Um gênio e seu imortal personagem
O personagem Dom Quixote de La Mancha é uma das maiores
criações literárias de todos os tempos. Tanto que, passados mais de 400 anos de
sua criação, permanece mais vivo do que nunca, inclusive na mente de pessoas
que nunca leram uma única linha do livro em que é uma espécie de anti-heroi (na
verdade, não leram nada, de nenhum outro livro), convenhamos, a imensa maioria
mundo afora. Tanto que suas atitudes originaram até um adjetivo, constante em
todos os dicionários (pelo menos nos da língua portuguesa), para classificar “pessoas
que têm intenções e ideais nobres, mas é sonhadora e afastada da realidade”:
quixotesco. Seu inseparável parceiro, o bonachão, gorducho, ingênuo e
atrapalhado seguidor, uma espécie de caricato e ridículo escudeiro, embora
muitíssimo menos popular do que Dom Quixote, no caso, Sancho Pança, também
sobrevive, teimosamente, no imaginário popular.
Já tive a oportunidade de escrever sobre estes personagens,
porém, em texto de pequena extensão e não em meu nome, mas no papel de “ghost
writer”. Foi em 2005, quando do quarto centenário do lançamento da primeira
parte do livro (publicado em duas partes, com dez anos de distância entre uma e
outra) em que a dupla foi apresentada ao público. Na ocasião eu trabalhava em
uma agência de publicidade de minha cidade, Campinas (A Arte Brasil), que
detinha a conta de dezenas de colégios salesianos. O texto, bastante curto, foi
para uma das tantas revistas que editávamos para esses nossos clientes e a “regra”
é que fosse curto, objetivo e direto. Não sei explicar a razão, mas o fato é
que nunca mais escrevi a esse respeito e muito menos em meu próprio nome. Por
que, se o personagem é tão importante? Sei lá! Por esquecimento, talvez. Ou por
ausência de “gancho”. Ou por eventual outro motivo qualquer que nem sei
identificar e explicar.
Bem, devo frisar que fiz várias referências esparsas à
dupla, e muitas vezes, em crônicas e em ensaios, embora não tenha tratado
especificamente dela. Se não escrevi nada sobre os dois personagens em questão,
abordei, muito menos ainda, a figura do seu genial criador, o espanhol Miguel
de Cervantes Saavedra. Neste caso, todavia, estou em ilustres companhias, pois
a imensa maioria dos críticos literários e mestres em Literatura, mundo afora,
mesmo escrevendo fartamente sobre o célebre livro e seu principal protagonista,
pouco citaram quem o escreveu e quem criou essa sublimemente ridícula figura,
que encanta exatamente pelo papel caricato que desempenha. Neste ano, todavia,
proponho-me a corrigir essa incompreensível omissão da minha parte. Pretendo
escrever, e muito, sobre Miguel de Cervantes, mesmo que não seja em comentários
sucessivos e diários, mas provavelmente alternados com outros assuntos
literários de momento.
Não só eu escreverei, e muito, sobre esse escritor genial,
como gente muito mais habilitada e com mais currículo, com maior renome que eu,
certamente, também o fará. Por que farei (na verdade, faremos) isso
especificamente neste ano? Porque em 23 de abril deste 2016 vão se completar
400 anos da sua morte. Ou seja, de quando o mundo ficou privado, de vez, do seu
mágico talento. Esse foi um dos tais sujeitos que, embora geniais, tiveram vidas
tão agitadas, que suas biografias, se não superam suas obras, pelo menos rivalizam
com elas. Cervantes, entre outras coisas, foi refém, e por cinco anos
consecutivos (entre 1575 e 1580), de piratas do Mediterrâneo, na companhia do
irmão Rodrigo, permanecendo cativo na Argélia. Seis anos antes, em 1569, teve
que fugir de Madri, para Roma, por haver ferido um desafeto em um duelo á espada.
Foi soldado e participou da Batalha de Lepanto, contra os turcos, em 1571, oportunidade
em que foi ferido e teve a mão esquerda inutilizada para sempre. E viveu ainda
tantas e tantas e tantas outras peripécias.
E o que tudo isso tem a ver com sua atividade literária?
Nada!!! Como escritor, porém, foi magnífico pioneiro. E que pioneiro! Para
vocês terem uma idéia do quanto estava à frente do seu tempo, basta dizer que
Cervantes foi o precursor do Modernismo, e mais de quatro séculos antes que
esse movimento fosse lançado na Europa. Essa constatação, com as devidas
provas, foi feita por um dos maiores críticos literários do mundo, o
norte-americano Harold Bloom, no site do jornal inglês “The Guardian Books”, em
matéria intitulada “Don Quixote, the first modern novel”. Além de tudo, foi
inovador da língua que utilizou, tanto que, ainda no seu tempo, o castelhano
ficou conhecido como “o idioma de Cervantes”. Estas escassas informações que
lhes trago, no entanto, são meras “pílulas” do que ainda pretendo escrever a
seu respeito, ao longo deste 2016, ou em textos sucessivos (talvez) ou
(provavelmente) alternados com outros assuntos literários de momento. Por
enquanto...
Boa leitura.
O Editor.
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Eu nunca li uma linha de Miguel de Cervantes, mas tenho o livro ali. Com esses 400 anos, quem sabe eu me atreva?
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