sábado, 30 de maio de 2015

Eu não entendo as moças do RH


* Por André Luís Rabello


Como a maioria da população brasileira, não tenho pai rico, nem aquele avô cheio da grana. Sempre ralei muito. Até aí, tudo bem. O complicado é a inexplicável entrevista de emprego. Alguns lugares pedem experiência, mesmo sabendo que o desamparado sujeito tem apenas 18 anos. Às vezes me pergunto se algum dia eu entenderei a tal moça do RH, ou as psicólogas empresariais que fazem a, vamos dizer, triagem de pessoas.

Eu, particularmente, já participei de várias. Lembro da primeira, quando um cara foi limado do emprego porque era gordinho, uma bola. Quando o coitado saiu, a psicóloga rogou. “Olha, eu cortei o fulano porque ele é gordo. E pessoas gordas não gostam de trabalhar”. Pensei com meus botões: “Será verdade?” E o Jô Soares, um verdadeiro workaholic, ele não é gordo? E o publicitário Nizam Guanaes? Será que aquela fórmula 10% inspiração e 90% transpiração é balela de marketeiro? Mas como nunca fui rico, continuei minha busca.

Numa outra ocasião a moça do RH me fez um monte de perguntas. “Você gosta de funk?” “Você gosta de churrasco?” “Você bebe cerveja?” “Assiste ao Big Brother Brasil?” “Lê a revista Caras?” Lembro que fiquei assustado. Mas respondi que sim, parafraseando a propaganda ‘eu amo tudo isso’. Depois da resposta, ela me cortou do processo. Perguntei o motivo a ela. “Isto tudo é futilidade”, disse uma sorridente moça do RH, com ares de Lair Ribeiro.

Não respondi, mas, ao ir à minha casa, de ônibus, um 457 lotado, pensei em voz alta: “Ora, o funk faz parte da minha cultura, seja bom ou ruim. Quem é nascido e criado no Rio escuta o samba e o funk desde criança. Não tem como escapar. Sobre assistir ao BBB, muitos podem reclamar. Mas este tipo de programa serve, também, para avaliar comportamentos. Os vencedores já se declararam pobres ou caipiras. Teve um que ganhou por ter uma aparência bruta, mas um coração mole, o outro por assumir sua homossexualidade. E em relação a ‘Caras’ ou a beber uma cervejinha...bem, essa eu não entendi. Pode ser futilidade, mas repararam que o mundo capitalista em que vivemos necessita desse tipo de bebida? Desse tipo de leitura?” Quando surgem figuras como Xuxa ou Kelly Key, pode-se observar que o mercado se movimenta. Rádios, revistas, jornais, enfim, todas as mídias criam novas tendências, novas culturas, vendem seus produtos, trabalhadores são contratados, debates são realizados, ídolos são construídos. O capitalismo é isso.

Eu sei que a moça do RH não sabe disso, talvez até saiba, não sei. Mas eu acho que ela queria que eu respondesse que não, que eu não gostava nadinha daquilo tudo. Eu acho que ela queria contratar um mentiroso. Agora vou embora...Nossa, o que é aquilo?! A moça do RH bebendo uma cervejinha e lendo ‘Chiques e Famosos’!!! Eu não entendo essas moças do RH.

·        Jornalista, pós-graduado em comunicação empresarial pela Candido Mendes. Foi assessor de comunicação da Bolsa de Alimentos do Rio de Janeiro, redator da revista BGA News e Supermercado News, especializados em agronegócio.



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