terça-feira, 25 de junho de 2013

Um conto moderninho

* Por Evelyne Furtado

Bea tinha uns quilinhos a mais. Felipe usava óculos de grau. Bea e Felipe se davam muito bem. Falavam horas sobre músicas, filmes e livros. Até faziam poesia.Diria mesmo que se amavam. Com lentes grossas e abraços quentinhos.

Papai deu um presente inesperado para Bea: uma lipo para tirar seus pneuzinhos. Bea remodelou a silhueta e se transformou num cisnezinho. Então a menina mais linda namorava Felipe até ser notada por Mauricinho, que voltou olhos e lábia para a gatinha.
 
Bea resistiu, mas só um pouquinho. Afinal, Maurício, segundo as amigas, era o maior gatinho. Felipe prendeu o choro. Amarrou o bode. Quis se matar, explodir o mundo.
- A culpa é do capital! - berrava Felipe no quarto, escondidinho,  até que mamãe lhe falou na cirurgia. E Felipe se despediu da miopia.


Seus lindos olhos foram vistos por Maria, menina antenada, autora de um blog de sucesso onde falava de moda para outras meninas. Felipe, que nunca pensou em agradar alguém como Maria, viu-se aninhado entre pulseiras, maquiagem, icones fashion, e coisa e tal.
 

Envaidecido Felipe casou com Maria. Bea casou com Mauricinho. Uns passaram a lua de mel em Paris, outros moram no Vale do Silício. Tiveram filhos e prosperaram. Multiplicaram talento e beleza, carros, jóias e mais quinquilharias que só aumentam para preencher um tal vazio.


Antes de dormir dá uma tristeza em Bea ao lembrar dos tempos em que namorava Felipe, que na Califórnia sente arrepios ao lembrar do seu abraço quentinho.


* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. Os encontros e desencontros podem fazer a história correr numa rota ou exatamente numa outra. Ruim é quando a história vem sem intriga e sem enredo.

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