domingo, 24 de janeiro de 2016

O camponês


* Por Gilberto Nogueira de Oliveira


Nazaré, 22-09-1974


Todos os dias
É sempre a mesma coisa.
Depois de uma noite de insônia,
Mal dormida e desconfortável,
Sem o direito ou liberdade
De acordar depois das quatro,
Levanta-se o camponês
E vai morto de fome,
Pelas matas a fora
Ganhar dinheiro para o patrão,
Enriquecê-lo mais e mais
Até não poder mais.

Ao escurecer ele volta
Triste e quebrado
Do trabalho intenso,
Do trabalho escravo.
Toma um rápido banho frio,
Vai prestar contas ao patrão,
Vai ganhar seu salário de fome
E volta para casa,
Triste e cabisbaixo,
Nada tendo a dizer
E não podendo nada dizer.

Acostumou-se a ficar calado
E esconder sua miséria,
Com vergonha de ser homem,
E vai dormir com fome,
Sem que os outros saibam
Que ele é triste e miserável.
Vai agora a caminho de casa
Vai curtir sua fome.
                                                                                                        
Vai sofrer ao deitar-se
Em sua cama de varas.
O seu corpo de ferro
Está acostumado com aquilo.

Quando a sirene do patrão
Anuncia as cinco horas,
O camponês se levanta.
Nessa maldita manhã
Ele acorda doente,
Não pode ir trabalhar.
O patrão não perdoa.
O camponês piora,
O camponês falece,
Deixando mulher e filhos
Que são expulsos da fazenda.
O patrão não toma conhecimento,
O juiz não toma conhecimento,
O governo não toma conhecimento.
Para o país
Morreu um rato...
E a vida continua.


* Poeta e romancista baiano

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