Os pregões que me lembro do Recife “matuto” - Parte 3
* Por Paulo Lisker (Israel)
A continuação, nesta crônica apresentarei outros pregões dos anos 30-40 e que nós meninos da Rua Gervásio Pires no Recife matuto não esquecemos mesmo com o passar dos anos e a memória em "pandarecos" pela idade avançada.
Ouvíamos as cantigas, conhecíamos os textos e muito admirávamos estes pregões e os vendedores ambulantes que nos traziam a porta de casa todo o necessário para satisfazer as necessidades da família.
Como segue abaixo:
O MASCATE
Batia num apetrecho de madeira que produzia um "CLAC, CLAC, CLAC" e anunciava num sotaque estranho:
"OOOOH MASCATE", OOOH MASCATE,
MASCATEEEEEEIU. "....
Carregava nos ombros uma enorme caixa.
Um verdadeiro império (botões, tesourinhas, agulhas, dedais, alfinetes de segurança, linha de todas as cores, tudo que era bugiganga).
Este valente português, também procurava uma nova vida nas Américas e suava litros sem beber água durante todo o dia naquele Recife quente e úmido danado.
Minha mãe quando comprava algo para sua costura, costumava levar até a porta uma quartinha (tinha disso no Recife naquele tempo) com água fria e um copo, Oferecia sombra e água fresca nos poucos minutos que o portuga baixava dos ombros a sua caixa com a mercadoria que carregava.
Quando voltava para dentro de casa, meu avô perguntava: Prá quem levaste água minha filha e a resposta era: Pro coitado do mascate portuga, "Zol er nisht peiguern in inzer tir, noch dus feilt mich" (para que não morra, na nossa porta, só isso era o que faltava,em iídiche).
Coitado, continuava ela a se explicar por ter servido água a um estranho: "Er shvitst vi a belguisher ferd" (estava suando como um cavalo belga quando puxa arado), e terminava dizendo: Ele é muito boa gente, educado, não é pra menos, é europeu!
Mesmo sem querer, o complexo de superioridade despontava. "Ele é europeu" como eu.
O VENDEDOR DE FRANGOS E GALINHAS
Este vendedor vinha montado num cavalo com dois balaios, um de cada lado, um pra frangos e outro para galinhas.
Já de longe se escutava:
"PATROA HOJE TEM O QUE NINGUÉM TEM. GALINHA GORDA SEM "GOGO" E DE PAPO VAZIO, FRANGUINHO NOVINHO PRA SOPINHA DA VOVÓ E O NENENZINHO, TUDO BEM BARATINHO. GALINHA GORDA, FRANGUINHO ALVINHO, NOVINHO, NOVINHO, É SO VIM BUSCAR E LEVAR. GALINHA SEM GOGO, FRANGUINHO, VÈ SÓ QUE COISA LINDA DE DÁ GOSTO, TENHO CAPÃO PRA QUEM SE APRESSAR. SÓ FICÔ TRÊS!
Este senhor era exímio em tirar da cangalha sem nem olhar a mercadoria exatamente o que desejava a patroa naquele dia.
Ele metia a mão no balaio e sacava as cegas exatamente o pedido. Para que balança, ele era a balança, ainda mais que todas tinham o mesmo preço.
Do balaio das galinhas gordas, eram todas um só único preço. No balaio dos frangos também a mesma coisa. Somente o capão era mais caro, pois trazia muito mais carne!
Quem já viu montado num cavalo precisar balança. Prá que?
Ele tinha os dias certos na semana pra passar na nossa rua e as patroas já sabiam de cor estes dias para não perder a compra dum capão bonitão (nós os meninos sabíamos que o capão era o "fresco" dos galos), um franginho para a ceia do sábado ou uma galinha bem gorda para a sopa.
Com a gordura excedente destas galinhas velhas e gordonas as cozinheiras judias preparavam "torresmo Kusher" (Grivalach, em iídiche) o único permitido pela religião judaica, pois de porco era terminante proibida. (Treifá, em hebraico. O idioma que falava Jesus Cristo.)
Este "vendedor montado" era muito chegado à comunidade israelita do Recife, conhecia a maioria dela pelo nome e também das empregadas.
Na realidade as famílias judias do Recife eram sua melhor freguesia.
Ele sabia que os judeus tinham um costume ancestral de preparar "torresmo" da banha e pele de galinha bem gorda e quanto mais gorda mais rendia.
