sexta-feira, 9 de dezembro de 2011







Angelicamente

* Por Flora Figueiredo

Que chatos são os anjos!
Candidamente apoiados em liras douradas,
esvoaçando brancos,
sem dizer nada.
Têm caracóis na testa
e são rosados,
pobres assexuados sobre um fundo azul clarinho.
Caçam as nuvens para levar
por roteiro algum
a nenhum lugar:
coisa de anjinho.
Quem sabe se, de repente,
a lira escorregar
ou sua asa afrouxar um bocadinho,
ele vá resvalar nas pontas de um tridente.
Lá embaixo a temperatura é diferente
e refogada em condimentos especiais.
Certamente o anjinho há de gostar e querer mais.
Se decidir se filiar,
podemos então participar da mesma festa.
Abram-se os salões,
agitem-se os violões, o banjo, o piano.
Sirva-se o vinho da safra mais seleta.
Vão finalmente sentar-se à mesma mesa
a pureza do anjo e a voz do poeta.


Do livro “Amor a céu aberto”.



• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

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