domingo, 8 de março de 2015

Não se apequene


* Por Ruth Barros


Um dos melhores conselhos que Anabel ouviu com estes ouvidinhos foi dado pelo falecido ministro Sérgio Motta ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Não se apequene”, costumava dizer o Serjão ao FHC, que nem sempre seguia o conselho, diga-se de passagem.

Mas Anabel quer lembrar essa máxima para consolar as amigas que estão tristinhas nesse fim gelado de inverno, principalmente as dispensadas pelos namorados. Não que algumas delas não merecessem, mas francamente rapazes, vocês podiam agir com um pouco mais de elegância. Rememorando casos recentes e nem tão recentes assim, cheguei à conclusão que homem é useiro e vezeiro de um recurso de advogados pouco criteriosos, que é desqualificar o outro lado. É mais ou menos aquela história: o marido matou a mulher, mas também, ela era uma galinha – e vai por aí afora.

Vou dar um exemplo concreto, acontecido nos últimos 15 dias. Tenho uma amiga linda, talentosa, bem sucedida, 1,75 m, olhos verdes, um tipo que causa ciúme até em mulher de presidente (atenção, não é na dona Ruth Cardoso). Pois essa moça arrumou um agro-boy, um fazendeiro uns dez anos mais moço. Tudo ia bem no rock rural até que o tipo resolveu dar o bilhete azul com a seguinte nota de rodapé: ela gostava demais de transar. Minha amiga – ok, é verdade, ela é realmente chegada a sexo – ficou arrasada. Bebeu, passou mal, ficou inconsolável, até que resolvi chamá-la para um papo sério. Falei:

-          Você é bonita, bacana e nenhuma tarada, pelo que me consta. Imagina um cara mais novo, que mora na natureza, quer dizer, deveria ter tudo a favor, vir com um papo desses? Tenha dó, desencana dele, que deve gostar pouco de mulher ou ser pouco capaz. Não se apequene!

Com a auto-estima um pouco mais em ordem, ela voltou à batalha. Logo arrumou um também mais novo, mas pelo menos até agora, na mesma onda, no mesmo ritmo.

Menos sorte teve outra que caiu no velho e sempre eficiente “vamos dar um tempo”. Atenção garotas, gravem em seus corações e mentes: dar um tempo não existe no universo masculino. Isso quer dizer (pode usar a imaginação): que michou, que ele não quer te machucar, que ele tem medo de cenas de rompimento, que já tem outra ou outras, que vai sair galinhando por aí e se for pego no pulo, sem direito a reclamação – afinal de contas, vocês estão dando um tempo, certo?

Voltando a minha amiga vítima desse lugar comum, ela montou outro apartamento no qual agasalhou o marido-dando-um-tempo sempre que ele quis e transaram mal e porcamente durante esse período – ele estava com problemas de saúde e o remédio que tomava o deixava na mesma disposição que o agro-boy. Ela não gostava muito da situação, mas mantinha. A linda me confessava, muito na intimidade, que morria de medo de ficar sozinha. Resumindo a ópera, o sujeito casou e mudou enquanto dava um tempo –  literalmente, ele sumiu do apartamento, mudando-se para a casa de uma coleguinha de trabalho uns 25 anos mais nova.  

Quase dois anos de vida jogados fora, avalia minha amiga, que ficou casada com esse sujeito 11 anos e não recebeu um telefonema de comunicação da mudança. Para piorar as coisas, ficou sabendo que a viagem para a Europa a qual vivia convidando – ele enrolava naquele estilo, “vamos sair em nova lua de mel e tudo se acerta entre a gente” – fora feita com a coleguinha. Não morram de pena. Minha amiga deixou de se apequenar, encarou firme a ginástica e continua como sempre ganhando mais dinheiro que o bofe (que além de tudo é pão duro). Está linda, loura, abonada e cheia de fãs, alguns dos quais descolados pela Internet.

Tenho uma companheira de trabalho gracinha que diz evitar momentos tão tristes antecipando-se a eles. Quando ela sente que o príncipe quer cair fora ela rompe primeiro. Funciona? Que nada.

-          Acabo sempre com a sensação de coisa mal resolvida, de não ter pago para ver, de tudo ser apenas paranóia, de não conseguir encarar minha vida – diz desconsolada.


Anabel Serranegra acha que ser chutado é dor que dói demais, mas passa



* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.




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