À direita da direita
* Por
Fausto Brignol
“Sem partido!, sem partido!” – curioso movimento que opta pela
alienação, justamente quando se diz formado por pessoas engajadas. “Você é
engajado?” – pergunta o programa da tarde da Globo News, no dia 21 de junho,
início oficial deste inverno que ameaçava se transformar em Primavera. Todas as
“Primaveras” têm sido reacionárias e promovidas pelo sistema que usa jovens
adolescentes ou pouco mais que isso para os seus objetivos claramente antidemocráticos.
A primeira “Primavera” foi a de Praga, em 1968, na então
Tchecoslováquia, quando reformistas com o apoio do Ocidente tomaram o poder,
incitando o povo à rebelião contra o governo socialista. O objetivo, que foi
alcançado, era atrair a invasão soviética no pior momento da guerra fria que
ameaçava se tornar muito quente e atômica. Naquela época não existia Internet e
radiotransmissores foram utilizados para galvanizar a população contra a
opressão provocada.
A Primavera polonesa teve origem com a fundação do direitista sindicato
Solidariedade, nos anos ‘80, liderado por Lech Walesa, cuja única ideologia era
o catolicismo. Em 1978, o autodenominado “mundo livre” escolhera o polonês
Karol Woytila como Papa João Paulo II, logo após a estranha morte de João Paulo
I, e a sua influência carismática na Polônia aliada à presença demagógica de
Lech Walesa levou a Polônia a sucessivas greves e movimentos sociais.
O ex-diretor da CIA, Robert Gates, escreveu, em 1996, no seu “Livro das
Sombras”, que a CIA foi mais ativa na Polônia na década de ’80, e até
mesmo“forneceu boa quantidade de dinheiro e equipamentos para a resistência
polonesa”. Inclusive uma televisão clandestina, que, na véspera da visita do
Papa substituiu o telejornal de Varsóvia com uma mensagem pedindo aos ativistas
para participar de manifestações públicas. No entanto, ainda não foi confirmado
se Lech Walesa – Prêmio Nobel da Paz em 1983 – era agente pago pela CIA. Há
evidências, não provas.
A Primavera Árabe, alusão à Primavera de Praga, iniciou na Tunísia em
dezembro de 2010, expandiu-se para a Argélia e Egito – estratégicos países da
África do Norte – e, depois de conquistar o poder naqueles três países contou
com o apoio das forças da OTAN para derrubar o regime socialista islâmico de Moamar
Kadhaffi, que foi assassinado pelos primaveris mercenários que penetraram no
território líbio através das fronteiras da Tunísia, Argélia e Egito.
Atualmente, a Primavera Árabe tenta derrubar o governo da Síria, e os
países ocidentais estão nisso muito empenhados, não só para roubar os minérios
de petróleo e gás, mas também para forçar uma definitiva rota de colisão com o
Irã e, posteriormente, Rússia. Os mercenários que estão sendo derrotados na
Síria, após dois anos de combates apelidados de “revolta popular” pelos meios
de comunicação do Ocidente, entram naquele país através das fronteiras da
Jordânia, Líbano e Israel. Em breve, receberão grande auxílio em armas,
munições e dinheiro dos Estados Unidos e aliados europeus. Não está descartado
um ataque aéreo das mesmas forças da OTAN que destruíram a Líbia.
As revoltas no Brasil, iniciadas há mais de uma semana, têm objetivos
democráticos e se pretendiam pacíficas em seu início, constando de
manifestações pelo passe livre, contra a corrupção, os gastos com a Copa de
2014, a impunidade e a lerdeza do Governo em resolver problemas que estão se
tornando crônicos, como a saúde, a educação e a segurança, entre outros.
Debate-se, também, a legitimidade dos políticos.
Não sei de nenhuma crítica contra o latifúndio, contra o massacre de
indígenas, a favor da reforma agrária, a favor da reforma urbana, contra o
desmatamento desenfreado, contra a desertificação, contra a grilagem (roubo de
terras), contra a hidrelétrica de Belo Monte e outras hidrelétricas que ameaçam
devastar ainda mais a fauna e flora e provocam a destruição de diversas etnias
de povos indígenas.
Não tomei conhecimento de qualquer crítica que pretenda aprofundar ainda
mais o debate político propondo, por exemplo, a transformação da nossa democracia
- de representativa em participativa.
Não estou sabendo de nenhum protesto ou proposta de debate que busque
transformar a decadente democracia pequeno-burguesa brasileira, voltada somente
para os interesses monopolistas das grandes multinacionais, em uma democracia
realmente popular.
Ninguém, que eu saiba, propõe o fim do modelo neoliberal. Ninguém
critica os acordos com os Estados Unidos, com a União Européia, que fazem do
Brasil um país exportador a serviço daquelas potências. Ninguém coloca em
debate a presença das Forças Armadas brasileiras no Haiti e da nossa Marinha de
guerra nas costas do Líbano, em apoio à OTAN. Ninguém contesta o atrelamento ao
monetarismo capitalista, origem e causa da inflação.
A política está proibida nesses movimentos. Os partidos políticos não
podem se manifestar, caso em contrário os seus membros são espancados e as suas
bandeiras rasgadas e queimadas. Uma onda de alienação varre o Brasil. Varre e
destrói.
“Você é engajado?” – pergunta a Rede Globo para pessoas que acreditam
que engajamento é sinônimo de depredação. “Estamos recriando o Brasil”, diz um
dos motes do movimento. Sobre que bases? Qual a proposta? Tudo indica que a
proposta é dizer não a todas as propostas, transformar o país em terra arrasada
e dar motivo para que os magoados militares que estão tendo o seu passado
antipatriótico de golpistas desvendado reassumam o poder no instante em que o
Governo revelar toda a sua ineficácia e incapacidade também em conter vândalos.
O que é feito da polícia que não age preventivamente? Porque as
passeatas são marcadas para o fim de tarde, entrando pela noite? Há sérias
suspeitas a respeito da acanhada ação policial, que deixa depredar para depois
agir.
Se assim continuar, as Forças Armadas terão motivos para golpear
novamente a Constituição, despejar Dilma e todos os seus colegas de Brasília
sob o pretexto de que o país está ingovernável.
* Jornalista e escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário