Literalmente tudo pela fama
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Tempos loucos... Desde o início
do novo milênio, com todas as guerras, o terrorismo, a criminalidade correndo
solta por aí, o presente ano tem sido um dos mais macabros desde que Bin Laden
comandou o ataque ao World Trade Center. Tudo começou em janeiro, quando os
jornais do mundo noticiaram a história da menina que morreu ao ser vítima de um
estupro grupal num ônibus na Índia. Felizmente alguns dos responsáveis pelo
assassinato foram punidos exemplarmente, mas o problema é o que veio depois.
Por mais comum que essa prática
seja por aquelas bandas, o caso chamou a atenção da imprensa internacional,
sempre faminta por algum tópico que possa assombrar o cidadão comum. Pode
parecer exagero meu, mas já repararam como casos parecidos ao da Índia
tornaram-se comuns nos noticiários depois daquele? Não apenas nos policialescos
dos Datenas e Rezendes da vida, mas nos horários tops da grade dos canais.
A coisa mais comum ultimamente
tem sido jantar com a companhia de William Bonner dando notícias
sanguinolentas, brutais e selvagens. Por mais “importante” que seja saber
desses ocorridos, por que não limitá-los aos jornais de fim de noite, quando
não tem ninguém comendo, tirando os gordinhos que assaltam a geladeira à
meia-noite? Deve ser porque dizem que cheiro de sangue abre o apetite. Pelo
menos, depois de assistir a tamanho açougue durante as refeições, a digestão
fica consideravelmente mais rápida, pois nos borramos de medo de tanta
perversão.
O último grande furo que comoveu
a população foi aquele da dentista que foi abordada dentro do consultório, mas
como ela não tinha nem dinheiro pra voltar pra casa, o bandido simplesmente
comprou um litro de álcool e fez dela uma picanha bem-passada diante dos
pacientes, só pra se vingar. Na semana seguinte, surgiram dois ou três casos
parecidos nos jornais. E, há mais algum tempo, houve o caso do homem que
manteve três mulheres em cárcere privado nos Estados Unidos por dez anos,
violentando-as incessantemente, sem levantar suspeitas. Do jeito que as coisas
estão, esperem mais um mês e aparecerá outro caso ainda mais chocante de
cárcere privado.
Falando sério, por que esses
noticiários precisam ser tão sádicos? Parece até que sentem prazer em deixar a
população paranóica. Agora nem conseguimos mais colocar o focinho pra fora de
casa, com medo de assaltos, mortes, seqüestros, até de que um elefante caia em
nossas cabeças! Outra coisa, depois que surgiram os portais de internet e as
redes sociais, todo mundo já fica sabendo desses casos escabrosos horas antes
de William Bonner e Patrícia Poeta nos darem o seu irônico “boa noite”.
Pra mim esses ocorridos macabros
não têm nada a ver com crime, isso é coisa de gente querendo chamar a atenção,
exatamente como aqueles matadores loucos americanos fazem. E os noticiários
parecem cair como patinhos nesse truque sujo, pois cada migalha que os
criminosos deixam cair no chão a imprensa come. Lembram- se de como Zé Pequeno
e sua quadrilha se amarravam em ver suas fotos no jornal, de armas em punho, emCidade
de Deus? Não seria nenhuma surpresa se esses criminosos modernos já não
estivessem contratando fotógrafos e diretores profissionais para cuidar de suas
imagens. Já que a regra é barbarizar, que pelo menos o façam de forma a ficar
mais “apresuntável” no noticiário.
Recentemente, escrevi um artigo
sobre o impacto do Batman na cultura popular. Desde 2008, não se tem falado de
outro assunto nos sites de filmes e quadrinhos além da magistral atuação do
finado Heath Ledger como o Coringa. Por mais que tenham se desviado da
concepção clichê que todos temos do personagem, ele, os autores e o diretor do
filme o transformaram num espelho de toda a loucura do mundo pós 11/9. Ele
transformou Gotham City no lugar mais caótico e assustador do planeta, matando,
seqüestrando, queimando dinheiro, torturando e intimidando as pessoas,
aparentemente só pra ver como elas se virariam depois que o mundo se tornasse
uma pilha de escombros. Obviamente, o príncipe circense do crime, como ele
mesmo se denomina, tornou-se uma celebridade em Gotham, e todos viviam em
alerta como nos tempos da Guerra fria, tentando prever qual seria o próximo
passo da pessoa mais imprevisível do mundo. Se aquele filme não tiver dado ao
menos um insight pros aspirantes a criminosos de hoje, eu não conheço o mundo.
Tenho uma teoria maluca. Supondo
que esses bárbaros pensem em si mesmo como celebridades, por que não tratá-los
como tal? Todo rei da mídia tem seu momento de ascensão, apogeu e declínio.
Alguém ainda se lembra da vagabunda da Paris Hilton ou do estúpido antissemita
do Mel Gibson? Se o mundo ignorasse essas notícias do pior que a raça humana
tem a oferecer, se parássemos de ver essas notícias no noticiário, se parassem
de publicar esses casos nos portais de internet e nas redes sociais... Será que
os criminosos perderiam o interesse em tocar o terror e partiriam pra outra?
Pode parecer uma babaquice extrema o que eu disse- e provavelmente é, mas não
custaria nada tentar. Claro que, para que isso funcione, antes seria preciso
que TODOS os programas policiais sensacionalistas de fim de tarde saíssem do
ar, pois os Datenas e Rezendes da vida agem quase como personal promoters
da insanidade.
*Designer e escritor. Sites: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br - HTTP://cyberyanmar.deviantart.com e HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar
Uma ideia estapafúrdia, ou uma sequência de loucuras absurdas em curso?
ResponderExcluirCaro Fernando, minha posição, de editor deste espaço, é um tanto delicada. Raciocine comigo: caso eu comente determinado texto, terei que comentar “todos” os demais, sem exceção. Se não o fizer, posso ser interpretado como não tendo gostado dos que não comentei, o que não é verdade. Por exemplo, gostei muito das suas colocações. Mas gostei, também, e na mesma proporção, dos textos da Mara, do Marco Albertim, do Alberto Cohen e da Anair Weirich. Caso comente tudo o que gosto, só vai dar eu em todo o Literário e muita gente irá reclamar e me acusar de querer “aparecer”. O que mais me preocupa, atualmente, é a abrupta queda no número de acessos ao nosso espaço. Espero que seja passageira. Quanto ao seu pedido para que mencione links para o Facebook e o twitter, basta você digitá-los em seu perfil, no final do seu texto, ok? E quanto a vídeos, creio que eles descaracterizariam o Literário, que é feinho de propósito, já que nosso objetivo é valorizar “apenas” os textos, nossa razão de existir.
ResponderExcluirConcordo plenamente!
ResponderExcluirO Editorial de hoje, por exemplo, muito bom. Me trouxe muitas lembranças dos pastoris de antigamente. Gosto muito de ler o Literário e muitos outros...
Tempos loucos, meu amigo, realmente. Sou tão idealista quanto você, mas infelizmente a mídia quer mesmo muito sangue. É a matéria prima que eles apreciam e destacam com avidez. Quanto a mim procuro não me sensibilizar com tais notícias, até para me poupar, senão eu piro.
ResponderExcluirGosto muito das suas crônicas e acompanho suas postagens embora nem sempre comente, não por desinteresse (longe disso), mas pela pressa em dar conta de tantos afazeres quando ligo o pc.
Um abraço com admiração e amizade!