Espelho das horas
* Por Pablo Uchoa
O
relógio de mesa
Prostrado
sobre a cabeceira da cômoda
me
incomodava
-
Você devia trocar as pilhas do seu relógio -
Ela
me alertou certa vez:
-
Para que serve relógio sem pilha?
E
fez o sinal da cruz
Lancei-lhe
um olhar piedoso:
Ele
- murcho
Esquecido
no desbotar da inércia e do corriqueiro quarto
a
poeira das prateleiras a ponto de adormecer-se sobre ele
Finge
vencer o tempo, mas os ponteiros cabisbaixos
imóveis
entre o 2 e o 3, o 10 e o 11
(o
tempo parou às 2h53)
acusam
a debilidade franzina do tique-taque ausente
Tempo
contado sem encanto nem viço
Retrato
fiel do passa-horas estanque da minha vida
(*) Cronista e editor do site www.narizdecera.jor.br. Vive atualmente
na Inglaterra, dedicando-se a pesquisas no Institute for the Studies of the
Americas, da Universidade de Londres. Autor do livro-reportagem “Venezuela: A
Encruzilhada de Hugo Chávez” (Ed. Globo, 2003), menção honrosa no prêmio
Vladimir Herzog 2004.
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