O gelo e o fogo
* Por Pedro J. Bondaczuk
O desenvolvimento de uma personalidade sadia, integrada e, sobretudo, voltada para o mundo, e não para o interior das pessoas, é uma das tarefas principais do ser humano durante sua existência. Pode parecer até um paradoxo esse empenho, já que cada indivíduo que nasce é único, sem qualquer similar no passado e no futuro. Podem surgir sósias, há identidade de características biológicas em gêmeos univitelinos, no entanto não existem e nem existirão duas pessoas exatamente iguais. Cada uma delas é única, é original, é um mundo, é um universo complexo e indesvendável em sua totalidade.
Todavia, há comportamentos padrões que massificam, descaracterizam, nulificam o indivíduo. Daí ele ter de desenvolver o seu distintivo, a sua marca pessoal que se convencionou chamar de "personalidade".
Haveria, porém, como determinar tipos, como o ideal e o pernicioso? Temos, por exemplo, a questão da genialidade, que nunca foi bem entendida. O gênio, em geral, é incompreendido pelos seus contemporâneos. Alguns chegam a ser confundidos com loucos, posto que os comportamentos se assemelham na medida em que ambos diferem daquele convencionado como sendo o normal.
Sua marca fica impressa na obra que deixa, que resiste à efemeridade e se perpetua, na maioria das vezes, muitos anos após a sua morte. Caso típico é o do pintor holandês Vincent Van Gogh.
Fernando Pessoa, ele próprio um intelectual genial, hoje reconhecido por todos como desses raros talentos marcantes, que surgem apenas de quando em quando, escreveu a respeito o seguinte: "O gênio é a insanidade tornada sã pela diluição do abstrato, como um veneno convertido em remédio mediante mistura. Seu produto próprio é a novidade abstrata --- isto é, uma novidade que, no fundo, se conforma com as leis gerais da inteligência humana e não com as leis particulares da doença mental. A essência do gênio é a inadaptação ao ambiente; é por isso que o gênio (a menos que seja acompanhado de talento de espírito) é em geral incompreendido pelo seu ambiente; e eu digo 'em geral' e não 'universalmente' porque muito depende do ambiente. Não é a mesma coisa ser um gênio na antiga Grécia e na moderna Europa ou no mundo moderno".
Existe alguma forma do indivíduo moldar sua personalidade ou esta é produto da educação e do meio em que ele vive e, portanto, mera fatalidade? As opiniões a respeito divergem. Muitos educadores entendem que a moldagem é possível e a vontade tem um papel determinante nessa tarefa.
Outros, por sua vez, acham que não. O pensador Balmes chegou a apresentar uma fórmula para essa construção de uma identidade positiva: "A verdadeira personalidade deve ter cabeça de gelo, coração de fogo e braços de ferro".
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
* Por Pedro J. Bondaczuk
O desenvolvimento de uma personalidade sadia, integrada e, sobretudo, voltada para o mundo, e não para o interior das pessoas, é uma das tarefas principais do ser humano durante sua existência. Pode parecer até um paradoxo esse empenho, já que cada indivíduo que nasce é único, sem qualquer similar no passado e no futuro. Podem surgir sósias, há identidade de características biológicas em gêmeos univitelinos, no entanto não existem e nem existirão duas pessoas exatamente iguais. Cada uma delas é única, é original, é um mundo, é um universo complexo e indesvendável em sua totalidade.
Todavia, há comportamentos padrões que massificam, descaracterizam, nulificam o indivíduo. Daí ele ter de desenvolver o seu distintivo, a sua marca pessoal que se convencionou chamar de "personalidade".
Haveria, porém, como determinar tipos, como o ideal e o pernicioso? Temos, por exemplo, a questão da genialidade, que nunca foi bem entendida. O gênio, em geral, é incompreendido pelos seus contemporâneos. Alguns chegam a ser confundidos com loucos, posto que os comportamentos se assemelham na medida em que ambos diferem daquele convencionado como sendo o normal.
Sua marca fica impressa na obra que deixa, que resiste à efemeridade e se perpetua, na maioria das vezes, muitos anos após a sua morte. Caso típico é o do pintor holandês Vincent Van Gogh.
Fernando Pessoa, ele próprio um intelectual genial, hoje reconhecido por todos como desses raros talentos marcantes, que surgem apenas de quando em quando, escreveu a respeito o seguinte: "O gênio é a insanidade tornada sã pela diluição do abstrato, como um veneno convertido em remédio mediante mistura. Seu produto próprio é a novidade abstrata --- isto é, uma novidade que, no fundo, se conforma com as leis gerais da inteligência humana e não com as leis particulares da doença mental. A essência do gênio é a inadaptação ao ambiente; é por isso que o gênio (a menos que seja acompanhado de talento de espírito) é em geral incompreendido pelo seu ambiente; e eu digo 'em geral' e não 'universalmente' porque muito depende do ambiente. Não é a mesma coisa ser um gênio na antiga Grécia e na moderna Europa ou no mundo moderno".
Existe alguma forma do indivíduo moldar sua personalidade ou esta é produto da educação e do meio em que ele vive e, portanto, mera fatalidade? As opiniões a respeito divergem. Muitos educadores entendem que a moldagem é possível e a vontade tem um papel determinante nessa tarefa.
Outros, por sua vez, acham que não. O pensador Balmes chegou a apresentar uma fórmula para essa construção de uma identidade positiva: "A verdadeira personalidade deve ter cabeça de gelo, coração de fogo e braços de ferro".
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Mistura impossível,essa definição de personalidade, nos faz crer que não existem personalidades verdadeiras.
ResponderExcluir