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* Por Fernando Yanmar Narciso
Já imaginou como seria se todos os problemas de nossas vidas pudessem ser resolvidos num período de oito meses?
A menos que tenha nascido ontem, você é capaz de dizer que os temas universais das novelas são imutáveis, as únicas coisas que mudam são os personagens e locações.
É claro que a mentalidade do país mudou com os virares da ampulheta, mas a vida daqueles pobres e sofredores personagens é sempre unidimensional, circular e “dejá-vuesca”. Exatamente os mesmos dramas, as mesmas intrigas, as mesmas motivações... Existem apenas duas moedas de troca no universo folhetinesco: Dinheiro e virilha.
Toda hora um personagem supostamente do bem tem sua honestidade posta no paredão. A fatídica maleta preta cheia de dólares/ jóias/ papeladas/ fotos comprometedoras sempre aparece, e de cada 10 personagens, ao menos uns 8 concordam em aceitar o suborno pra continuar de boca fechada. E ainda tem os dossiês, que volta e meia o mocinho ou o bandido sacam de dentro da manga pra encolher o ego de seu algoz.Você já tentou conseguir um dossiê pra f$%&$ com alguém? Será tão fácil assim conseguir provas contra alguém antes da polícia? Até o ACM tinha de suar a camisa de vez em quando pra tentar incriminar suas desavenças no congresso.
Em 1966, quando fazia o papel de vilão na novela O Sheik De Agadir, Emiliano Queiroz levou uma surra de guarda-chuva de uma velhinha na rua, no dia seguinte ao episódio em que ele havia matado um personagem muito querido do público. Hoje em dia pode parecer uma idéia absurda, mas muito antigamente, quando os atores conseguiam acertar no tom de maldade de seus personagens, eram hostilizados pelo país inteiro quando saíam na rua, como se todo aquele samba do afro-descendente doido fosse real. E agora, os mais hostilizados na rua são os mocinhos puros e virginais.
Os autores, principalmente os da Vênus Platinada, sempre se saem com a mesma desculpa: Nós não incentivamos o mal, nós o denunciamos. Seeeeeei... Pergunta pro “velhota” Aguinaldo Silva qual é a lição de moral que ele pretende dar na audiência com a personagem Solange, uma funkeira de 13 anos de idade que não apenas odeia estudar, como tem uma mãe que incentiva a filha em sua “carreira artística”... E ainda caem de pau no pai dela, por tentar colocar juízo na cabeça das duas, ainda que de um jeito bem enviesado. Podem até bater em mim, mas creio eu que a única forma da personagem aprender alguma lição na trama é se ela engravidar num baile funk.
Pode parecer uma comparação bizarra, mas recentemente me dei conta do quanto os folhetins se assemelham à indústria pornô, salvas as proporções. Em ambas as formas de entretenimento...
-Todo homem é simplesmente IR-RE-SIS-TÍ-VEL e leva a mulher pra cama com dois minutinhos de conversa;
-NÃO EXISTEM galãs asiáticos, impotência sexual, gente feia no mundo, camisinha nem DSTs.;
-Toda mulher quer sexo em qualquer ocasião;
-Só as gostosas transam, não importa a idade;
-Elas nunca dizem que não estão a fim "daquilo", nem que têm dor de cabeça ou estão menstruadas.
Quem dera o mundo fosse assim...
Isso sem falar que as mulheres nunca acordam no dia seguinte com a cara amassada e a maquiagem borrada. Deve ser que nem no programa do Beakman, quando eles criaram uma máquina pra escovar os dentes do rato Lester enquanto ele dormia...
Fora isso, há vários outros clichês, criados pela Mestra Janete Clair que aparentemente não venceram o prazo de validade ainda, como o famoso golpe da barriga. Todas as tramas usam esse truque pra condenar os homens à forca, e quase sempre o bebê é falso como uma nota de R$ 500,00. Aliás, já repararam como a gravidez quase sempre é vista como um castigo? Quando a mulher engravida, ou o pai ou a mãe fazem questão de pedir o aborto. E, como em novela a gravidez geralmente leva só um mês e meio, basta o pai ou a mãe segurarem o rebento renegado após o parto para os “instintos maternais” desabrocharem. Ah, e eles saem com cara e tamanho de bebê de 2 anos. Devem ser partos muito doídos...
Mas, de uma forma ou de outra, os pobres, mal-instruídos e alienados telespectadores continuam enchendo os bolsos das emissoras e fazendo o IBOPE subir igual um termômetro de peru. Quem disse que a diversão precisa ser inteligente?
• Designer
Já imaginou como seria se todos os problemas de nossas vidas pudessem ser resolvidos num período de oito meses?
