O
prostíbulo
* Por Rodrigo
Ramazzini
Oliveira parou o carro em frente ao
prédio e conferiu o nome nos letreiros luminosos. Estava no lugar correto.
Desceu do veículo, cumprimentou o segurança que estava parado na porta e
ingressou no local. Uma única luz néon azul iluminava o abafado ambiente. Era
um recinto pequeno, com algumas mesas distribuídas. A música saia de duas
caixas de som que estavam no chão. Havia, ainda, à direita, uma copa, um
banheiro e uma porta entreaberta, que levava para um longo e fino corredor.
Dois casais dançavam no centro do
salão. No canto esquerdo, um alemão, sem camisa, ria e tomava cerveja. enquanto
uma mulata lhe fazia um strip-tease. Ainda neste canto, uma loira, de cabelos
lisos, já sem as vestes superiores, sentada no colo de um outro homem,
beijava-o ardentemente. À frente, um casal apenas conversava, enquanto as
outras meninas “disponíveis” sentavam-se alinhadas para que Oliveira escolhesse
uma, como se fossem produtos.
Oliveira visualizou as meninas e
escolheu a que lhe pareceu ser a mais nova. Uma moreninha de cabelos cacheados
e olhos verdes. Vestia uma saia preta e uma blusa branca, com os botões
superiores abertos, deixando à mostra os pequenos seios. Chamava-se Fabrícia e
era de uma cidade vizinha, segundo depois contou.
Sentaram-se, lado a lado, e feitas as
apresentações, ela foi buscar uma cerveja. A conversa começou a fluir
naturalmente. Oliveira, curioso por natureza, interessou-se pela história de
vida de Fabrícia e “tocou-se” a questioná-la. Ela, já sentindo as primeiras
conseqüências do álcool, foi ficando desinibida, e narrando cada novo episódio
com mais detalhes.
Fazia dois meses que estava
“trabalhando” no lugar. Fora trazida por uma amiga. Quando perguntada por
Oliveira o motivo, na primeira vez respondeu: “Por curiosidade!” Mas depois,
com a intimidade aumentada, abriu o jogo. Era a mais velha de um total de
quatros filhos.
O pai trabalhava colhendo frutas em uma
fazenda. Ganhava pouco mais de um salário-mínimo, o que lhes proporcionava uma
vida difícil, visto que a mãe não trabalhava. Entrou no ramo para ganhar o seu
próprio dinheiro. Havia procurado emprego em locais sérios, como classificou,
mas não achara. Sonhava em se vestir como as atrizes da televisão, com roupas
da moda, de grife, e freqüentar os lugares mais badalados. Queria ser modelo ou
atriz. Repetia: “Quero ser famosa. Aparecer na TV!”
O tomar cerveja acontecia na velocidade
do bate-papo. Entre os vários copos, e um assunto e outro, a confiança de
Fabrícia em Oliveira foi aumentando. Oliveira julgou, então, que poderia
avançar nos seus questionamentos e atos. Pegou pela primeira vez na mão de
Fabrícia, sentindo o frescor de sua pele nova. Ela sorriu e beijou-lhe a face
como retorno pela carícia.
Oliveira perguntou-lhe: “Quanto é o
programa?” Para sua surpresa, Fabrícia esquivou-se. Respondeu que não fazia
programa, que apenas acompanhava os clientes enquanto eles tomavam cerveja, e
isso lhe proporcionava ganhar um valor em cima de cada unidade ingerida.
Oliveira não se convenceu. Trocou de assunto momentaneamente e deixou-a tomar
mais alguns goles de cerveja.
Decorrido algum tempo, sentindo-a mais
desinibida e confiante, ele retornou: “Com quantos homens você já transou por
dinheiro?” Ela, caindo em contradição, replicou: “Desde que comecei aqui, uns
oito, eu acho”. “Ah é!”, exclamou Oliveira, soerguendo as sobrancelhas.
Fabrícia, começando a “enrolar a língua”, tarifa: “Cobro R$ 150,00 por programa”.
Dito o valor, Oliveira sentou-se mais
próximo de Fabrícia, e elogiou-lhe a beleza física, passando-lhe a mão no
cabelo. “Você é tão linda e nova, não deveria estar neste local”. Fabrícia
exprimiu um “pois é!”, baixando a cabeça. “Quantos anos você tem?”, continuou
Oliveira. Ela assustou-se com a pergunta, e “saltou”, afirmando: “Dezoito!
Dezoito completos!” Ele, erguendo as mãos, pediu calma, mas duvidou. “Calma,
Calma. Desculpa, mas você não tem dezoito... Ah, não tem mesmo!”.
“Quer ver a minha carteira de
identidade?”, Fabrícia rebateu, pensando que o ameaçar de trazer um documento
confirmaria a sua fala. Mas não, Oliveira pediu: “Deixa-me ver então?” Fabrícia
silenciou por um momento, olhou para os lados e cochichou-lhe: “Na verdade, na
verdade eu tenho quinze, mas é que dono do estabelecimento pede para nós
falarmos que temos dezoito, para não dar problema”.
Neste instante, o telefone de Oliveira
tocou. Ele pediu silencio a Fabrícia, apesar da música do ambiente. Atentou à
ligação e, rapidamente, falou: “Está confirmado!” E desligou. Fabrícia,
curiosamente, questionou: “Quem era?” Oliveira levantou-se, pegou-a pela mão, e
respondeu: “Vamos, acabou!”
Um minuto depois, a Polícia estava no
local para finalizar a operação...
* Jornalista e cronista
Nenhum comentário:
Postar um comentário