Nem todo mundo gosta da ave muito gorda, cheia de banha (a feté hin, em iidiche) e o "vendedor montado" logo identificou nestes judeus, um mercado promissor para estas galinhas velhas, gordas em geral "chocas" (período pos postura), o importante era que estivessem isentas da doença do "gogo" (gripe de aves).
Fazia-se de inocente, falava mansinho contando para a patroa como estas galinhas gordas foram criadas a "pão de ló" na sua granja em Afogados e que estão mesmo no ponto para irem pra panela.
Ele não media esforços, usava todas sua "lábia", uma maneira elegante de convencer a alguém que já estava convencido.
Recebia dos judeus um preço que cristão nenhum daria e nem olharia pra aquela banda.
Realmente as judias compravam todas, não ficava uma para "remédio ou amostra"!
Grivalach, hoje faremos grivalach e um pote de "shmaltz", a alegria se apossava da colônia judaica.
Não tem judeu que não provou este tipo de "torresmo de banha de galinha",
Ele ao natural ou com outras comidas judaicas, assim como, "knishes, kreplach, varenikes, guloseima de massa com recheios diversos, purê de batata ou cebola frita ou carne picada ou mesmo queijo branco salgado, todos estes levavam os "grivalach" como componente essencial do recheio. Era o que na realidade dava o gostinho na língua e lembrava a cozinha judaica nos "shteitalach" da Europa. (as pequenas aldeias interioranas nos seus países onde viveram no passado).
O "shmaltz" que é o azeite subproduto da fritura da banha da galinha gorda usada para produzir os "grivalach".
Este shmaltz quando passado numa fatia de pão branco com sal com uma cebolinha e dois dedos de cachaça qualquer, acreditem, era de se lamber os beiços.
Era comum ouvir na venda de dona Rosa na Rua da Matriz o seu marido que era bom em tomar uns goles durante o dia todo dizer: "O problema que no Recife não tem o inverno como na Rússia, pois este shmaltz no pão preto com uma cebolinha é o irmão gêmeo do aguardente, andam sempre juntos.
Alguém que estava presente refutava: Então por que o senhor aqui no Recife sempre está "tocado" tomando cachaça?
Ele rindo e sem titubear respondia: quando faz calor é pra esfriar o corpo e quando chove e faz um tiquinho de frio é para esquentar os velhos ossos (de alte beiner, em iidiche) e não pegar reumatismo.
Quem gosta da "água que passarinho não bebe", não precisa motivo especial para emborcar um "aperitivo".
Este "shmaltz" posto num pote bem fechado dura a vida inteira sem se deteriorar mesmo nas condições da temperatura ambiental do Recife tropical.
Considerem que isto foi no tempo que o colesterol era desconhecido, assim sendo, não espantava a ninguém.
Numa ocasião um amigo católico do meu avô foi convidado para jantar na nossa casa. Quando olhava as comidas judaicas postas na mesa nesta festa familiar, disse:
-Senhor Joseph, não é pra botar azar, mas vocês judeus morrem feito peixe.
Como? Perguntou surpreso o meu avô.
Pela boca seu Joseph, pela boca!
Ele não sabia como tinha razão!
O PASTOR DE PERUAS
Nos tempos de festas aparecia o "PASTOR DE PERUAS".
Seu pregão era:
"PERU, PERU NOVINHO PRAS FESTAS DE NATAL E ANO NOVO QUE ESTÁ PERTIN. QUEM NÃO QUER UMA PERUA NOVINHA BEM FORNEADA NA MESA DO NATAL. PAPAI NOÉ VAI FICÁ ZANGADO!
PERU NOVINHO, O ÚNICO BICHIN QUE MORRE NA VÉSPRA, TADINHO".
O "pastor" caminhava na calçada que fazia sombra e na sua frente caminhavam obedientemente uma dúzia ou mais de peruas e às vezes 4 ou 5 patos também.
"XÔ, XÔ, XÔ PERU, MARCHA, CAMINHA, XÔ, XÔ, XÔ PERU, NUN SAI DA LINHA, AONDE VAI BOBÃO, SE TU NÃO VAI DIREITIN TU CABAS NO FACÃO! XO, XO, XO, PERU"!
Lembro-me que isso acontecia nas vésperas do Natal e Ano Novo, esporadicamente em outras épocas do ano.
