quinta-feira, 1 de dezembro de 2011







Genética


* Por Jair Lopes

Nesta quadra da história moderna onde a clonagem de vertebrados está bem além da ficção e já existe tecnologia para clonar um ser humano, vale contar um evento curioso que envolve fecundação. Alguns seres vivos se reproduzem de maneira diferente da nossa. Alguns moluscos e certas plantas têm como estratégia reprodutiva o hermafroditismo ou androgenia, cujos princípios consistem na existência de caracteres machos e fêmeas no mesmo indivíduo. Assim, para formação da primeira célula embrionária não há participação exterior de um indivíduo de sexo contrário. O novo ser é construído a partir do potencial genético adulto, uma espécie de gêmeo idêntico de quem o gerou.
Analogamente, a partenogênese, denominação de outro processo de reprodução consiste na substituição do gameta masculino (espermatozóide) por um gameta feminino chamado oosfera. Portanto, sem nenhuma participação do exterior a reprodução se completa. O suíço, Chales Bonnet, em 1940, descobriu partenogênese dos pulgões. Depois verificou-se o mesmo fenômeno em algumas espécies de abelhas, em alguns vegetais, nos ouriços do mar, nas estrelas do mar, nas rãs e em alguns peixes. Vários experimentos em laboratórios demonstraram que é possível provocar a partenogênese artificial em gatos, coelhos e outros mamíferos. Outros cientistas verificaram que óvulos de mamíferos cultivados sob certas condições de temperatura e meio de cultura fora do útero, iniciavam o processo de divisão dando o início à criação de um novo ser como se estive fecundado dentro útero. A respeito dessa descoberta, o Dr Goldman escreveu em 1966: “O nascimento sem pai é possível nos seres humanos...”.
Decorrente dessa especulação genética, apareceu na revista “Lancet” um artigo assinado pela especialista em eugenia Dra Helen Spurway, no qual dizia que “talvez” fosse possível uma mulher engravidar sem intervenção de espermatozóide. Daí, a coisa evoluiu para o sensacionalismo, a imprensa se apoderou da idéia e instituiu um concurso para que toda cidadã britânica que tivesse engravidado “virginalmente” se apresentasse, sua identidade seria preservada se assim as participantes desejassem. O escopo do “concurso” era encontrar fêmeas humanas para comprovar a tese que era possível a reprodução sem participação masculina.
Como a Europa estivera em guerra, milhares de mulheres – adúlteras e abandonadas por namorados - viam no concurso a possibilidade de “apagar” traições a seus maridos e companheiros enquanto estes estiveram no front. Dezenas de milhares de mulheres com filhos se apresentaram. Começaram então os testes que consistiam primeiramente uma entrevista rigorosa e em prova de compatibilidade sanguínea. Somente dezenove mulheres restaram depois disso. Em seguida veio o teste de saliva que reduziu o grupo a apenas quatro candidatas. O último teste tratava-se enxertos de peles cruzados. A mãe recebia um pedaço da pele do rebento e este um da mãe, se houvesse rejeição se comprovaria a incompatibilidade, em caso contrário o filho era considerado fruto da partenogênese natural. Três das concorrentes foram eliminadas e restaram a senhora Emminaire Jones e sua filha Monica, gerada em circunstâncias anômalas.
Em 1944, Emminaire estava com enjôos constantes e se sentia muito mal, seu noivo estava em combate e ela era virgem, procurou um médico e este constatou que ela estava grávida de três meses. Ela havia passado o tempo todo servindo com enfermeira onde só existiam mulheres no corpo médico, e ela nunca havia feito qualquer coisa que justificasse a gravidez. Emminaire casou com seu noivo, a criança nasceu e ela teve uma depressão nervosa, não entendia o que poderia ter acontecido. Os exames formais verificaram que Monica não tinha nenhum “elemento” estranho ao de sua mãe. O Dr Stanley Balfour-Lynn, juntamente com o famoso professor J. B. S. Haldane divulgou esse caso insólito para o mundo. Ele julgava um caso autêntico de partenogênese natural. Por outro lado, os cristãos que creem no dogma da virgindade de Maria e se sentem desconfortáveis com uma fecundação celestial, acharam um meio de justificar sua gestação.
Pois bem, e como ficou o resto dos cientistas do mundo? A resposta é que ninguém achou que o caso merecia qualquer investigação mais profunda, os testes foram imprecisos e não comprovavam nada, segundo os cientistas “sérios”. Assim, o caso caiu no esquecimento e não mais se falou na possibilidade dessa tal partenogênese natural humana. Só que, em 2005, lá mesmo na Inglaterra, o Dr Eugene Lightorn, geneticista do laboratório “London Medical Genetic Center”, leu o artigo em uma revista da década de sessenta e resolveu procurar as amostras de sangue dos testes, se estas existissem. Para sua surpresa, um congelador do próprio LMGC continha os sangues das mulheres datados e identificados. Ele procedeu ao exame de DNA das amostras e verificou aquilo que ninguém acreditava: Os DNAs da mãe e filha eram perfeitamente compatíveis, como costumam ser DNAs de gêmeos idênticos e de clones de animais e plantas. Agora, diante dessa descoberta, está na hora de os geneticistas darem uma boa “olhada” na possibilidade de existir esse fenômeno, até porque a ciência é pródiga em surpreender a partir de eventos inesperados e fora da “normalidade”. Será este o caso?

* Escritor

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