Não se apequene
* Por
Ruth Barros
Um dos melhores conselhos que Anabel
ouviu com estes ouvidinhos foi dado pelo falecido ministro Sérgio Motta ao
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Não se apequene”, costumava dizer o
Serjão ao FHC, que nem sempre seguia o conselho, diga-se de passagem.
Mas Anabel quer lembrar essa máxima
para consolar as amigas que estão tristinhas nesse fim gelado de inverno,
principalmente as dispensadas pelos namorados. Não que algumas delas não
merecessem, mas francamente rapazes, vocês podiam agir com um pouco mais de
elegância. Rememorando casos recentes e nem tão recentes assim, cheguei à
conclusão que homem é useiro e vezeiro de um recurso de advogados pouco
criteriosos, que é desqualificar o outro lado. É mais ou menos aquela história:
o marido matou a mulher, mas também, ela era uma galinha – e vai por aí afora.
Vou dar um exemplo concreto, acontecido
nos últimos 15 dias. Tenho uma amiga linda, talentosa, bem sucedida, 1,75 m , olhos verdes, um
tipo que causa ciúme até em mulher de presidente (atenção, não é na dona Ruth
Cardoso). Pois essa moça arrumou um agro-boy, um fazendeiro uns dez anos mais
moço. Tudo ia bem no rock rural até que o tipo resolveu dar o bilhete azul com
a seguinte nota de rodapé: ela gostava demais de transar. Minha amiga – ok, é
verdade, ela é realmente chegada a sexo – ficou arrasada. Bebeu, passou mal,
ficou inconsolável, até que resolvi chamá-la para um papo sério. Falei:
-
Você é bonita, bacana e nenhuma tarada, pelo que me consta. Imagina um cara
mais novo, que mora na natureza, quer dizer, deveria ter tudo a favor, vir com
um papo desses? Tenha dó, desencana dele, que deve gostar pouco de mulher ou
ser pouco capaz. Não se apequene!
Com a auto-estima um pouco mais em ordem,
ela voltou à batalha. Logo arrumou um também mais novo, mas pelo menos até
agora, na mesma onda, no mesmo ritmo.
Menos sorte teve outra que caiu no
velho e sempre eficiente “vamos dar um tempo”. Atenção garotas, gravem em seus
corações e mentes: dar um tempo não existe no universo masculino. Isso quer
dizer (pode usar a imaginação): que michou, que ele não quer te machucar, que
ele tem medo de cenas de rompimento, que já tem outra ou outras, que vai sair
galinhando por aí e se for pego no pulo, sem direito a reclamação – afinal de
contas, vocês estão dando um tempo, certo?
Voltando a minha amiga vítima desse
lugar comum, ela montou outro apartamento no qual agasalhou o
marido-dando-um-tempo sempre que ele quis e transaram mal e porcamente durante
esse período – ele estava com problemas de saúde e o remédio que tomava o
deixava na mesma disposição que o agro-boy. Ela não gostava muito da situação,
mas mantinha. A linda me confessava, muito na intimidade, que morria de medo de
ficar sozinha. Resumindo a ópera, o sujeito casou e mudou enquanto dava um
tempo – literalmente, ele sumiu do
apartamento, mudando-se para a casa de uma coleguinha de trabalho uns 25 anos
mais nova.
Quase
dois anos de vida jogados fora, avalia minha amiga, que ficou casada com esse
sujeito 11 anos e não recebeu um telefonema de comunicação da mudança. Para
piorar as coisas, ficou sabendo que a viagem para a Europa a qual vivia
convidando – ele enrolava naquele estilo, “vamos sair em nova lua de mel e tudo
se acerta entre a gente” – fora feita com a coleguinha. Não morram de pena.
Minha amiga deixou de se apequenar, encarou firme a ginástica e continua como
sempre ganhando mais dinheiro que o bofe (que além de tudo é pão duro). Está
linda, loura, abonada e cheia de fãs, alguns dos quais descolados pela
Internet.
Tenho uma companheira de trabalho
gracinha que diz evitar momentos tão tristes antecipando-se a eles. Quando ela
sente que o príncipe quer cair fora ela rompe primeiro. Funciona? Que nada.
-
Acabo sempre com a sensação de coisa mal resolvida, de não ter pago para ver,
de tudo ser apenas paranóia, de não conseguir encarar minha vida – diz
desconsolada.
Anabel Serranegra acha que ser chutado é dor
que dói demais, mas passa
* Maria Ruth de Moraes e Barros,
formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como
correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De
volta ao Brasil trabalhou em
São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e
Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da
coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash,
com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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