quarta-feira, 12 de junho de 2013

Literalmente tudo pela fama

* Por Fernando Yanmar Narciso

Tempos loucos... Desde o início do novo milênio, com todas as guerras, o terrorismo, a criminalidade correndo solta por aí, o presente ano tem sido um dos mais macabros desde que Bin Laden comandou o ataque ao World Trade Center. Tudo começou em janeiro, quando os jornais do mundo noticiaram a história da menina que morreu ao ser vítima de um estupro grupal num ônibus na Índia. Felizmente alguns dos responsáveis pelo assassinato foram punidos exemplarmente, mas o problema é o que veio depois.

Por mais comum que essa prática seja por aquelas bandas, o caso chamou a atenção da imprensa internacional, sempre faminta por algum tópico que possa assombrar o cidadão comum. Pode parecer exagero meu, mas já repararam como casos parecidos ao da Índia tornaram-se comuns nos noticiários depois daquele? Não apenas nos policialescos dos Datenas e Rezendes da vida, mas nos horários tops da grade dos canais.

A coisa mais comum ultimamente tem sido jantar com a companhia de William Bonner dando notícias sanguinolentas, brutais e selvagens. Por mais “importante” que seja saber desses ocorridos, por que não limitá-los aos jornais de fim de noite, quando não tem ninguém comendo, tirando os gordinhos que assaltam a geladeira à meia-noite? Deve ser porque dizem que cheiro de sangue abre o apetite. Pelo menos, depois de assistir a tamanho açougue durante as refeições, a digestão fica consideravelmente mais rápida, pois nos borramos de medo de tanta perversão.

O último grande furo que comoveu a população foi aquele da dentista que foi abordada dentro do consultório, mas como ela não tinha nem dinheiro pra voltar pra casa, o bandido simplesmente comprou um litro de álcool e fez dela uma picanha bem-passada diante dos pacientes, só pra se vingar. Na semana seguinte, surgiram dois ou três casos parecidos nos jornais. E, há mais algum tempo, houve o caso do homem que manteve três mulheres em cárcere privado nos Estados Unidos por dez anos, violentando-as incessantemente, sem levantar suspeitas. Do jeito que as coisas estão, esperem mais um mês e aparecerá outro caso ainda mais chocante de cárcere privado.

Falando sério, por que esses noticiários precisam ser tão sádicos? Parece até que sentem prazer em deixar a população paranóica. Agora nem conseguimos mais colocar o focinho pra fora de casa, com medo de assaltos, mortes, seqüestros, até de que um elefante caia em nossas cabeças! Outra coisa, depois que surgiram os portais de internet e as redes sociais, todo mundo já fica sabendo desses casos escabrosos horas antes de William Bonner e Patrícia Poeta nos darem o seu irônico “boa noite”.

Pra mim esses ocorridos macabros não têm nada a ver com crime, isso é coisa de gente querendo chamar a atenção, exatamente como aqueles matadores loucos americanos fazem. E os noticiários parecem cair como patinhos nesse truque sujo, pois cada migalha que os criminosos deixam cair no chão a imprensa come. Lembram- se de como Zé Pequeno e sua quadrilha se amarravam em ver suas fotos no jornal, de armas em punho, emCidade de Deus? Não seria nenhuma surpresa se esses criminosos modernos já não estivessem contratando fotógrafos e diretores profissionais para cuidar de suas imagens. Já que a regra é barbarizar, que pelo menos o façam de forma a ficar mais “apresuntável” no noticiário.

Recentemente, escrevi um artigo sobre o impacto do Batman na cultura popular. Desde 2008, não se tem falado de outro assunto nos sites de filmes e quadrinhos além da magistral atuação do finado Heath Ledger como o Coringa. Por mais que tenham se desviado da concepção clichê que todos temos do personagem, ele, os autores e o diretor do filme o transformaram num espelho de toda a loucura do mundo pós 11/9. Ele transformou Gotham City no lugar mais caótico e assustador do planeta, matando, seqüestrando, queimando dinheiro, torturando e intimidando as pessoas, aparentemente só pra ver como elas se virariam depois que o mundo se tornasse uma pilha de escombros. Obviamente, o príncipe circense do crime, como ele mesmo se denomina, tornou-se uma celebridade em Gotham, e todos viviam em alerta como nos tempos da Guerra fria, tentando prever qual seria o próximo passo da pessoa mais imprevisível do mundo. Se aquele filme não tiver dado ao menos um insight pros aspirantes a criminosos de hoje, eu não conheço o mundo.

Tenho uma teoria maluca. Supondo que esses bárbaros pensem em si mesmo como celebridades, por que não tratá-los como tal? Todo rei da mídia tem seu momento de ascensão, apogeu e declínio. Alguém ainda se lembra da vagabunda da Paris Hilton ou do estúpido antissemita do Mel Gibson? Se o mundo ignorasse essas notícias do pior que a raça humana tem a oferecer, se parássemos de ver essas notícias no noticiário, se parassem de publicar esses casos nos portais de internet e nas redes sociais... Será que os criminosos perderiam o interesse em tocar o terror e partiriam pra outra? Pode parecer uma babaquice extrema o que eu disse- e provavelmente é, mas não custaria nada tentar. Claro que, para que isso funcione, antes seria preciso que TODOS os programas policiais sensacionalistas de fim de tarde saíssem do ar, pois os Datenas e Rezendes da vida agem quase como personal promoters da insanidade.



4 comentários:

  1. Uma ideia estapafúrdia, ou uma sequência de loucuras absurdas em curso?

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  2. Caro Fernando, minha posição, de editor deste espaço, é um tanto delicada. Raciocine comigo: caso eu comente determinado texto, terei que comentar “todos” os demais, sem exceção. Se não o fizer, posso ser interpretado como não tendo gostado dos que não comentei, o que não é verdade. Por exemplo, gostei muito das suas colocações. Mas gostei, também, e na mesma proporção, dos textos da Mara, do Marco Albertim, do Alberto Cohen e da Anair Weirich. Caso comente tudo o que gosto, só vai dar eu em todo o Literário e muita gente irá reclamar e me acusar de querer “aparecer”. O que mais me preocupa, atualmente, é a abrupta queda no número de acessos ao nosso espaço. Espero que seja passageira. Quanto ao seu pedido para que mencione links para o Facebook e o twitter, basta você digitá-los em seu perfil, no final do seu texto, ok? E quanto a vídeos, creio que eles descaracterizariam o Literário, que é feinho de propósito, já que nosso objetivo é valorizar “apenas” os textos, nossa razão de existir.

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  3. Concordo plenamente!
    O Editorial de hoje, por exemplo, muito bom. Me trouxe muitas lembranças dos pastoris de antigamente. Gosto muito de ler o Literário e muitos outros...

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  4. Tempos loucos, meu amigo, realmente. Sou tão idealista quanto você, mas infelizmente a mídia quer mesmo muito sangue. É a matéria prima que eles apreciam e destacam com avidez. Quanto a mim procuro não me sensibilizar com tais notícias, até para me poupar, senão eu piro.
    Gosto muito das suas crônicas e acompanho suas postagens embora nem sempre comente, não por desinteresse (longe disso), mas pela pressa em dar conta de tantos afazeres quando ligo o pc.
    Um abraço com admiração e amizade!

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