Poetisa ou poeta?
A polêmica é uma das principais características do
Literário. Claro, refiro-me à sadia, à que suscite esclarecedores debates
tendentes a conduzir a alguma conclusão lógica e correta e não à forçada, à
controversa, à gerada apenas pelo mau entendimento de alguma questão, ou seja,
a que nasça de erros e, por isso, não forme, mas “deforme” opiniões. Hoje, por
exemplo, trago à baila algo que gera, há já bom tempo, dúvidas na cabeça de
muitas pessoas e que, por mais que se debata, certamente não conseguirá
consenso: qual a forma mais adequada, do ponto de vista gramatical (mas não só
dele) para se referir a uma mulher que escreva poesia? Devemos tratá-la de “poeta”
ou de “poetisa”? Os dicionários aceitam ambas as formas. Todavia, sempre foi
assim? Não! Claro que não!
Antes, tentarei esclarecer como se dão os debates no
Literário. Ocorrem de forma “transversa”, indireta, nada prática, mas é algo
que em quase dez anos não consegui mudar. Em vez de ocorrerem no próprio blog,
como a mínima lógica indica que deveria ser, se dá por “tabela”. Os debatedores
encaminham, aos meus cuidados e-mails firmando suas posições, quando o mais
prático, e óbvio, seria expressá-las aqui mesmo, no espaço destinado a
comentários. Sempre que posso (o que nem sempre acontece) respondo diretamente
a essas mensagens pelo mesmo meio. Ou seja, por e-mail. Às vezes comento, no
editorial dessa nossa mini-revista eletrônica diária, as opiniões mais
relevantes, ou mais inteligentes. Nem todas, no entanto, permitem que eu
proceda assim. Muitas são expressas em linguagem (no mínimo) deselegante, com
palavras chulas, em textos eivados de ofensas. Sinais dos tempos de internet e
redes sociais (infelizmente) Muita gente confunde ênfase com má educação.
Quanto a isso... não há o que fazer, a não ser ignorar. É questão de educação
ou, mais propriamente, de falta dela.
Voltemos à polêmica de hoje (proposta pelo leitor Josias
Alexandre). Mulheres que escrevem poesia são “poetisas” ou “poetas”? Tenho
minha posição firmada e dela não arredo pé, até em respeito às insignes “compositoras”.
Por muito tempo, a gramática reconhecia, apenas, uma única forma. A do
substantivo comum feminino poetisa. Porém, muitas mulheres entenderam que essa
designação era discriminatória, era machista, que “sugeria” inferioridade
feminina nesse mister. Obviamente, discordo (embora respeite quem pense assim).
As feministas insistiram com teimosia em recorrer à expressão “poeta”,
precedida do artigo “a”, entendendo que o ato de criação de poesia nada tem a
ver com gênero (e não tem mesmo). De tanto usarem essa designação, os
dicionaristas se viram forçados a incluir essa maneira em todos os dicionários.
Afinal... é o povo que faz a língua. Hoje, tanto uma, quanto a outra forma são
consideradas corretas, dependendo do gosto de quem as utiliza.
A palavra poetisa é formada a partir de derivação sufixal,
ou seja, é acrescentado um sufixo à palavra já existente, alterando o sentido
da mesma. Neste caso temos a expressão poeta mais o sufixo –isa. O sufixo
nominal –isa transmite ideia de feminino, como poetisa, profetisa, pitonisa,
diaconisa… Essa é a regra. E não vejo porque adicionar-lhe essa (para mim
estranha) exceção. Apesar das duas formas já constarem dos dicionários,
insisto, a gramática oficial não aceita (ainda) a transformação da palavra “poeta”
num substantivo de dois gêneros, diferenciado, apenas, quando o caso, pelos
artigos “o” (quando masculino) e “a” (quando feminino). Ao contrário da
alegação das feministas, no entanto, entendo que a utilização de uma única e
mesma forma (a masculina) para homens e mulheres que componham poesia é que as
considera (ou, indiretamente, sugere isso) inferioridade delas. Dá a entender
que essa sublime forma de arte é prerrogativa de machos, quando não é. Aliás,
em termos de sensibilidade e emoção, acho as POETISAS muito mais sensíveis e
emotivas que os POETAS.
Embora se trate de questão menor, que não vai alterar a
cotação do dólar, como se diz de controvérsias que não resultem em nada
prático, não deixa de ser boa polêmica, para “desenferrujar” os neurônios de
muita gente. Trata-se de assunto que oferece muito “pano para a manga”, não é
mesmo? É dos tais que extrapolam as fronteiras de simples discussão gramatical.
Nunca é demais reiterar, para que ninguém ache que eu não saiba disso, que as
duas formas, para designar escritoras que lidem com poesia, “a poeta” e “poetisa”,
são válidas. Ambas estão dicionarizadas e, portanto, são admitidas, tanto na
linguagem escrita, quanto na oral. Portanto, você, caríssimo leitor (e mais
especificamente, o Josias Alexandre, que propôs este debate, que torço para que
aconteça aqui no Literário, e não apenas por “tabela”) pode escolher livremente
qual termo deseja empregar. Eu, pelas razões expostas, já fiz minha escolha. Fico
com a designação nobre, que valoriza e enfatiza o talento feminino: POETISA.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Muitos quilômetros já foram discutidos sobre o termo "presidenta", de tal forma que virou piada. Depois de Dilma Rousseff, acredito que uma presidente de qualquer coisa se negará a ser designada de presidenta que já se tornou motivo de galhofa, zombaria e outras mais.E não apenas para ser diferente de você Pedro, voto em "a poeta".
ResponderExcluirPedro, eu também prefiro a forma Poetisa. Não vejo em quê essa forma seria menos digna para uma Cecília Meireles, por exemplo. Divulguei o seu texto em comunidades de literatura e poesia no Face.
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