Alguém me disse que quando se vê o "Pastor de Peruas" fora do tempo de festas cristãs, pode estar certo que logo-logo será comemorado "Rosh Hashaná" ("Rosheshune", Ano Novo dos judeus) ou vai haver batizado, noivado ou casamento na casa de um deles, pois sem este prato na festa, seriam considerados mesquinhos.
Então viva o peru!
O VENDEDOR DO "MINDUBIN" (Amendoim)
Assim ele anunciava seu produto: "MINDUBIN TORRADO E COZIDO" (amendoim em casca, salgado, torrado e cozinhado).
Este último acho que só existe no nordeste brasileiro.
O VENDEDOR DE BOLINHO E TARECO
Lembro-me do "boleiro", que vendia a broa, grude, e tareco levava uma pequena sineta anunciando a sua chegada.
Trazia os seus produtos em uma espécie de mesa envidraçada com quatro pernas, usava uma ródia e a carregava na cabeça. Quando aparecia um comprador qualquer, botava o móvel na calçada, e servia com o auxílio de um garfo velho e meio enferrujado.
Na minha rua também passava um desses, ele tinha um apelido, não sei bem por qual razão. Talvez por ser baixinho e feio pra burro!
Os meninos da rua diziam que os bolinhos davam dor de barriga e caganeira. Mas, muita gente comprava.
As famílias judias preveniam os meninos para não comer coisas da rua e a minha mãe, nunca me deixou provar dessas delícias do "boleiro".
Era um medo doentio que essa gente tinha dessas comidas feitas e ninguém sabia como, num continente desconhecido e com poucos cuidados de higiene!
Tinha sempre em casa as conhecidas Gotas Valerianas (20 gotas em meio copo d'água) para eventuais cólicas ou febre que sempre atacava de noite os meninos de estomago mais sensível.
O mesmo era com o doce japonês. Eu tinha inveja da molecada comendo este doce caseiro, que grudava nos dentes e arrancava as obturações. Quando muito me permitiam chupar uma bala gasosa que comprava no tabuleiro do baleiro (sempre vestido uma camiseta verde meio surrada e era torcedor fanático do F.C. America). Ele estava sempre sentado na esquina da Rua do Jiriquití, vizinho do tabuleiro do "bicheiro" da nossa rua.
* Escritor
-
* Por Paulo Lisker (Israel)
A continuação, nesta crônica apresentarei outros pregões dos anos 30-40 e que nós meninos da Rua Gervásio Pires no Recife matuto não esquecemos mesmo com o passar dos anos e a memória em "pandarecos" pela idade avançada.
Ouvíamos as cantigas, conhecíamos os textos e muito admirávamos estes pregões e os vendedores ambulantes que nos traziam a porta de casa todo o necessário para satisfazer as necessidades da família.
Como segue abaixo:
O MASCATE
Batia num apetrecho de madeira que produzia um "CLAC, CLAC, CLAC" e anunciava num sotaque estranho:
"OOOOH MASCATE", OOOH MASCATE,
MASCATEEEEEEIU. "....
Carregava nos ombros uma enorme caixa.
Um verdadeiro império (botões, tesourinhas, agulhas, dedais, alfinetes de segurança, linha de todas as cores, tudo que era bugiganga).
Este valente português, também procurava uma nova vida nas Américas e suava litros sem beber água durante todo o dia naquele Recife quente e úmido danado.
Minha mãe quando comprava algo para sua costura, costumava levar até a porta uma quartinha (tinha disso no Recife naquele tempo) com água fria e um copo, Oferecia sombra e água fresca nos poucos minutos que o portuga baixava dos ombros a sua caixa com a mercadoria que carregava.
Quando voltava para dentro de casa, meu avô perguntava: Prá quem levaste água minha filha e a resposta era: Pro coitado do mascate portuga, "Zol er nisht peiguern in inzer tir, noch dus feilt mich" (para que não morra, na nossa porta, só isso era o que faltava,em iídiche).
Coitado, continuava ela a se explicar por ter servido água a um estranho: "Er shvitst vi a belguisher ferd" (estava suando como um cavalo belga quando puxa arado), e terminava dizendo: Ele é muito boa gente, educado, não é pra menos, é europeu!
Mesmo sem querer, o complexo de superioridade despontava. "Ele é europeu" como eu.
O VENDEDOR DE FRANGOS E GALINHAS
Este vendedor vinha montado num cavalo com dois balaios, um de cada lado, um pra frangos e outro para galinhas.
