeu o espírito cultural e preservacionista dessa
atração, com lembranças históricas, citações sobre águas e animais.
Então, foi escolhida a
música que seria a trilha sonora do passeio (Amorosa de Wilson Dias), e os
ouvintes cativos que iriam nele. Como não perco um programa, Alex Tuta, costuma
me levar. Hoje, porém, fui citada para em seguida ser preterida. Culpa do
Beijador do Brejo do Mutambal, que poderia se “engraçar de mim”. Fui salva pela
lembrança de Benedito Said, que me livrou do beijo, mas me privou da Rural. Dei
risadas, me diverti, ouvi a música tema, mas continuei no borralho. Pelo menos
até a próxima viagem. E que não me deixem para trás.
Arte de Fernando
Yanmar Narciso com Alex Tuta e a Rural
* Médica endocrinologista, jornalista profissional,
membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico,
ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Pois viajei de Rural com seu texto e a ilustração do Fernando. Abraços!
ResponderExcluirVolto a 1970 e você ao Gênesis. E que viagem!
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