segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cartas que acabam virando livros



A correspondência de escritores – ou com seus colegas de letras ou com quem não tem o menor vínculo com Literatura, não importa, desde que não seja a comercial  – tem dado origem a interessantes e reveladores livros, esclarecendo, até mesmo, passagens obscuras da vida dessas personalidades, além de trazerem a público muitas de suas opiniões particulares a propósito de determinados assuntos que não constem de suas obras. Tais cartas, salvo exceções, são coletadas, e publicadas, postumamente, com a devida anuência e autorização dos herdeiros. Esse precioso material, todavia, torna-se cada vez mais escasso e raro e tende até a desaparecer. Sinais dos tempos. A evolução da tecnologia de comunicação é a responsável por esse provável desaparecimento.

Há já bom tempo, o hábito de escrever cartas a parentes, amigos e até mesmo a inimigos vem sendo substituído pela redação de e-mails, mais rápidos (instantâneos) e praticamente sem custo. Todavia... perecíveis. Poucos têm o cuidado de preservar em arquivos específicos, e seguros, essa correspondência eletrônica. Da minha parte, tenho tentado guardá-la, sempre que me lembro, tanto as mensagens que envio, quanto aquelas que recebo. Não sei se meus correspondentes têm idêntica preocupação. Presumo que não. Quanto às cartas... Tanto as que redigi, quanto as que recebi, já não existem mais. Infelizmente. Aliás, sobraram 31, que escrevi ao meu saudoso e querido amigo Maurício de Moraes, jornalista e poeta, orgulho de Ouro Fino, sua cidade natal. Costumava escrever-lhe com cópia. E estas tive o cuidado de digitar e preservar. As que ele me escreveu, todavia... nunca mais! Não irão gerar nenhum livro. Uma pena!

Dos meus demais correspondentes, não restou coisa alguma. E olhem que recebi cartas magníficas, de grandes escritores brasileiros, que meu desmazelo redundou em irreparável perda. Eu poderia citar umas duas dezenas de livros transcrevendo a correspondência de e para homens (e mulheres) de letras notáveis. Citaria, por exemplo, as duas coletâneas (ambas póstumas) de cartas trocadas pela poetisa portuguesa Florbela Espanca com diversos amigos. A primeira foi publicada em 1930, dias depois do seu suicídio, Foi o livro “Cartas de Florbela Espanca”, de autoria do crítico de arte italiano Guido Batelli. Contém cartas que ambos trocaram, algumas bastante pungentes e tristes. A segunda coletânea, curiosamente, tem o mesmíssimo título da primeira: “Cartas de Florbela Espanca”. Esse livro data de 1949. Reúne cartas enviadas e recebidas pela poetisa envolvendo parentes, amigos e admiradores.

Recorro ao site “Revista Escola” (WWW.revistaescola.asbril.com.br) que traz mais alguns livros do gênero, para recomendá-los aos meus leitores. Um deles é “Drummond & Alceu”, lançamento da Editora UFMG, organizado por Leandro Garcia Rodrigues. Reúne cartas trocadas entre esses dois “monstros sagrados” da Literatura Brasileira. Ou seja, entre o poeta Carlos Drummond de Andrade e o escritor Alceu de Amoroso Lima. Outro livro que o site menciona é “Me escreva tão logo possa”, da Editora Salamandra. Foi organizado por Marcos Antonio de Moraes. Reúne 21 cartas, de diferentes autores, entre as quais a que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal, informando o descobrimento do Brasil. Trata-se, pois, da “certidão de nascimento” de nosso país. Há, entre outras personalidades, correspondências de gente como José de Anchieta, Gonçalves Dias e Machado de Assis. Uma preciosidade!

Querem outro livro do gênero? Pois lá vai. Cito “Cartas do Coração – uma antologia do amor”. A obra, lançada pela Editora Rocco, foi organizada pela jornalista Elizabeth Orsini. O livro traz cartas de amor de vários personagens escritas a cônjuges, amantes e parentes. Destaco duas delas. A primeira é do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, endereçada à esposa Elza Bretanha. Já a segunda é a do cantor e compositor Cazuza, escrita á mãe, Lucinha Araújo. Outro livro imperdível, que recomendo aos meus amáveis leitores, é “Correspondências – Clarice Lispector”. O lançamento também é da Editora Rocco. Foi organizado por Tereza Monteiro. Reúne 129 cartas enviadas e recebidas pela escritora. A correspondência abrange quase quatro décadas da vida de Clarice, praticamente até véspera de sua morte. Traz, por exemplo, troca de cartas com Fernando Sabino e Manuel Bandeira, entre outros. É outro livro imperdível.

Meu amigo de mais de uma década, o escritor Urariano Mota, de quem me confesso fã incondicional, enviou-me, dia desses, o link de um site, que trata, especificamente, de correspondência entre homens de letras. É o “Correio IMS” (WWW.correioims.com.br), que, igualmente lhe recomendo, amável e paciente leitor. Certamente voltarei ao assunto, comentando outros tantos aspectos desse tipo de Literatura. Por enquanto, recomendo a você, caro escritor: não permita que sua correspondência se perca, porquanto ela pode ser sumamente útil aos estudiosos da sua obra.

Boa leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. Tenho impressos alguns cadernos de e-mails de correspondência com amigos no começo deste século. Os amigos se perderam, mas a correspondência está intacta.Só não sei se vale a pena relê-los. Vou dar uma olhada.Obrigada pela dica.

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