A menos que tenha nascido ontem, você é capaz de dizer que os temas universais das novelas são imutáveis, as únicas coisas que mudam são os personagens e locações.
É claro que a mentalidade do país mudou com os virares da ampulheta, mas a vida daqueles pobres e sofredores personagens é sempre unidimensional, circular e “dejá-vuesca”. Exatamente os mesmos dramas, as mesmas intrigas, as mesmas motivações... Existem apenas duas moedas de troca no universo folhetinesco: Dinheiro e virilha.
Toda hora um personagem supostamente do bem tem sua honestidade posta no paredão. A fatídica maleta preta cheia de dólares/ jóias/ papeladas/ fotos comprometedoras sempre aparece, e de cada 10 personagens, ao menos uns 8 concordam em aceitar o suborno pra continuar de boca fechada. E ainda tem os dossiês, que volta e meia o mocinho ou o bandido sacam de dentro da manga pra encolher o ego de seu algoz.Você já tentou conseguir um dossiê pra f$%&$ com alguém? Será tão fácil assim conseguir provas contra alguém antes da polícia? Até o ACM tinha de suar a camisa de vez em quando pra tentar incriminar suas desavenças no congresso.
Em 1966, quando fazia o papel de vilão na novela O Sheik De Agadir, Emiliano Queiroz levou uma surra de guarda-chuva de uma velhinha na rua, no dia seguinte ao episódio em que ele havia matado um personagem muito querido do público. Hoje em dia pode parecer uma idéia absurda, mas muito antigamente, quando os atores conseguiam acertar no tom de maldade de seus personagens, eram hostilizados pelo país inteiro quando saíam na rua, como se todo aquele samba do afro-descendente doido fosse real. E agora, os mais hostilizados na rua são os mocinhos puros e virginais.
Os autores, principalmente os da Vênus Platinada, sempre se saem com a mesma desculpa: Nós não incentivamos o mal, nós o denunciamos. Seeeeeei... Pergunta pro “velhota” Aguinaldo Silva qual é a lição de moral que ele pretende dar na audiência com a personagem Solange, uma funkeira de 13 anos de idade que não apenas odeia estudar, como tem uma mãe que incentiva a filha em sua “carreira artística”... E ainda caem de pau no pai dela, por tentar colocar juízo na cabeça das duas, ainda que de um jeito bem enviesado. Podem até bater em mim, mas creio eu que a única forma da personagem aprender alguma lição na trama é se ela engravidar num baile funk.
Pode parecer uma comparação bizarra, mas recentemente me dei conta do quanto os folhetins se assemelham à indústria pornô, salvas as proporções. Em ambas as formas de entretenimento...
-Todo homem é simplesmente IR-RE-SIS-TÍ-VEL e leva a mulher pra cama com dois minutinhos de conversa;
-NÃO EXISTEM galãs asiáticos, impotência sexual, gente feia no mundo, camisinha nem DSTs.;
-Toda mulher quer sexo em qualquer ocasião;
-Só as gostosas transam, não importa a idade;
-Elas nunca dizem que não estão a fim "daquilo", nem que têm dor de cabeça ou estão menstruadas.
Quem dera o mundo fosse assim...
Isso sem falar que as mulheres nunca acordam no dia seguinte com a cara amassada e a maquiagem borrada. Deve ser que nem no programa do Beakman, quando eles criaram uma máquina pra escovar os dentes do rato Lester enquanto ele dormia...
Fora isso, há vários outros clichês, criados pela Mestra Janete Clair que aparentemente não venceram o prazo de validade ainda, como o famoso golpe da barriga. Todas as tramas usam esse truque pra condenar os homens à forca, e quase sempre o bebê é falso como uma nota de R$ 500,00. Aliás, já repararam como a gravidez quase sempre é vista como um castigo? Quando a mulher engravida, ou o pai ou a mãe fazem questão de pedir o aborto. E, como em novela a gravidez geralmente leva só um mês e meio, basta o pai ou a mãe segurarem o rebento renegado após o parto para os “instintos maternais” desabrocharem. Ah, e eles saem com cara e tamanho de bebê de 2 anos. Devem ser partos muito doídos...
Mas, de uma forma ou de outra, os pobres, mal-instruídos e alienados telespectadores continuam enchendo os bolsos das emissoras e fazendo o IBOPE subir igual um termômetro de peru. Quem disse que a diversão precisa ser inteligente?
• Designer
Crítica bem ácida e corrosiva, como sempre. A novela é estereotipada, mas a sua crítica também não deixa de ser. A listagem quebrou um pouco o ritmo, mas não sei sugerir alguma forma melhor de fazê-la, e nem acho que deva suprimi-la. Ainda assim, achei ótimo o texto, pois diverte.
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