Farpas
* Por Gustavo do Carmo
O casal Drähm chega a um restaurante na Barra da Tijuca uma hora depois do combinado com os amigos Klaus e Karine Smirnoff. Envergonhado com o atraso, Benvindo se desculpa aos dois amigos:
— Pô, gente! Vocês me desculpem. Meu carro enguiçou e tivemos que vir de ônibus. No caminho pegamos um engarrafamento monstruoso. ¬
— Ah, mas vocês vieram, não é verdade? Perdoa Karine.
— Sentem-se aí, eu vou pedir um drink para a gente. Nós chegamos faz meia-hora. Diz Klaus.
Benvindo e Derlaine sentam-se à mesa. Depois de acomodados e já com o drinque na mesa, Benvindo ainda comenta:
— A gente não teria enfrentado esse engarrafamento e chegaríamos bem mais cedo se a minha querida parceira não inventasse de se enfeitar toda para vir pra cá.
— É verdade, pessoal. Mas eu gosto de me arrumar e ficar bem bonita. Não sou como certas pessoas que saem por aí de camisa amarrotada, colarinho sujo e desodorante vencido. Justifica Derlaine.
O casal Smirnoff se entreolha com cara de nojo. Benvindo esclarece:
— Não tenho culpa se o desodorante vence antes de encerrar o expediente de trabalho, né? Principalmente o trabalho duro como o meu de ficar fiscalizando o movimento da livraria (tanto pessoal quanto financeiro). Aliás, ele já está vencido antes de chegar ao trabalho, pois a gente vive numa cidade quente, mas tem que andar sempre bem arrumado, passa horas no banco do carro preso no engarrafamento e ao cinto de segurança que amarrota a roupa enquanto a sua esposa está em casa gastando luz com o ar condicionado e de pernas pro ar.
— Não. Não é bem assim. Realmente a gente vive numa cidade quente. E é por isso que eu ligo o ar condicionado no início da tarde, pois eu estou morta de cansaço depois de um dia inteiro na cozinha e na área lavando e passando roupa, já que o patrão dispensou a empregada para economizar. Só não economiza pra outra e no futebol com os amigos. No Maracanã é todo domingo e toda quarta à noite. E ainda tenho que cuidar de um menino mimado, uma solteirona de trinta anos imatura e uma mulher que vive discutindo com o marido.
— Com tanta dureza no trabalho a gente tem que se divertir, né? Mas eu me divirto com qualquer um: amigos, filhos, sozinho. Eu chamo a esposa para relaxar também, mas ela não quer. Fica de frescura. Mesmo assim, essa diversão dá muita despesa. É filho criança, é sonho da filha do meio querer ser escritora, é filha mais velha pedindo dinheiro emprestado para saldar as dívidas do marido. Lá em casa a gente precisa cortar alguns gastos desnecessários: a tv a cabo nós reduzimos o pacote, lanches fora de casa nós cortamos, economizar na luz, no telefone, luz, água, brinquedos só no aniversário do menino.
— Meu marido é mesmo muito econômico. Tão econômico que não troca nem o carro 1.0 que não tem ar condicionado e fica com aquela coisa velha enguiçada na garagem. E ainda sai com qualquer um. Se bobear tem qualquer uma.
Klaus interrrompe a discussão sutil do casal Drähm e propõe:
— Amigos, a conversa está tão agradável, mas vamos pedir o nosso prato, né? Afinal viemos aqui para comer.
— Claro. Você já decidiu o que vai pedir, Derlaine?
— Já.
Durante o almoço, os casais voltam a conversar. Retomam o assunto. Desta vez é Karine quem lembra que os amigos vieram de ônibus.
¬ — O ônibus em que vocês vieram estava muito cheio?
¬ — Lotado. Responde Derlaine. ¬
¬¬— Por que não vieram de táxi?
— Fazer o quê? O senhor economia precisa conter as despesas, né?
Antes de Benvindo dar a sua resposta Klaus sai em sua defesa:
— Karine, que mal tem eles virem de ônibus? É melhor pagar cinco reais no ônibus executivo do que pagar 40 de táxi.
