Descarte programado
* Por
Marcelo Sguassábia
"Espanhol cria
lâmpada que não queima e sofre ameaça de morte
É
possível fazer produtos que durem a vida toda? Benito Muros, da SOP (Sem
Obsolescência Programada), diz que é possível. Por isso está ameaçado de morte.
O conceito de obsolescência programada surgiu entre 1920 e 1930 com a intenção
de criar um novo modelo de mercado, que visava a fabricação de produtos com
curta durabilidade de maneira premeditada, obrigando os consumidores a adquirir
novos produtos de forma acelerada e sem uma necessidade real. A lâmpada criada
por Benito tem durabilidade prevista de mais de 100 anos". (Fonte:
mundogump.com.br)
Materiais baratos e de
baixa qualidade irão produzir lâmpadas que duram muito menos que as mil e cem
horas previstas para os modelos incandescentes.
Lâmpadas que equiparão
faróis de eficácia duvidosa em carros projetados para sofrerem pane, amassarem
fácil, enferrujarem logo e moverem a
tentacular engrenagem dos serviços de reparo e de reposição.
Carros inseguros
dirigidos por motoristas que no trânsito pilotam telefones celulares com
baterias programadas para deixá-los na mão quando mais precisarem.
Baterias que eles
nunca irão trocar, pois valerá infinitamente mais a pena substituir os
celulares ao invés delas.
Capas protetoras de
celular feitas de silicone rigorosamente testado para ressecar e rachar em um
mês e meio, quando muito.
Com capa de silicone e
tudo, cada aparelho jogado fora irá fomentar uma cadeia de centenas de
fornecedores que continuarão abastecendo fábricas prontas a produzir celulares
mais modernos, mais rápidos, mais leves e mais propensos a sucatearem o quanto
antes.
Sucata que, reciclada,
voltará à ciranda do consumo na forma de outros bens mal produzidos, embalados
em plástico-bolha cujas bolhas são mais frágeis que bolinhas de sabão.
Sabão que fará a roupa
desbotar irremediavelmente após a terceira lavada, e a tinta solta na máquina
manchará outras roupas que também serão perdidas e virarão panos de prato.
Panos que enxugarão
louças da loja de um e noventa e nove, lascadas precocemente e trincadas pelo
calor do microondas comprado ontem via web.
Microondas que ontem
mesmo foi reembalado no plástico-bolha que nada protege e levado às pressas
para a assistência técnica, porque apresentou defeito no seletor digital.
Digitais que não serão
reconhecidas pelo leitor biométrico do caixa eletrônico, ensebado pela gordura
deixada por milhares de dedos de milhares de pessoas que buscam milhares de
notas para pagarem as milhares de prestações pela compra de milhares de
inutilidades.
Pessoas que precisam
ter sua expectativa de vida reduzida de maneira drástica, já que a alta
longevidade elevará perigosamente os índices demográficos, congestionará os
hospitais e comprometerá o sistema previdenciário, que não terá como arcar com
uma sobrevida maior que a prevista pelo Ministério da Saúde.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Um tapa na cara do consumismo obrigatório, como também do não obrigatório. Boas falas, entre curiosas e engraçadas, Marcelo.
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