quarta-feira, 25 de março de 2015

Ele confundiu a todos


* Por Alexandre Vicente


Foi no fim do Carnaval, para aqueles que pensam que o ano começa na segunda-feira posterior as Cinzas de Momo. Estava sentado aguardando o início do espetáculo, quando algumas senhoras de um passado remoto me chamaram a atenção. Involuntariamente, essas eram parte do todo. Criadoras do espetáculo que me emocionaria e que de alguma forma eu também o era.

Luzes mornas apagadas e o último sinal. Segundos até que fez-se o colorido luminoso e a música encheu o teatro. O impacto sonoro nos remeteu ao passado.  Cores, dança e um sorriso que me arrebatou. Fixou-se. Meus olhos esforçaram-se para captar todos os movimentos e rostos caricatos. Expressões que me embalaram num sonho de voltar no tempo. Como se possível fosse mesmo voltar no tempo. Não em qualquer tempo, mas naquele momento exato em que nascia o artista, ou melhor, resgatávamos quem nunca se foi. Sim, porque alguns nunca se vão.

A essa altura tinha a certeza de quem era ela. A senhorinha de cabelos lisos e prateados, com a memória subvertida pelo tempo, dizia não lembrar daquelas coisas. As amigas emocionadas talvez imaginassem que fosse melhor assim.  A lembrança poderia ferir. Como se a dor pudesse ser tão grande que o cérebro inibisse aquela porção. A mais doce porção de sua vida.

Mas ninguém manda no amor e quem foi dono e foi servo de um coração, não tem privilégios. Foi necessário apenas um click. Um segundo para que ela o reconhecesse na perfeição da atuação de seu cavalo. Sim. Era ele quem estava ali. Não só para Florinda, que agora vertia lágrimas pelo seu Abelardo. Estava para todos nós. O Velho Guerreiro clamando do palco da vida:
– Terezinha!!!!!!

Ovacionado por uma plateia emocionada:
– U uuuuuu!!!



* Escritor carioca

Nenhum comentário:

Postar um comentário