Ele confundiu a todos
* Por
Alexandre Vicente
Foi no fim do
Carnaval, para aqueles que pensam que o ano começa na segunda-feira posterior
as Cinzas de Momo. Estava sentado aguardando o início do espetáculo, quando
algumas senhoras de um passado remoto me chamaram a atenção. Involuntariamente,
essas eram parte do todo. Criadoras do espetáculo que me emocionaria e que de
alguma forma eu também o era.
Luzes mornas apagadas
e o último sinal. Segundos até que fez-se o colorido luminoso e a música encheu
o teatro. O impacto sonoro nos remeteu ao passado. Cores, dança e um sorriso que me arrebatou.
Fixou-se. Meus olhos esforçaram-se para captar todos os movimentos e rostos
caricatos. Expressões que me embalaram num sonho de voltar no tempo. Como se
possível fosse mesmo voltar no tempo. Não em qualquer tempo, mas naquele
momento exato em que nascia o artista, ou melhor, resgatávamos quem nunca se
foi. Sim, porque alguns nunca se vão.
A essa altura tinha a
certeza de quem era ela. A senhorinha de cabelos lisos e prateados, com a
memória subvertida pelo tempo, dizia não lembrar daquelas coisas. As amigas
emocionadas talvez imaginassem que fosse melhor assim. A lembrança poderia ferir. Como se a dor
pudesse ser tão grande que o cérebro inibisse aquela porção. A mais doce porção
de sua vida.
Mas ninguém manda no
amor e quem foi dono e foi servo de um coração, não tem privilégios. Foi necessário
apenas um click. Um segundo para que ela o reconhecesse na perfeição da atuação
de seu cavalo. Sim. Era ele quem estava ali. Não só para Florinda, que agora
vertia lágrimas pelo seu Abelardo. Estava para todos nós. O Velho Guerreiro
clamando do palco da vida:
– Terezinha!!!!!!
Ovacionado por uma
plateia emocionada:
– U uuuuuu!!!
* Escritor
carioca
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