quinta-feira, 1 de setembro de 2011







A solução final

* Por Fernando Yanmar Narciso

Cada pessoa de bom senso nesse país está careca de saber que nossa música popular há aproximadamente 15 anos tornou-se um morto-vivo desfigurado e de atividade cerebral praticamente nula. Não há uma única forma de música moderna que não seja abastecida por futilidade e superficialidade. Um dos vários males que vieram com a vida virtual é que já não existem barreiras. Qualquer Zé- ou Luan- acredita que, para ser músico, basta ter um computador e noções básicas de como um instrumento musical funciona. Na verdade, você sequer precisa saber cantar e tocar atualmente. Basta gravar seus esgares e uivos no computador e o Autotune cuida do resto.
Porém, depois de muito meditar e ponderar sobre a existência desses auto-intitulados artistas, creio eu ter encontrado a saída para nós, pobre e desprezada vida inteligente do país. Eis aqui algumas fórmulas que, se efetuadas com sucesso, com certeza trarão a boa música de volta ao país em… Mais 15 anos.
Para começar, tragam a ditadura de volta. É fato incontestável que as melhores canções já compostas no Brasil vieram do período que vai de 1964 a 1985. Grandes gênios como Raul, Caetano, Gil, Chico e Vandré dificilmente teriam ficado tão populares se não tivessem sido perseguidos pelos milicos e convidados a se retirar do país. Nada deixa um músico mais danado que não ter liberdade de expressão.
Certos grupos sociais precisam ser proibidos de fazer música. Quanto menos condições financeiras e intelectuais tiver, mais distância deve manter do microfone. Aí se incluem pagodeiros, cantores de axé, tecnobrega, sertanejos-pop e funkeiros. Se, mesmo com a ditadura, os grupinhos insistirem em cantar, exílio neles. Que seja criado um tipo de Triângulo das Bermudas no meio do nada, sem contato com celulares, MP3 players e computadores, onde não haja nada além de livros e só possam se comunicar com o país por telefone e de madrugada.
Se você for roqueiro, trate de compor coisas inteligentes. Nada de cantar sobre passeios no shopping com a namoradinha, levar o poodle no pet-shop ou sair pra balada. Lembrem-se sempre, roqueiros são SEMPRE contestadores, JAMAIS alienados. Se quiserem cantar sobre namoro, amor, beijo na boca e afins, usem ironia, escárnio e deboche. Outra coisa muito importante: Se vocês vivem num condomínio de luxo numa cidade-pólo, nem pensem em montar uma banda de rock. Afinal, vocês não têm motivos para reclamar da vida.
E, acima de tudo: Leiam. Estudem. Leiam mais livros, mas não desses livros-modinha best-sellers de J.K Rowling e Stephenie Meyers, e sim aqueles livros do século XIX, semi-incompreensíveis, que são o terror dos vestibulares.
Há muito tempo, a impressão que temos é que brasileiro sente orgulho em ser burro e pobre. Ok, é consenso que a que a grande maioria dos livros clássicos brasileiros foram escritos num tempo que nem 1/10 da população do país era alfabetizada, e portanto eles podiam escrever com a linguagem mais empolada que conseguissem e com o máximo de páginas que seus egos permitissem, mas qualquer um que nunca tenha ouvido falar em Dom Casmurro ou Os Sertões sequer devia se aventurar no mundo da música. E, pirralhos coloridos, ler Capricho e acessar Orkut, Facebook, Myspace e Twitter NÃO contam como leitura!
Ah, qualé, gente? 15 anos passam tão rápido…

• Designer e colunista do Literário, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. Déspota para nenhum ditador colocar defeito. Ainda bem que seu poder de fogo é pequeno, não em relação a pensar, mas em fazer valer as suas opiniões. Mas calma, que há plateia para todos os discursos, por mais imbecis que eles sejam. Sempre haverá alguém para ler e ouvir qualquer coisa, inclusive isso que estou escrevendo.

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