terça-feira, 1 de novembro de 2011







A doença de Lula

* Por Paulo Ghirardelli Jr.

Lula foi pego de surpresa: tem de ir para um tratamento médico. Lula foi presidente da República duas vezes. Com o seu salário pode pagar médico como eu pago: particular. Não cabe a ele dar uma de demagogo e ir se tratar pelo SUS. Seria irresponsabilidade para com ele, para com a família dele e, enfim, para com os brasileiros que esperam dele uma contínua participação na política. Ninguém faria isso. Ninguém, podendo pagar, iria optar por um tratamento do serviço público. Também não cabe fazermos qualquer pessoa, político ou não, tirar vaga no SUS, caso possa pagar. E ainda mais: não há protesto político que se justifique, contra o SUS, se para tal é necessário usar das agruras individuais de quem quer que seja, muito menos do ex-presidente. Até porque o ex-presidente, junto com FHC, monta a dupla de governantes que empurrou este país para a condição que estamos hoje, que é muito melhor – em todos os sentidos – do que a da década de oitenta. Só não quer perceber isso quem teima na cegueira ou quem é viuvinha da Ditadura Militar. Não sou apoiador incondicional de Lula, ao contrário. Mas, não sou burro.
Todavia, há quem, por exclusiva mágoa pessoal, por ser pessoalmente um derrotado, aproveita da doença do ex-presidente para vir gritar contra ele, fingindo que está gritando contra o SUS. São os que estão fazendo uma “campanha” – devidamente orquestrada na Internet – com o título: “Lula, trate-se pelo SUS”. Na ingenuidade, muitos que são antipetistas ou que têm divergências com Lula por conta do “mensalão” e coisas parecidas, engrossam a tal “campanha”. Mas, na base dela, não há divergência política – é isso que assusta. Na base o que há é a derrota. Não digo derrota política não. Digo, derrota pessoal. Ou seja, ainda há no Brasil aqueles que se acham melhores que um operário que virou presidente. Aqueles que nunca fizeram nada por si mesmos ou que realmente são incompetentes e, então, falam diante do espelho: “o que é que um operário barbudo, analfabeto, tem que eu não tenho, porque ele e não eu?” Lula sempre foi vítima disso. Sempre despertou esse tipo de sentimento em determinados grupos da população, que antes nós, filósofos com algum jargão de esquerda, chamávamos de “lumpesinato”. Hoje, não se trata mais de usar esse termo. O que temos que falar é, sim, na aliança entre o preconceito contra figuras como o Lula e a própria derrota pessoal.
O preconceito aliado à derrota pessoal gera um sentimento horrível que pode atingir ricos e pobres, não importa. Lula causa asco nesses grupos de invejosos, de mal amados, exatamente porque ele não só teve sucesso pessoal, mas porque, em boa medida, algo que ele prometeu ele cumpriu, e que parecia impossível. Ele fez realmente uma política que ampliou o mercado interno e possibilitou que mais gente viesse para a classe média, e fez isso sem romper com a democracia liberal. Lula passou a ser aplaudido pela população a despeito de todas as falhas do PT na condução do combate à corrupção. Esse êxito pessoal de Lula bate de frente com a derrota pessoal dos que alimentam, agora, a indisposição contra ele na Internet.
Esse movimento na Internet não é eleitoreiro. Ainda não é. Ele é ruim exatamente porque não se trata de política, é apenas o ódio interior de todo aquele que não suporta o êxito do outro. Como sempre tive sucesso nos meus empreendimentos, sei bem o que é virar alvo desse tipo de inveja que aponta suas baterias contra Lula. Sei que isso vem bem do interior do inferno. O inferno das almas dos derrotados e preteridos. Os Caims da vida.
Sobre esse tipo de sentimento, aproveitando-se dele, é que todos os regimes extremados, de direita e esquerda, fizeram sua história.

• Filósofo, escritor e professor

Um comentário:

  1. Parabéns, professor o Sr. disse tudo que eu gostaria de dizer, com a competência de um mestre, escritor e filósofo.Fui sua aluna na Unesp de Marília por um breve período,me sinto orgulhosa em ter na minha formação acadêmica e na vida a convivência de pessoas grandiosas como você. um grande abraço, Prof: Ana Claudia.

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