— Ah! Economia é com o meu marido mesmo. Só que naquele dia a gente foi de lotação.
— A gente estava atrasado.
— Atrasado ao meio-dia para comprar eletrodoméstico numa loja que fecha a noite?
— Você sabia muito bem que na liquidação a concorrência era grande. Tinha que chegar bem cedo mesmo.
— Ah é! Vocês acreditam que o Klaus me fez ir até o subúrbio só para comprar uma televisão de plasma porque achava que tinha 90% de desconto?
— A gente também foi uma vez,né Bem? Mas era tudo enganação.
— Pois é. Só o meu marido e pobre que acreditam nisso. E pobre era o que mais tinha lá. Aliás, tinha uma favelada folgada disputando uma máquina de lavar comigo. Vai ver não tinha nem condições de comprar. Conta Karine.
— Gente racista e preconceituosa é dureza, meus amigos. Essa pessoa que acabou de falar é tão preconceituosa e arrogante que nem o rapaz do frete que nos levaria para casa com a maior boa vontade aguentou, e nos expulsou do caminhão dele. Tivemos que andar da Copacabana até o Leblon a pé. Imagina andar naquele calor com uma lavadora nas costas. E eu que tive que carregar. Além do aparelho estar com defeito, fiquei uma semana com dor na coluna.
— Até que o carreteiro aguentou bastante, diz Derlaine antes de soltar uma gargalhada.
— Mas o seu marido te aguenta mais, Dedé. Principalmente as suas chantagens emocionais. Responde Karine. Eu que o diga. E isso desde os tempos da escola.
— Aprendi a fazer isso que vocês acham que é chantagem com a Karine, que fazia sempre com os meninos com quem ela ficava no colégio. Ela era apelidada de A Dondoca Mimada de Olaria. Comenta Derlaine depois de beber um gole de vinho.
— Mas eu era mais popular do que você na escola. Só não era no seu bairro, pois eu nunca fui apelidada de A Fera da Penha. Não que você tenha matado e queimado a filha de alguém. Você só era feia.
Um jato de vinho jorra sobre o vestido de Karine.
— Ai, me desculpa, minha querida.
— Pode deixar, eu já ia comprar outro vestido mesmo.
— Você ainda tem dinheiro para comprar vestidos caros? Pensei que vocês estavam falindo. Pergunta Benvindo.
— A família Smirnoff passa por dificuldades, mas ela consegue se reerguer. É assim desde os tempos do vovô. Ele a minha avó quase passaram fome na época da Segunda Guerra Mundial. Mas deram a volta por cima, abriram uma indústria de alimentos que o meu pai herdou e a tornou uma das maiores do país. Gaba-se Klaus.
— Mas aí o filho torrou tudo com mulher e farra. E o que sobrou divide com a Karine, que foi a única mulher que restou. Diz Benvindo, antes de soltar uma gargalhada.
— Pô, Benvindo! Pra que tanto humor ácido? Você sabe muito bem que eu fui contratado por uma multinacional, estou montando uma firma de contabilidade e estou atendendo a sua livraria em processo de falência.
— Gente, mas vocês sabem que o contribui para a decadência de um negócio é o desvio de dinheiro dos contadores, das comissões abusivas deles e da inadimplência dos clientes? Tem uma senhora de origem Smirnoff que comprou vinte livros e deu três cheques pré-datados sem fundo. Acho que é a sua mãe, não é, Klaus?
O garçom interrompe a conversa dos casais de amigos:
— Vocês desejam a sobremesa?
— Você quer, querida? Pergunta Klaus.
— Não. Estou me sentindo gorda.
— Então nos traz a conta, por favor.
— Ok. Diz o garçom.
— Mas eu pensei que você estivesse com anorexia. Comenta Benvindo.
— Eu nunca tive anorexia. Eu só não queria ficar pançuda como você.
— Vamos mudar de assunto. Estamos trocando farpas desde que chegamos aqui. Sugere Klaus. — Como é que vão os filhos? Estão dando muito trabalho?
— Filho sempre dá trabalho. Isso a gente tem que se conformar. O Gabrielzinho tá estudando muito, a Irene está batalhando pra ser escritora e a Tássia está dando duro no Banco do Brasil e discutindo com o marido dela. Responde Derlaine.