Já de longe se escutava:
"PATROA HOJE TEM O QUE NINGUÉM TEM. GALINHA GORDA SEM "GOGO" E DE PAPO VAZIO, FRANGUINHO NOVINHO PRA SOPINHA DA VOVÓ E O NENENZINHO, TUDO BEM BARATINHO. GALINHA GORDA, FRANGUINHO ALVINHO, NOVINHO, NOVINHO, É SO VIM BUSCAR E LEVAR. GALINHA SEM GOGO, FRANGUINHO, VÈ SÓ QUE COISA LINDA DE DÁ GOSTO, TENHO CAPÃO PRA QUEM SE APRESSAR. SÓ FICÔ TRÊS!
Este senhor era exímio em tirar da cangalha sem nem olhar a mercadoria exatamente o que desejava a patroa naquele dia.
Ele metia a mão no balaio e sacava as cegas exatamente o pedido. Para que balança, ele era a balança, ainda mais que todas tinham o mesmo preço.
Do balaio das galinhas gordas, eram todas um só único preço. No balaio dos frangos também a mesma coisa. Somente o capão era mais caro, pois trazia muito mais carne!
Quem já viu montado num cavalo precisar balança. Prá que?
Ele tinha os dias certos na semana pra passar na nossa rua e as patroas já sabiam de cor estes dias para não perder a compra dum capão bonitão (nós os meninos sabíamos que o capão era o "fresco" dos galos), um franginho para a ceia do sábado ou uma galinha bem gorda para a sopa.
Com a gordura excedente destas galinhas velhas e gordonas as cozinheiras judias preparavam "torresmo Kusher" (Grivalach, em iídiche) o único permitido pela religião judaica, pois de porco era terminante proibida. (Treifá, em hebraico. O idioma que falava Jesus Cristo.)
Este "vendedor montado" era muito chegado à comunidade israelita do Recife, conhecia a maioria dela pelo nome e também das empregadas.
Na realidade as famílias judias do Recife eram sua melhor freguesia.
Ele sabia que os judeus tinham um costume ancestral de preparar "torresmo" da banha e pele de galinha bem gorda e quanto mais gorda mais rendia.
Nem todo mundo gosta da ave muito gorda, cheia de banha (a feté hin, em iidiche) e o "vendedor montado" logo identificou nestes judeus, um mercado promissor para estas galinhas velhas, gordas em geral "chocas" (período pos postura), o importante era que estivessem isentas da doença do "gogo" (gripe de aves).
Fazia-se de inocente, falava mansinho contando para a patroa como estas galinhas gordas foram criadas a "pão de ló" na sua granja em Afogados e que estão mesmo no ponto para irem pra panela.
Ele não media esforços, usava todas sua "lábia", uma maneira elegante de convencer a alguém que já estava convencido.
Recebia dos judeus um preço que cristão nenhum daria e nem olharia pra aquela banda.
Realmente as judias compravam todas, não ficava uma para "remédio ou amostra"!
Grivalach, hoje faremos grivalach e um pote de "shmaltz", a alegria se apossava da colônia judaica.
Não tem judeu que não provou este tipo de "torresmo de banha de galinha",
Ele ao natural ou com outras comidas judaicas, assim como, "knishes, kreplach, varenikes, guloseima de massa com recheios diversos, purê de batata ou cebola frita ou carne picada ou mesmo queijo branco salgado, todos estes levavam os "grivalach" como componente essencial do recheio. Era o que na realidade dava o gostinho na língua e lembrava a cozinha judaica nos "shteitalach" da Europa. (as pequenas aldeias interioranas nos seus países onde viveram no passado).
O "shmaltz" que é o azeite subproduto da fritura da banha da galinha gorda usada para produzir os "grivalach".
Este shmaltz quando passado numa fatia de pão branco com sal com uma cebolinha e dois dedos de cachaça qualquer, acreditem, era de se lamber os beiços.
Era comum ouvir na venda de dona Rosa na Rua da Matriz o seu marido que era bom em tomar uns goles durante o dia todo dizer: "O problema que no Recife não tem o inverno como na Rússia, pois este shmaltz no pão preto com uma cebolinha é o irmão gêmeo do aguardente, andam sempre juntos.
Alguém que estava presente refutava: Então por que o senhor aqui no Recife sempre está "tocado" tomando cachaça?
