terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Comunicação e  precisão

A imprensa, fenômeno recente, de pouco mais de um século (quando os primeiros jornais diários passaram a circular na Europa), tem um poder imenso de manipular as massas. Conta, portanto, com uma capacidade de produzir profundas alterações na sociedade, para melhor ou para pior.  Exemplos, nos dois sentidos, existem em profusão.  Um foi o surgimento do nazismo na Alemanha, em fins dos anos 20s, e a conseqüente tomada do poder por parte de Adolf Hitler.

A humanidade pagou um preço intolerável por permitir essa ascensão de uma ideologia de ódio e discriminação. Correu o risco de tragédia ainda maior do que a  Segunda Guerra Mundial, que deixou um rastro de 60 milhões de mortos, um número de mutilados superior a 100 milhões e prejuízos materiais e morais incalculáveis.  Caso o Japão não se rendesse, após a explosão das  bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, ou se os alemães conseguissem (antes dos norte-americanos) desenvolver armas nucleares, possivelmente ocorreria uma hecatombe que varreria a espécie humana do mapa.

Qualquer campanha da imprensa, de alguns poucos dias,  pode estreitar relações entre povos inimigos inconciliáveis, levando-os à paz, ou conduzi-los à catástrofe de uma  guerra fratricida. O diretor do "La Stampa", de Turim, Giulio de Benedetti, não exagerou quando disse que "um jornal conduzido por um homem honesto e de bom senso, que dissesse sempre a verdade, poderia mudar a face de um país".  A mesma mudança, mas com resultados desastrosos, poderia ocorrer no caso de dizer apenas mentiras ou meias-verdades.

Muito maior poder para  promover profundas transformações na sociedade tem uma emissora de televisão. Trata-se de veículo de extrema agilidade, que penetra na grande maioria dos lares do mundo, e tem um potencial ilimitado de "fazer cabeças".  Por isso, funciona sempre como concessão, que pode ser cassada a qualquer instante, em caso de abuso.  Com a incrível evolução tecnológica que se verifica nos meios de comunicação, em especial  na TV e, ultimamente, com o advento e expansão da Internet, cabe à imprensa escrita novo papel. Seus proprietários precisam correr contra o tempo e fazer uma revisão urgente de conceitos, sob pena dos órgãos que dirigem desaparecerem  Se não o fizerem, fatalmente esse ramo da imprensa será atropelado por veículos mais ágeis, que por sua própria natureza são, virtualmente, instantâneos.

Se os jornais e revistas limitarem-se a dar notícias --- em geral com a utilização das mesmas agências, com os editores não se preocupando sequer em personalizar os textos, absolutamente iguais em centenas de órgãos informativos em todo o País --- sem que apresentem algum diferencial que os caracterize, não terão a mínima chance de competição.  Não acredito nessa possibilidade.  Como profissional do meio, torço para que os que comandam a imprensa escrita se dêem conta, a tempo, desse risco, real e iminente. Que não aceitem essa competição desigual, na qual, certamente, levarão desvantagem, com os meios eletrônicos de informação. É como uma corrida entre a lebre e a tartaruga. A saída para os jornais e revistas está no detalhamento das informações, mediante a utilização de quadros explicativos e todos os recursos gráficos que a moderna tecnologia lhes permite.  E, em especial, na precisão do que informam.  Cada notícia precisa ser checada e rechecada várias vezes antes de ser publicada, para que nenhum detalhe, por ínfimo que seja, esteja incorreto.

Além disso, é indispensável que todas as partes envolvidas no acontecimento noticiado sejam sempre ouvidas. Só assim os fatos relatados se transformarão em documentos rigorosamente corretos e verídicos. Nisso, os jornais e revistas poderão levar nítida vantagem sobre o rádio e a televisão, exatamente por disporem do tempo que os veículos eletrônicos não têm.  Outro ponto que poderão explorar é a opinião. Artigos enfocando os fatos mais controvertidos, escritos por especialistas, ou por jornalistas experientes,  tendem a se transformar em trunfos da  imprensa escrita.  Devem ganhar papel  bem mais importante do que aquele que até aqui  lhe tem sido atribuído, quando é meramente subsidiário. Mas qualquer que seja o veículo utilizado, é necessário que conte com absoluta credibilidade. E esta não cai do céu, se conquista com trabalho correto, honesto e competente. É conseguida quando se diz sempre a verdade, em qualquer circunstância, doa a quem doer.

É necessário que os jornais se tornem cada vez mais interativos, abrindo espaços crescentes para a manifestação dos leitores. As opiniões publicadas não podem ser parciais, mesmo que assinadas.  O jornal dispõe de local próprio para marcar a sua posição: os editoriais.  Desse debate sadio de idéias, certamente, surgirão soluções efetivas e práticas para os mais graves problemas, sejam políticos, econômicos, sociais ou comportamentais.  O julgamento sobre quem está certo ou errado,  nos assuntos controversos, deve caber sempre, e unicamente, àqueles sem os quais  nenhum órgão de comunicação teria razão de existir: os leitores.    

Boa leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. "É lúcido, válido e inserido no contexto".(Paulo Diniz, sempre citado a exaustão).

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