— Por isso que optamos por não ter filhos. Para a gente criar e depois quando casam ficar servindo de mediador de briga de casal? E quando eles estão pequenos e começam a ficar pedindo tudo que veem?
— E ainda tem aqueles que chegam aos trinta anos e não largam do teu pé e nem do seu dinheiro. Não têm nem competência para batalharem a vida sozinhos. Completa Karine.
— Mas mesmo assim os amamos e fomos abençoados. Graças a Deus não nascemos estéreis como algum de vocês. Afirmou Benvindo.
— Amor, vamos embora? Pede Karine.
— Não liga pra eles não, Karine. Você não pode ter filhos, mas podemos ter sexo todos os dias. Você é muito mais gostosa do que a Derlaine. Nós já ficamos antes de nos conhecermos. Quando ela começou a falar de filhos eu caí fora.
— Ben, acho que a estéril é a Karine. O Klaus é impotente, mesmo. Foi bom ele tocar no assunto. Estava pra te falar isso.
— Sem problemas, meu amor. Eu também tenho que confessar que já tirei uma casquinha da Karine. O problema é que ela só tinha casca. Carne mesmo, não tinha nada.
— E você tinha cascão e gordura demais. Me senti sufocada. Pelo seu peso e pelo mau-cheiro. Completa Karine.
O garçom traz a conta.
— Gente, temos que ir mesmo. Hoje teremos um sarau na casa da minha irmã. A conversa estava tão agradável. Precisamos nos encontrar mais. Se despede, Klaus.
— Nós também, não é Derlaine? Eu ainda tenho que ir à livraria hoje.
— E eu tenho uma pilha de roupas das crianças pra passar. Então até a próxima.
O casais Smirnoff e Drähm se despedem. Karine e Derlaine trocam dois beijos no rosto e abraços. Os casais opostos fazem o mesmo. Klaus e Benvindo trocam abraços e apertos de mão. Saem do restaurante sem pagar a conta.
* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores.
* Por Gustavo do Carmo
O casal Drähm chega a um restaurante na Barra da Tijuca uma hora depois do combinado com os amigos Klaus e Karine Smirnoff. Envergonhado com o atraso, Benvindo se desculpa aos dois amigos:
— Pô, gente! Vocês me desculpem. Meu carro enguiçou e tivemos que vir de ônibus. No caminho pegamos um engarrafamento monstruoso. ¬
— Ah, mas vocês vieram, não é verdade? Perdoa Karine.
— Sentem-se aí, eu vou pedir um drink para a gente. Nós chegamos faz meia-hora. Diz Klaus.
Benvindo e Derlaine sentam-se à mesa. Depois de acomodados e já com o drinque na mesa, Benvindo ainda comenta:
— A gente não teria enfrentado esse engarrafamento e chegaríamos bem mais cedo se a minha querida parceira não inventasse de se enfeitar toda para vir pra cá.
— É verdade, pessoal. Mas eu gosto de me arrumar e ficar bem bonita. Não sou como certas pessoas que saem por aí de camisa amarrotada, colarinho sujo e desodorante vencido. Justifica Derlaine.
O casal Smirnoff se entreolha com cara de nojo. Benvindo esclarece:
— Não tenho culpa se o desodorante vence antes de encerrar o expediente de trabalho, né? Principalmente o trabalho duro como o meu de ficar fiscalizando o movimento da livraria (tanto pessoal quanto financeiro). Aliás, ele já está vencido antes de chegar ao trabalho, pois a gente vive numa cidade quente, mas tem que andar sempre bem arrumado, passa horas no banco do carro preso no engarrafamento e ao cinto de segurança que amarrota a roupa enquanto a sua esposa está em casa gastando luz com o ar condicionado e de pernas pro ar.
— Não. Não é bem assim. Realmente a gente vive numa cidade quente. E é por isso que eu ligo o ar condicionado no início da tarde, pois eu estou morta de cansaço depois de um dia inteiro na cozinha e na área lavando e passando roupa, já que o patrão dispensou a empregada para economizar. Só não economiza pra outra e no futebol com os amigos. No Maracanã é todo domingo e toda quarta à noite. E ainda tenho que cuidar de um menino mimado, uma solteirona de trinta anos imatura e uma mulher que vive discutindo com o marido.
