Aula nota 10
* Por
João Luiz de Almeida Machado
Pergunte a alunos e
professores o que seria para eles uma “aula nota 10”. Você esperaria respostas
semelhantes dos dois grupos? Claro que não. Já até posso ouvir alguns leitores
dizendo que nem mesmo entre um professor e outro teríamos semelhante retorno,
quanto menos ainda esperar que os estudantes devolvam em seus pareceres iguais
respostas.
Agora, ao menos,
alguns pontos pertinentes entre as respostas obtidas quanto a elementos de uma
“aula nota 10” surgiriam, como por exemplo:
- É uma aula que gera
mobilização e participação plena dos envolvidos;
- A comunicação nesta
aula ocorre de forma a atingir todos os participantes permitindo que todos
entendam, se interessem e possam atuar no contexto das ações;
- Existe uma dinâmica
na aula que envolve teoria e prática. Esta relação é percebida e valorizada
pelos participantes;
- A aula está bem
planejada e sua execução ocorre dentro dos conformes pensados pelo proponente;
- As temáticas
apresentadas e discutidas relacionam-se ao mundo em que vivemos e, por isso,
tem para os participantes total sentido e geram motivação quanto a
aprendizagem.
Acima de tudo, no
entanto, fica a percepção de que uma “aula nota 10” é aquela em que ensino e
aprendizagem se efetivam, acontecendo uma interação rica, com efeitos
duradouros, senão permanentes, legando experiências que permanecem e ajudam
todos os envolvidos, sejam eles os docentes ou os aprendentes nesta relação
estabelecida.
Não se ensina ou se
aprende sem que para os envolvidos o conhecimento seja significativo. Estar
atrelado ao currículo, apresentado em um material didático de qualidade, ser
trabalhado num formato tecnológico, utilizando dinâmicas agradáveis e
envolventes pode não ser o suficiente para a real consolidação dos saberes.
Num primeiro momento
tudo pode parecer claro e gerar resultados bons em avaliações imediatas, mas
“aulas nota 10” devem ir além disso, gerando conhecimentos perenes,
transformações em quem educa e é educado, olhares que ultrapassem os conteúdos
imediatos e permitam associações e compreensões além dos horizontes
limitadores.
É claro que, além
disso, é preciso conhecer e aplicar a didática naquilo que esta área de
conhecimento melhor dispõe para seus realizadores, os educadores. A estrutura
da aula, suas motivações, os caminhos que enseja, as sinapses que deve
despertar e tudo o mais dependem não apenas do conhecimento, mas principalmente
da excelência na aplicação da didática. É neste momento em que separam os
homens dos meninos, ou melhor dizendo, os educadores dos professores, pois o
olhar dos primeiros se preocupa não apenas com os conhecimentos imediatos, mas
com a preparação para toda a vida daqueles que está a preparar.
Carisma, persistência,
estudo constante, humildade, organização e curiosidade devem igualmente constar
como elementos que permitem ao educador planejar, propor e atuar com eficiência
e resultados notáveis em suas aulas.
Ao mencionarmos
organização entramos na seara mais imediata das “aulas nota 10”. Além dos
planos gerais, dos currículos amplos, há as estratégias e técnicas mais
imediatas, aquelas aplicadas no momento das aulas, que dão vida, cor, tempero e
sabor ao trabalho nas escolas.
É nesta seara que o
livro “Aula Nota 10”, de Doug Lemov, publicado no Brasil pela Editora Da Boa
Prosa, em parceria com a Fundação Lemann, se estabelece como boa obra de
referência, com aplausos e deferências em seu país de origem, os Estados Unidos
e também em outras praças mundiais.
Resultado de pesquisas
e levantamentos realizados com professores cujo trabalho teve reconhecimento
por parte de seus alunos, considerados por Lemov como autênticos coautores da
obra e sem os quais não existiria o livro, o trabalho apresenta de forma
organizada 49 técnicas de trabalho que ensinam docentes a tornar suas aulas
impecáveis e bem-sucedidas.
Há subdivisões entre
as técnicas propostas, visando trabalhar diferentes metas ou objetivos, como
por exemplo, “garantir um bom desempenho acadêmico”, “construir valores e
autoconfiança”, “motivar os alunos nas suas aulas”, “criar uma forte cultura
escolar” ou “estabelecer e manter altas expectativas de comportamento”.
Dentro destas e de
outras categorias, o leitor encontra as 49 técnicas, cuja nomenclatura tende a
ser bastante direta e objetiva quanto a seus caminhos e finalidades, é o que
vemos por exemplo em propostas como “deixe claro”, “capriche nos detalhes”,
“faça agora”, “tome posição”, “faça o mapa” ou “todo mundo escreve”, apenas
para gerar curiosidade dos futuros leitores.
É preciso, não se pode
esquecer disso, ler criticamente, sendo capaz de perceber as necessárias
adaptações ao contexto de cada escola, das turmas de alunos com os quais
lidamos e a própria cultura brasileira. Nem sempre é possível simplesmente
pegar a receita e aplicar, sendo necessário adequar ao entorno e público que
cada professor atende.
A aplicação das
técnicas não significa sucesso imediato. É preciso estudar, verificar se estão
de acordo com suas crenças, valores e filosofia de trabalho. Planejar ações e
testar, sabendo que por vezes as coisas podem não funcionar tão bem e, se
acreditar no que está fazendo, investir ainda que os primeiros frutos não
tenham sido tão bons assim.
“Aulas nota 10”
resultam da maturação dos profissionais, de sua constante busca por novos
instrumentos e recursos, de autocrítica e de envolvimento real com a educação e
com o ensino.
Livros como o de Doug
Lemov ajudam porque reforçam a crença e a confiança, trazendo ideias e
propostas já realizadas e bem-sucedidas desempenhadas por outros educadores.
Devem, inclusive,
motivar os professores a criar, também eles, registros de práticas didáticas
por eles realizadas que geraram resultados expressivos para que compartilhem
nas escolas em que atuam e também pela rede mundial de computadores.
Obs.: O livro de
Douglas Lemov tem, no Brasil, um Guia Prático, elaborado pelo Instituto
Península, também publicado pela Editora De Boa Prosa, que aparece na abertura
deste artigo, com capa amarela.
• Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em
Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
(SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de
Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora
Intersubjetiva).
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