Na onda do marketing
* Por Clóvis Campêlo
O meu amigo Renato Boca-de-Caçapa, o filósofo do povo, sempre tem razão. E tudo indica que ele acertou mais uma vez. Falo dessa pendenga entre os irmãos “sertanejos” Zezé de Camargo e Luciano. Desde o início que o ilustre pensador movido a álcool afirmou com convicção de que essa briga nada mais era do que uma estratégia de marketing. Deu certo. Em menos de uma semana, a dupla se fez presente em todos os “grandes” programas da televisão brasileira. E o que é melhor: publicidade de graça. Ninguém merece.
Nos meus devaneios dominicais diante da máquina de fazer doido, terminei voltando no tempo e lembrando da falsa notícia inventada pelo falecido Carlos Imperial, no final dos anos 60, sobre Luiz Gonzaga. O velho Lua andava por baixo na mídia, ofuscado pela novidade das guitarras da Jovem Guarda, e para colocá-lo novamente em evidência, Imperial lançou a notícia de os Beatles iriam gravar a música Asa Branca. Na época, os Fab Four haviam acabado de lançar o álbum Abbey Road e a notícia estourou como uma bomba na imprensa nacional. Só na revista Veja, foi feita uma matéria de quatro páginas falando sobre o assunto e abordando a carreira musical de Luiz Gonzaga, a sensibilidade dos Beatles, a fusão da música pop com o baião etc. A invenção rendeu bons dividendos ao Rei do Baião que durante algumas semanas ocupou um espaço privilegiado na mídia.
Os próprios Beatles, aliás, eram mestres na arte de divulgar os seus trabalhos assim. Na capa do disco Abbey Road, acima citado, aparecem os quatro músicos atravessando a rua, com Paul McCartney de terno e descalço (na Inglaterra, os mortos são enterrados assim) e com um fusca, ao fundo, onde se lia a placa IF 28. Ou seja, uma alusão à suposta morte de Paul, que, se estivesse vivo estaria com a idade de 28 anos. Uma estratégia inteligente e uma história que hoje todo mundo conhece.
No disco Sargent Peppers, os meninos de Liverpool aparecem com roupas psicodélicas coloridas e flores nas mãos, participando do enterro dos “velhos” Beatles de terninhos comportados e cabelos bem cortados, ao lado de grandes figuras do cinema, das artes e dos esportes, admiradas pelos quatro. Nem é preciso dizer que o disco traz o renascimento musical do grupo, com a consolidação de novas propostas já esboçadas em discos anteriores. Mais uma jogada publicitária de mestres.
Mas, infelizmente, Zezé de Camargo e Luciano não são os Beatles e não trazem, muito menos, na sua bagagem musical, a perspectiva de uma mudança significativa. O fato novo se esgotará em si mesmo, até que seja necessária uma nova jogada de marketing em busca da atenção da mídia e da emotividade do seu público consumidor. Ideias curtas, música pobre e ruim.
Será que nós merecemos isso?
• Poeta, jornalista e radialista.
* Por Clóvis Campêlo
O meu amigo Renato Boca-de-Caçapa, o filósofo do povo, sempre tem razão. E tudo indica que ele acertou mais uma vez. Falo dessa pendenga entre os irmãos “sertanejos” Zezé de Camargo e Luciano. Desde o início que o ilustre pensador movido a álcool afirmou com convicção de que essa briga nada mais era do que uma estratégia de marketing. Deu certo. Em menos de uma semana, a dupla se fez presente em todos os “grandes” programas da televisão brasileira. E o que é melhor: publicidade de graça. Ninguém merece.
Nos meus devaneios dominicais diante da máquina de fazer doido, terminei voltando no tempo e lembrando da falsa notícia inventada pelo falecido Carlos Imperial, no final dos anos 60, sobre Luiz Gonzaga. O velho Lua andava por baixo na mídia, ofuscado pela novidade das guitarras da Jovem Guarda, e para colocá-lo novamente em evidência, Imperial lançou a notícia de os Beatles iriam gravar a música Asa Branca. Na época, os Fab Four haviam acabado de lançar o álbum Abbey Road e a notícia estourou como uma bomba na imprensa nacional. Só na revista Veja, foi feita uma matéria de quatro páginas falando sobre o assunto e abordando a carreira musical de Luiz Gonzaga, a sensibilidade dos Beatles, a fusão da música pop com o baião etc. A invenção rendeu bons dividendos ao Rei do Baião que durante algumas semanas ocupou um espaço privilegiado na mídia.
Os próprios Beatles, aliás, eram mestres na arte de divulgar os seus trabalhos assim. Na capa do disco Abbey Road, acima citado, aparecem os quatro músicos atravessando a rua, com Paul McCartney de terno e descalço (na Inglaterra, os mortos são enterrados assim) e com um fusca, ao fundo, onde se lia a placa IF 28. Ou seja, uma alusão à suposta morte de Paul, que, se estivesse vivo estaria com a idade de 28 anos. Uma estratégia inteligente e uma história que hoje todo mundo conhece.
No disco Sargent Peppers, os meninos de Liverpool aparecem com roupas psicodélicas coloridas e flores nas mãos, participando do enterro dos “velhos” Beatles de terninhos comportados e cabelos bem cortados, ao lado de grandes figuras do cinema, das artes e dos esportes, admiradas pelos quatro. Nem é preciso dizer que o disco traz o renascimento musical do grupo, com a consolidação de novas propostas já esboçadas em discos anteriores. Mais uma jogada publicitária de mestres.
Mas, infelizmente, Zezé de Camargo e Luciano não são os Beatles e não trazem, muito menos, na sua bagagem musical, a perspectiva de uma mudança significativa. O fato novo se esgotará em si mesmo, até que seja necessária uma nova jogada de marketing em busca da atenção da mídia e da emotividade do seu público consumidor. Ideias curtas, música pobre e ruim.
Será que nós merecemos isso?
• Poeta, jornalista e radialista.
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