Ele rindo e sem titubear respondia: quando faz calor é pra esfriar o corpo e quando chove e faz um tiquinho de frio é para esquentar os velhos ossos (de alte beiner, em iidiche) e não pegar reumatismo.
Quem gosta da "água que passarinho não bebe", não precisa motivo especial para emborcar um "aperitivo".
Este "shmaltz" posto num pote bem fechado dura a vida inteira sem se deteriorar mesmo nas condições da temperatura ambiental do Recife tropical.
Considerem que isto foi no tempo que o colesterol era desconhecido, assim sendo, não espantava a ninguém.
Numa ocasião um amigo católico do meu avô foi convidado para jantar na nossa casa. Quando olhava as comidas judaicas postas na mesa nesta festa familiar, disse:
-Senhor Joseph, não é pra botar azar, mas vocês judeus morrem feito peixe.
Como? Perguntou surpreso o meu avô.
Pela boca seu Joseph, pela boca!
Ele não sabia como tinha razão!
O PASTOR DE PERUAS
Nos tempos de festas aparecia o "PASTOR DE PERUAS".
Seu pregão era:
"PERU, PERU NOVINHO PRAS FESTAS DE NATAL E ANO NOVO QUE ESTÁ PERTIN. QUEM NÃO QUER UMA PERUA NOVINHA BEM FORNEADA NA MESA DO NATAL. PAPAI NOÉ VAI FICÁ ZANGADO!
PERU NOVINHO, O ÚNICO BICHIN QUE MORRE NA VÉSPRA, TADINHO".
O "pastor" caminhava na calçada que fazia sombra e na sua frente caminhavam obedientemente uma dúzia ou mais de peruas e às vezes 4 ou 5 patos também.
"XÔ, XÔ, XÔ PERU, MARCHA, CAMINHA, XÔ, XÔ, XÔ PERU, NUN SAI DA LINHA, AONDE VAI BOBÃO, SE TU NÃO VAI DIREITIN TU CABAS NO FACÃO! XO, XO, XO, PERU"!
Lembro-me que isso acontecia nas vésperas do Natal e Ano Novo, esporadicamente em outras épocas do ano.
Alguém me disse que quando se vê o "Pastor de Peruas" fora do tempo de festas cristãs, pode estar certo que logo-logo será comemorado "Rosh Hashaná" ("Rosheshune", Ano Novo dos judeus) ou vai haver batizado, noivado ou casamento na casa de um deles, pois sem este prato na festa, seriam considerados mesquinhos.
Então viva o peru!
O VENDEDOR DO "MINDUBIN" (Amendoim)
Assim ele anunciava seu produto: "MINDUBIN TORRADO E COZIDO" (amendoim em casca, salgado, torrado e cozinhado).
Este último acho que só existe no nordeste brasileiro.
O VENDEDOR DE BOLINHO E TARECO
Lembro-me do "boleiro", que vendia a broa, grude, e tareco levava uma pequena sineta anunciando a sua chegada.
Trazia os seus produtos em uma espécie de mesa envidraçada com quatro pernas, usava uma ródia e a carregava na cabeça. Quando aparecia um comprador qualquer, botava o móvel na calçada, e servia com o auxílio de um garfo velho e meio enferrujado.
Na minha rua também passava um desses, ele tinha um apelido, não sei bem por qual razão. Talvez por ser baixinho e feio pra burro!
Os meninos da rua diziam que os bolinhos davam dor de barriga e caganeira. Mas, muita gente comprava.
As famílias judias preveniam os meninos para não comer coisas da rua e a minha mãe, nunca me deixou provar dessas delícias do "boleiro".
Era um medo doentio que essa gente tinha dessas comidas feitas e ninguém sabia como, num continente desconhecido e com poucos cuidados de higiene!
Tinha sempre em casa as conhecidas Gotas Valerianas (20 gotas em meio copo d'água) para eventuais cólicas ou febre que sempre atacava de noite os meninos de estomago mais sensível.
O mesmo era com o doce japonês. Eu tinha inveja da molecada comendo este doce caseiro, que grudava nos dentes e arrancava as obturações. Quando muito me permitiam chupar uma bala gasosa que comprava no tabuleiro do baleiro (sempre vestido uma camiseta verde meio surrada e era torcedor fanático do F.C. America). Ele estava sempre sentado na esquina da Rua do Jiriquití, vizinho do tabuleiro do "bicheiro" da nossa rua.
* Escritor
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário