Obra atual com mais de 400 anos
O poeta, dramaturgo e ator inglês, William Shakespeare,
cujos 450 anos de nascimento foram celebrados em 2014, é dessas figuras
maiúsculas, cuja obra é intemporal. Em 2016, esse gênio da Literatura mundial
voltará a ser alvo das atenções gerais (embora em tempo algum tenha saído de
cena). Por que? Pelo fato desse ano marcar o quarto centenário da sua morte, em
23 de abril de 1616 (aos 52 anos de idade). A produção literária e, sobretudo,
dramatúrgica de Shakespeare vem atravessando, séculos, dada sua principal
característica (além da inegável qualidade): conserva raro frescor de
atualidade. Não envelhece, como tantas obras de seus contemporâneos, que caíram
no completo esquecimento por não atraírem leitores deste século XXI, pois suas
mensagens nada têm a ver conosco e com o nosso tempo. São todas “datadas”.
Os poemas de Shakespeare, complexíssimos e profundos (muitos
esquecem que ele foi magnífico poeta), desafiam os maiores eruditos de
Literatura mundo afora, mais de 400 anos após serem compostos. Integram currículos
de aulas de literatura de praticamente todas as escolas de países em que a
língua inglesa é a falada (e estudada), o que lhes assegura, digamos,
“imortalidade”. Transitam, com desenvoltura,
entre gerações, passando de pai para filho. Suas 37 peças seguem sendo
encenadas em todas as partes em que a arte dramática é cultuada, quer por
artistas amadores, em improvisados teatros escolares, quer pelos mais renomados
e reconhecidos atores mundiais
Muitas de suas histórias (desconfio que todas) foram
apropriadas por Hollywood, e transformadas em filmes de grande sucesso de
crítica e de bilheteria. Algumas, como “Romeu e Julieta”, “Otelo”, “Hamlet” e
“Sonhos de uma noite de verão”, ganharam várias versões cinematográficas. Muitas
das observações que fez, sobre a vida e os costumes (daqueles imutáveis por constituírem a
essência humana), colocados na boca de inesquecíveis personagens, são citados,
amiúde, por escritores de várias tendências, gerações e nacionalidades, por
serem pérolas de sabedoria e de bom senso.
Posso citar como exemplo esta observação, na peça “Hamlet”: “Finge
uma virtude, se não a tens. Esse monstro, o costume, que devora todos os
sentimentos, sendo um demônio quanto aos hábitos, é um anjo, porque para
executar ações belas e boas nos dá, do mesmo modo, um hábito de frade ou uma
libré, que vestimos sem dificuldade”. Ou esta, de “Rei Lear”: “Ao peso deste
triste tempo devemos obedecer; falar o que sentimos, não o que devemos dizer”.
Ou esta outra, de “O rapto de Lucrécia”: “A arte dá vida ao que está morto”. Ou
então esta, de “Sonhos de uma noite de verão”: “O louco, o enamorado e o poeta
são filhos da imaginação. Um vê mais demônios do que aqueles que o inferno pode
conter: é o louco. O apaixonado, igualmente frenético, vê a beleza de Helena no
frontispício egípcio; o olhar do poeta, esse animado por um belo delírio,
transporta o céu para a Terra e a Terra para o céu”.
Quem foi esse homem, cuja genialidade o tempo não logrou
ofuscar e, pelo contrário, ressaltou, mais e mais, com clareza e nitidez? Tratarei dele por bom
tempo, atendendo solicitações de alguns leitores. Não pretendo, todavia,
escrever mais uma biografia de Shakespeare, porquanto já foram escritas
milhares e esta imensa quantidade, em vez de esclarecer, de lançar luz sobre
quem, de fato, ele foi, só conseguiu semear mais dúvidas a seu respeito. Há
quem questione se até mesmo ele existiu! É o cúmulo do ceticismo! Alguns
levantaram a hipótese (para mim absurda e sensacionalista) de que Shakespeare
poderia não passar de pseudônimo adotado por algum nobre inglês ligado à
realeza. Houve, até, quem insinuasse que sua magnífica obra poderia ter sido
escrita pela rainha Elizabeth I.Tolice! Pura tolice de quem quer aparecer às
custas de um gênio.
O que intriga, sobretudo, especialistas em teatro de várias
partes do mundo, é sua inegável “atualidade”. A professora de Língua Inglesa e
Literatura da Universidade de Oxford, Laurie Maguire, especula, em seu livro
“Where there is a will, there is a way” (Onde há uma vontade, há um caminho”,
que creio não haver sido lançado no Brasil), que o permanente interesse pela
obra de Shakespeare se deve ao fato dele refletir sobre questões universais que
afligem a sociedade ainda hoje. Para ela, esse gênio, de mais de quatro séculos
atrás, é “uma espécie de guru para a geração contemporânea”. De fato, é! A
certa altura, Laurie observa: “A resposta para a atualidade de Shakespeare é
uma pergunta: por que ainda estamos encenando tanto o autor? O teatro não
mostra o que não é relevante para as pessoas. Se estão levando Shakespeare aos
palcos é porque ele continua a falar conosco até hoje”. E não continua?!!!
Boa leitura.
O Editor.
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Um autor intrigante. O homem mudou, a civilização mudou, mas os sentimentos, emoções, qualidades e defeitos humanos ainda são os mesmos.
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