sábado, 15 de junho de 2013

E o trânsito? (2)

* Por Paulo Reims

É um tema importante e complexo, por isso vamos continuar refletindo mais um pouco sobre ele.

É uma das principais causas de morte, sem computar as pessoas que ficam mutiladas, e incapacitadas....

Uma amiga me recordou que é na família, célula básica da sociedade, que se inicia a educação para o trânsito. Entre os muitos valores que precisamos resgatar na formação integral das pessoas está também o respeito às regras e sinais de trânsito, que na verdade é respeito às pessoas. Uma pessoa de caráter terá em conta que somente será um bom motorista se antes for um pedestre disciplinado.

Da mesma forma que alguns motoristas se sentem donos das estradas, dirigindo velozmente, e de forma desrespeitosa cortando a frente de outros veículos, ultrapassando pela direita, usando o acostamento sem se dar conta de que aquela é uma via de emergência, que não deve ser ocupada por apressados irresponsáveis; da mesma forma existem pedestres desatentos e provocadores, e que se acham no direito de atravessar as ruas a seu bel prazer, causando transtornos, atropelamentos e mortes.

Por mais que seja brega, existe também o exibicionismo no trânsito. Pessoas “dirigindo” seus carrões perdem a noção do perigo. São tão pobres que só têm dinheiro, e entendem que isso basta, pois com ele podem comprar tudo, também a justiça e a vida de pessoas inocentes. Têm o coração desprovido de sentimentos; o ter, e o poder e o prazer que advém do ter, fizeram com que os bons sentimentos ficassem hibernados. Vamos sair da hibernação deixando o calor humano tornar nossos corações mais sensíveis!

Faz pouco tempo que presenciei uma cena de exibicionismo e prepotência: aguardava minha vez de entrar na rótula, pois um carro popular acabava de fazê-lo vindo de outra via, nisso um camionetão veio veloz e deu com tudo no carro popular que tranquilamente e respeitosamente havia iniciado seu percurso na rótula. Como encerrou o episódio não sei, mas normalmente estes burgueses, proprietários da estrada, intimidam os “pequenos” com uma lábia tal que os fazem se sentir culpados por estarem atrapalhando o caminho deles. Na maioria dos casos são estes exibicionistas que causam transtornos, congestionamentos desnecessários, e tragédias. O dinheiro resolve tudo, e muitas vezes, neste processo, as pessoas são apenas detalhes desinteressantes, e estorvos.

Entre tantos valores a serem resgatados, e de forma urgente, é fundamental que os pais, ou responsáveis pela formação da personalidade das crianças, levassem em conta o resgate do respeito por si mesmas e pelos outros, em qualquer ambiente. Isto vale para todos nós.

Só teremos um trânsito humanizado, quando as pessoas forem mais humanas; quando a razão, o coração e os sentimentos caminharem de mãos dadas.

Assim como a sociedade é reflexo daquilo que são as pessoas, o trânsito também o é. E ele será tanto mais harmonioso e tranquilo quanto mais eu for uma pessoa harmoniosa e tranquila. É tempo de olharmos com seriedade para o nosso interior e fazermos uma auto-análise, só assim teremos dias melhores...

Quanto mais busco cultivar meu ser, vou descobrir que a outra pessoa é parte de mim, como sou parte dela e de toda a criação que clama por respeito, justiça e paz. É neste momento que descobrimos a dignidade de toda pessoa e de cada criatura.

Juntos resgatemos os valores que nos tornam verdadeiramente “gente”, e todos ganharemos alegria de viver, e a vida ficará agradecida por deixá-la seguir seu curso natural.

Não apressemos a morte própria, e nem a de ninguém. Ela não tem pressa em nos conduzir para a viagem definitiva que, creio, será sem congestionamentos e atropelos. A morte é respeitosa e paciente, e é desta forma que ela nos aguarda.


* Jornalista

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