sábado, 10 de setembro de 2011







Novas formas de abandono

* Por Ruth Barros


Algumas das mulheres que não têm marido, babá, mãe, comadre ou qualquer outro ser humano que possa se responsabilizar por filhos pequenos nos momentos de lazer e de namoro – delas, não dos filhos – estão chegando no desespero. Pelo menos Anabel espera que seja desespero, pois outra explicação não consigo ver para determinadas atitudes que me chocaram. Escriba tolerante e bem informada que sou, não consegui digerir certas iniciativas que vejo certas mães tomando nos dias de hoje.

Dou até um desconto, e dou até muito desconto, pois a maioria dessas coitadas, ou simplesmente não tem parceiro para criar os filhos – a tal da produção independente – ou tem uns parceiros tão abaixo da crítica que não dá pra contar com eles pra nada. Quem não conhece um ou mais ou vários casos de pais separados que marcam e não aparecem, ou simplesmente nem marcam mais nenhum compromisso com filhos, vivem em eterna sonegação seja de afeto, seja de presença, seja de dinheiro? Pois parece que as mulheres querem dar o troco. Loucas para sassaricar, o que é direito total delas, pois mãe também é ser humano, também precisa de afeto e de sexo, algumas estão arrumando esquemas louquíssimos para ganhar algum tempo útil longe dos filhos.

Tenho uma conhecida que deixa um menino de 10 anos horas a fio sozinho em uma lan house, aquela loja que, como sabemos, é cheia de computadores com vários tipos de jogos. O que ela fica fazendo com esse tempo não sei, mas quem, em sã consciência, deixa um moleque dessa idade jogando sozinho em um computador, sujeito a todo tipo de abordagem, tanto dentro da loja, local público, como pela Internet, esquina virtual do mundo que ninguém controla? Tá certo que qualquer computador doméstico tem joguinhos e Internet, mas dentro de casa sempre há a possibilidade de se esticar um olho pra ver em que onda a criança está surfando. E na rua?

Um amigo meu, recém-separado, outro dia chegou ao desespero. Pela primeira vez o filho, que mora no interior, ia passar o fim de semana com ele. Uma amiga da cunhada, solícita, se ofereceu para levar o menino, de oito anos, para ficar com a filha dela, da mesma idade, em um lugar de jogos e brincadeiras, tipo um parquinho fechado, por umas duas horas. O que a mulher na verdade queria era uma companhia para enrolar a filha, deixou as duas crianças sozinhas no tal parquinho e sumiu. Meu amigo, o pai incauto, quando viu que o filho não voltava no horário combinado entrou em pânico. O celular da mulher não respondia – óbvio – e ele não sabia ao certo onde era para poder ir procurar. A agonia durou mais de cinco horas e acabou com a volta do filho, são, salvo, com fome, com frio e aos prantos, assustado por tão longa ausência.

E só para acabar esse festival de horrores – essa coluna hoje não tem nada de engraçada, reconheço – vou contar um último casinho de uma moça divorciada que pelo menos não envolve filhos dos outros. Ela se vira com os próprios, três, sendo que o mais velho tem oito anos também. Pois a moça arrumou um namorado, casado – é incrível como homem casado é disponível – que só tem o horário da tarde para não dar bandeira. Os filhos dele ficam em casa, com a dona da pensão, a titular da pasta, apaziguada por alguma desculpa cretina. Os dela, que não tem com quem deixar, ficam sozinhos, o irmão mais velho com a responsabilidade de telefonar caso aconteça algo com os pequenos de dois e quatro anos.



* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.

Um comentário:

  1. Na falta de uma creche vemos essas irresponsabilidades inomináveis. Faltarão cadeia para tantos crimes de abandono de incapaz. Se as crianças estão assim, imaginem os velhos pais e sogros?

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