— Com tanta dureza no trabalho a gente tem que se divertir, né? Mas eu me divirto com qualquer um: amigos, filhos, sozinho. Eu chamo a esposa para relaxar também, mas ela não quer. Fica de frescura. Mesmo assim, essa diversão dá muita despesa. É filho criança, é sonho da filha do meio querer ser escritora, é filha mais velha pedindo dinheiro emprestado para saldar as dívidas do marido. Lá em casa a gente precisa cortar alguns gastos desnecessários: a tv a cabo nós reduzimos o pacote, lanches fora de casa nós cortamos, economizar na luz, no telefone, luz, água, brinquedos só no aniversário do menino.
— Meu marido é mesmo muito econômico. Tão econômico que não troca nem o carro 1.0 que não tem ar condicionado e fica com aquela coisa velha enguiçada na garagem. E ainda sai com qualquer um. Se bobear tem qualquer uma.
Klaus interrrompe a discussão sutil do casal Drähm e propõe:
— Amigos, a conversa está tão agradável, mas vamos pedir o nosso prato, né? Afinal viemos aqui para comer.
— Claro. Você já decidiu o que vai pedir, Derlaine?
— Já.
Durante o almoço, os casais voltam a conversar. Retomam o assunto. Desta vez é Karine quem lembra que os amigos vieram de ônibus.
¬ — O ônibus em que vocês vieram estava muito cheio?
¬ — Lotado. Responde Derlaine. ¬
¬¬— Por que não vieram de táxi?
— Fazer o quê? O senhor economia precisa conter as despesas, né?
Antes de Benvindo dar a sua resposta Klaus sai em sua defesa:
— Karine, que mal tem eles virem de ônibus? É melhor pagar cinco reais no ônibus executivo do que pagar 40 de táxi.
— Ah! Economia é com o meu marido mesmo. Só que naquele dia a gente foi de lotação.
— A gente estava atrasado.
— Atrasado ao meio-dia para comprar eletrodoméstico numa loja que fecha a noite?
— Você sabia muito bem que na liquidação a concorrência era grande. Tinha que chegar bem cedo mesmo.
— Ah é! Vocês acreditam que o Klaus me fez ir até o subúrbio só para comprar uma televisão de plasma porque achava que tinha 90% de desconto?
— A gente também foi uma vez,né Bem? Mas era tudo enganação.
— Pois é. Só o meu marido e pobre que acreditam nisso. E pobre era o que mais tinha lá. Aliás, tinha uma favelada folgada disputando uma máquina de lavar comigo. Vai ver não tinha nem condições de comprar. Conta Karine.
— Gente racista e preconceituosa é dureza, meus amigos. Essa pessoa que acabou de falar é tão preconceituosa e arrogante que nem o rapaz do frete que nos levaria para casa com a maior boa vontade aguentou, e nos expulsou do caminhão dele. Tivemos que andar da Copacabana até o Leblon a pé. Imagina andar naquele calor com uma lavadora nas costas. E eu que tive que carregar. Além do aparelho estar com defeito, fiquei uma semana com dor na coluna.
— Até que o carreteiro aguentou bastante, diz Derlaine antes de soltar uma gargalhada.
— Mas o seu marido te aguenta mais, Dedé. Principalmente as suas chantagens emocionais. Responde Karine. Eu que o diga. E isso desde os tempos da escola.
— Aprendi a fazer isso que vocês acham que é chantagem com a Karine, que fazia sempre com os meninos com quem ela ficava no colégio. Ela era apelidada de A Dondoca Mimada de Olaria. Comenta Derlaine depois de beber um gole de vinho.
— Mas eu era mais popular do que você na escola. Só não era no seu bairro, pois eu nunca fui apelidada de A Fera da Penha. Não que você tenha matado e queimado a filha de alguém. Você só era feia.
Um jato de vinho jorra sobre o vestido de Karine.
