A moça francesa e o moço de máscaras
* Por
Assionara Souza
Compareceram às três
da tarde. Deram sete batidas sobre a madeira (como sempre foi feito). No
momento em que a primeira foi desferida, as demais começaram a cair sobre o
solo fértil do coração. Pés sobre o chão. Passos. Mãos girando chaves. Uns e
uns olhos. Sentiram-se um tanto febril. O em redor do mundo é gigante e aviões
cruzam o céu e por trás das paredes há conversas concretas sobre situações
reais que não subestimam a intimidade do silêncio. O dentro do estômago é
estreito e as pálpebras se fecham
lentamente. Desaprender é um esforço imenso. Abriu a boca e, lá dentro, no
fundo da garganta, o céu.
Ele avançou com cabeça
e tudo pela gruta estreita da garganta. Há via pólipos brancos recém nascidos.
E pela traqueia abaixo foi um abismo até cair fofamente sobre a vermelhidão. O
tempo não mais lhes pertence. Alonga-se demais e é possível perceber que sob a
epiderme repousa outros planos para o final da tarde e para a madrugada e de
manhã quando amanhecer.
- Não posso te ver
assim triste. Sinto vontade de matar você quando vejo que está triste. Aliás,
sua tristeza me mata tão devagarinho que me apago por dentro como um cigarro
que cai na poça d´agua fria. Mas disfarço. E disfarçar é muito mais intenso do
que expulsar você da frente do meu corpo e de toda reação que possa se formar a
partir do momento em que percebo que sua presença é provisória. Que a sua
presença não tem mais aquele desejo de mergulhar lá dentro da superfície bruta
do tempo e esquecer os movimentos e esquecer e esquecer.
- Sua mentira é uma
tinta fresca. Trancar por dentro e por fora. Trancar e se cobrir. Trancar e
respirar bem devagar. Trancar e lembrar da história do pássaro que esbofeteou o
vidro e caiu morto. Mas é cedo ainda.
*
Escritora
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