O canto do último encontro
* Por
Anna Akhmatova
Sentia-me sem forças, gelada, 
mas os meus passos eram leves. 
Na mão direita tinha a luva 
da mão esquerda, ao partir. 
Eram realmente tantos degraus? 
Eu sabia que eram só três! 
O outono abraçava os plátanos 
e murmurava:"Morre comigo!" 
É o meu destino 
que me enganasse e me traísse. 
Eu respondi: "Oh, meu amor! 
Eu também...Contigo morrerei..." 
Este é o canto do último encontro. 
Olhei para a casa escura, 
Só no meu quarto, amarelo e indiferente, 
ardia o fogo das velas. 
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Vinte e um. Segunda- feira. É noite! 
No escuro uns contornos de cidade. 
Algum vagabundo escreveu 
que na terra pode haver amor. 
E por tédio ou preguiça, 
todos acreditaram e assim vivem: 
esperam encontros, temem adeus 
e cantam canções de amor. 
Mas a outros revela-se o enigma, 
e o silêncio repousará sobre eles... 
Descobri isto por acaso 
e desde esse momento sinto-me mal. 
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Ouvi uma voz. Falava confiante, 
Murmurando: "Vem, 
deixa a Rússia para sempre. 
Eu limpo o sangue das tuas mãos, 
do coração arranco o negro pejo, 
com outro nome cubro 
a injúria e a dor da derrota." 
Tapei os ouvidos com as mãos, 
para que essas palavras indignas 
não profanassem o meu espírito aflito. 
(Poesia traduzida por
Manuel de Seabra, livro “Poetas Russos”)
*
Poetisa russa
 



 
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