— Ai, me desculpa, minha querida.
— Pode deixar, eu já ia comprar outro vestido mesmo.
— Você ainda tem dinheiro para comprar vestidos caros? Pensei que vocês estavam falindo. Pergunta Benvindo.
— A família Smirnoff passa por dificuldades, mas ela consegue se reerguer. É assim desde os tempos do vovô. Ele a minha avó quase passaram fome na época da Segunda Guerra Mundial. Mas deram a volta por cima, abriram uma indústria de alimentos que o meu pai herdou e a tornou uma das maiores do país. Gaba-se Klaus.
— Mas aí o filho torrou tudo com mulher e farra. E o que sobrou divide com a Karine, que foi a única mulher que restou. Diz Benvindo, antes de soltar uma gargalhada.
— Pô, Benvindo! Pra que tanto humor ácido? Você sabe muito bem que eu fui contratado por uma multinacional, estou montando uma firma de contabilidade e estou atendendo a sua livraria em processo de falência.
— Gente, mas vocês sabem que o contribui para a decadência de um negócio é o desvio de dinheiro dos contadores, das comissões abusivas deles e da inadimplência dos clientes? Tem uma senhora de origem Smirnoff que comprou vinte livros e deu três cheques pré-datados sem fundo. Acho que é a sua mãe, não é, Klaus?
O garçom interrompe a conversa dos casais de amigos:
— Vocês desejam a sobremesa?
— Você quer, querida? Pergunta Klaus.
— Não. Estou me sentindo gorda.
— Então nos traz a conta, por favor.
— Ok. Diz o garçom.
— Mas eu pensei que você estivesse com anorexia. Comenta Benvindo.
— Eu nunca tive anorexia. Eu só não queria ficar pançuda como você.
— Vamos mudar de assunto. Estamos trocando farpas desde que chegamos aqui. Sugere Klaus. — Como é que vão os filhos? Estão dando muito trabalho?
— Filho sempre dá trabalho. Isso a gente tem que se conformar. O Gabrielzinho tá estudando muito, a Irene está batalhando pra ser escritora e a Tássia está dando duro no Banco do Brasil e discutindo com o marido dela. Responde Derlaine.
— Por isso que optamos por não ter filhos. Para a gente criar e depois quando casam ficar servindo de mediador de briga de casal? E quando eles estão pequenos e começam a ficar pedindo tudo que veem?
— E ainda tem aqueles que chegam aos trinta anos e não largam do teu pé e nem do seu dinheiro. Não têm nem competência para batalharem a vida sozinhos. Completa Karine.
— Mas mesmo assim os amamos e fomos abençoados. Graças a Deus não nascemos estéreis como algum de vocês. Afirmou Benvindo.
— Amor, vamos embora? Pede Karine.
— Não liga pra eles não, Karine. Você não pode ter filhos, mas podemos ter sexo todos os dias. Você é muito mais gostosa do que a Derlaine. Nós já ficamos antes de nos conhecermos. Quando ela começou a falar de filhos eu caí fora.
— Ben, acho que a estéril é a Karine. O Klaus é impotente, mesmo. Foi bom ele tocar no assunto. Estava pra te falar isso.
— Sem problemas, meu amor. Eu também tenho que confessar que já tirei uma casquinha da Karine. O problema é que ela só tinha casca. Carne mesmo, não tinha nada.
— E você tinha cascão e gordura demais. Me senti sufocada. Pelo seu peso e pelo mau-cheiro. Completa Karine.
O garçom traz a conta.
— Gente, temos que ir mesmo. Hoje teremos um sarau na casa da minha irmã. A conversa estava tão agradável. Precisamos nos encontrar mais. Se despede, Klaus.
— Nós também, não é Derlaine? Eu ainda tenho que ir à livraria hoje.
— E eu tenho uma pilha de roupas das crianças pra passar. Então até a próxima.
O casais Smirnoff e Drähm se despedem. Karine e Derlaine trocam dois beijos no rosto e abraços. Os casais opostos fazem o mesmo. Klaus e Benvindo trocam abraços e apertos de mão. Saem do restaurante sem pagar a conta.
* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores.
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