A linha do Equador
* Por
Emir Sader.
O Equador só existia
para nós numa pergunta reiterada nas provas de geografia na escola: “Quais os
únicos dois países da América do Sul que não têm fronteira com o Brasil?”
Estavam tão distantes, eram tão insignificantes que nem fronteira tinham conosco
– um país continente. Do Chile até que nos chegava uma ou outra notícia, pelo
menos o Colo-Colo, o time de futebol, não o cacique mapuche que deu o nome à
equipe.
Do Equador apenas a
linha, parecia que era um país que só existia em função da linha do Equador,
assim como o Panamá foi desmembrado da Colômbia pelos Estados Unidos apenas
para ter um canal. Um corredor equatoriano – Rolando Vera – ganhou 4 vezes
consecutivas a São Silvestre – de 1986 a 1989 –, mas não foi suficiente para
que se passasse a falar do seu país por aqui.
De repente a América
Latina começou a se reivindicar e a reivindicar seu lugar na história. Países
dos quais não conhecíamos quase nada, como a Venezuela, a Bolívia, o Equador,
começaram a se projetar através das suas novas lideranças. Foi assim que Rafael
Correa passou a ser conhecido entre nós, junto com Hugo Chávez, Evo Morales e
outros mais.
Mas quem é Rafael
Correa? Como foi que um economista universitário chegou a ser Presidente do seu
país e se projetou como o líder político mais importante da sua história?
Rafael Correa fez
pós-graduação de economia na Bélgica, com François Houtart, com quem
compartilha a formação católica. Voltou para o Equador e pôde participar das
lutas do povo que derrubou a cinco governos neoliberais em cinco anos. Chegou a
participar brevemente num desses governos, antes que se revelasse ele também
neoliberal.
Quando os movimentos
populares equatorianos se cansaram de eleger candidatos dos partidos
tradicionais e decidiram disputar a direção política da sociedade, escolheram
Rafael Correa para representá-los.
Em 2007, quando Hugo
Chávez, Lula, Nestor Kirchner, Tabaré Vázquez, Evo Morales já governavam seus
países, Rafael Correa se somou a eles. Declarou, naquele momento, que o Equador
saía da “longa noite neoliberal” e começava a transitar não apenas para uma época
de mudança, mas para uma mudança de época.
Assim Rafael Correa se
pôs a dirigir seu povo no caminho da superação da longa noite do
neoliberalismo. O Equador passou a ser um dos países que mais avançou nessa
direção. Refundou seu Estado, estendeu e garantiu direitos às grandes maiorias
antes postergadas, modernizou o país, a começar pelas estradas, promoveu um
modelo de desenvolvimento com distribuição de renda e com proteção ambiental,
conseguindo sempre manter um alto nível de aprovação da população.
O livro de Rafael
Correa que a Boitempo acaba de publicar, com textos de análise do Equador, que
ele foi escrevendo ao longo da sua trajetória, especialmente no período de
resistência ao neoliberalismo, demonstra suas qualidades como economista e como
analista político. Que faz com que ele represente, junto com Álvaro García
Linera, um novo fenômeno na América Latina: intelectuais que assumem
responsabilidades de direção política de governos.
*
Sociólogo e cientista político
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