sexta-feira, 22 de maio de 2015

As confissões


* Por Rodrigo Ramazzini

  
Finalmente naquela sexta-feira, os três irmãos, Toninho, José Arthur e o Marlon, conseguiram “arrastar” o João Paulo para a mesa de um bar. O jovem João Paulo era um cara que despertava muitas curiosidades na turma. Tímido, andava sempre quieto, de cabeça baixa, mal falava com os colegas durante a jornada de trabalho. Trabalhavam juntos há três anos, mas ninguém sabia nada sobre a sua vida. Vivia no seu “mundinho”, como diziam, o que gerava uma série de histórias ao seu respeito. Aparentemente, não tinha vida social, não praticava esportes e era solteiro. Bom! Exatamente neste ponto que a curiosidade do pessoal se aguçava.

Depois de muitas cervejas e as conversas rodarem sobre o trabalho, o chefe e os times de futebol do coração, o assunto mulher entrou em pauta. Aqui começava a ser executado o plano elaborado pela turma para sanar as suas dúvidas, digamos assim. Iniciando pelo José Arthur, para criar o ambiente:
- Aproxima! Aproxima! Vou fazer uma confissão pra vocês...
- Fala, Arthur.
- Sabe aquela negrinha da feira quase em frente ao museu municipal?
- A que vende tomate?
- Não! A outra... Tô pegando!
- Capaz!
- Sério! Fui fazer compras lá esses dias, ela se riu toda para o meu lado, não resisti. Fomos para o motel no início da semana. Que potranca!
- Só não deixa a patroa descobrir! Se não...
- Vira essa boca pra lá! Vou até bater na madeira. Toc toc toc...
- Eu que quase entrei em uma fria essa semana. Sabem aquele meu “bichinho” da Petshop, que eu traço há tempos?
- Claro!
- Arãn!
- Pegou e me ligou toda dengosa, querendo me ver... E eu com a Neide, que tem um ouvido que vou contar pra vocês. Estou dando explicação até agora...
- Vai com calma, Toninho! Ela se amansa... Não é a primeira vez!

Ah! Ah! Ah!
- Eu que ando tranqüilo! Continuo com a “nega véia” e mais duas...

 Ah! Ah! Ah!
- Você é demais, Marlon! Um brinde!

Ah! Ah! Ah!
Após as gargalhadas, silêncio. Então, Toninho parte para a fase final do plano, e questiona:
- E contigo, João Paulo, como andam as namoradas?

Novo silêncio. Pela primeira vez João vai “abrir a boca” para falar sobre si e, de quebra, já sentindo os efeitos da cerveja, confessa:
- Eu... Eu “pego” a caixa do banco que fica em frente à empresa! A Elisân...

Pronto! Antes que o João terminasse a frase, a gritaria tomou conta da mesa. Principalmente o Marlon. O “ganhador”.
- Eu falei! Eu falei pra vocês que ele não era veado! Pode passar a grana... Cenzinho de cada um. Aposta é aposta e tem que pagar.
- Está certo Marlon, ganhou... Apostou bem. Toma!

Toninho baixou a cabeça e quieto, balançava-a de um lado ao outro negativamente. José Arthur ainda tentou justificar-se com João Paulo.
- João, não que eu desconfiasse de alguma coisa, mas...

Então, João Paulo, com a voz firme, exige:
- Me dêem o dinheiro das apostas... Se não eu conto tudo!
- Por que motivo? Ainda questionou o Marlon.

Antes que João respondesse, Toninho interferiu:
- Vamos dar o dinheiro a ele. Foi um erro de nossa parte fazermos isso com o garoto...
Marlon ainda insistiu:
- Ficou louco, Toninho! O dinheiro é meu. Eu ganhei a aposta...

E perdendo a paciência, Toninho replicou:
- Seu desgraçado! Não percebeu ainda que ele pode nos entregar? A Elisângela do banco é a irmã que vocês chamam de “solteirona” da Neide, minha mulher!

* Jornalista e cronista



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