quarta-feira, 7 de setembro de 2011







Exercitando a paciência

* Por Marleuza Machado

Estou fazendo fisioterapia. Havia alguns meses, capengava da perna esquerda e a Reumatologista tratava o caso como inflamação do nervo ciático. Usei medicamentos anti-inflamatórios, sem obter resultados. Após alguns exames, ela resolveu arriscar outro diagnóstico: Encurtamento de músculo do membro inferior esquerdo, ou seja, exagerei nos exercícios ou não fiz o alongamento adequado, antes e após a prática de atividade física. Resultado: O músculo encolheu e decidiu que não iria mais atender às necessidades básicas que a perna exigia. Academia, então, fora de cogitação! Subir um simples degrau causavam-me dores muito desagradáveis. Diante do quadro, ela encaminhou-me a um um fisioterapeuta para iniciarmos o tratamento de reabilitação.

Consegui um profissional credenciado pelo meu plano de saúde numa academia próxima à minha casa. Dei sorte logo de cara, pois o dito cujo é um gato! E gente boa pra caramba! A primeira sessão foi bem ligth. Aliás, ligth demais para meu gosto! Quem já utilizava caneleiras de até sete quilos para exercitar pernas na academia, teve que se contentar com um mísero quilo. Voltei ao bê-á-bá! Estou na pré-escola! Haja paciência!

Mas o tal fisioterapeuta-gato, na segunda sessão, se transformou num leão e mostrou suas garras. A metamorfose ocorreu no momento final: A criatura transformada se agarrou às minhas pernas para alongá-las. Confesso, há muito não sentia dores tão horríveis! Apesar das reclamações, o belo continuava impassível, naquela contagem muda que parecia infinita. Ameacei esmurrá-lo e ele nem se importou. Naquele momento, cogitei a possibilidade de abandonar o tratamento, mas no dia seguinte, notei que ao subir um meio-fio, a dor diminuíra de intensidade. A partir de então, voltei a enxergar o felino como um dócil bichano, percebendo que ele estava certo na sua conduta. Dei o braço à torcer e hoje estou na nona sessão, feliz da vida, porque, acredite, ele usou caneleiras de dois quilos nos exercícios de fortalecimento do músculo lesionado. Estou progredindo!
Não posso deixar de correlacionar essa fase de tratamento a certos momentos de vida que já enfrentei. Lembrei-me da alma machucada, contundida, dolorida! E tal qual ocorreu com o músculo da perna, a responsável pelas lesões emocionais foi somente eu. Tinha completa noção de que agia de forma irresponsável, acusada pela minha consciência, e mesmo assim, "peguei pesado". Como consequência, dores e mais dores. E o "Fisioterapeuta-Maior" também não me poupou. Não pense você que naqueles momentos sofridos, fui sábia o suficiente para aceitar o tratamento aplicado com resignação. Como me rebelei! Agindo assim, constatei que as dores aumentavam e, consequentemente, o período de recuperação se tornava mais longo.
Em todos os aspectos da vida, a Lei de Causa e Efeito é inexorável. Sem as correções que ela nos impõe, o espírito seguiria como um cavalo sem rédeas e não haveria possibilidade de evolução em qualquer nível. A recompensa, após cada acerto de contas, é sentir a alma recondicionada e mais forte, assim como acontece também com o corpo físico. Hoje aguardo com ansiedade o dia em que receberei liberação médica para praticar atividades físicas sem restrições, porém com responsabilidade, consciente das limitações que o corpo exige. Quanto a alma, está leve! Já recebeu alta do "Médico" dos médicos e segue vida afora lépida e fagueira.

"Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nessa roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu na vida..."
(Gonzaguinha em Eu Apenas Queria que Você Soubesse).

• Jornalista e poetisa

2 comentários:

  1. Belo paralelo. Também já sofri avarias físicas (tensão e dor nas costas, além de hérnias de disco) e diversas, infinitas, sequências de tratamentos fisioterápicos. Quanto às lesões na alma, essa é a parte mais incurável. E não há psicoterapia que dê jeito. As recaídas são uma constante. Entre os dois problemas, prefiro nenhum. Salve a saúde física e mental!

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  2. Então, Mara! Escrevi esta crônica há algum tempo. Coincidentemente hoje estou na fisioterapia outra vez, e creio, demoro um pouco no retorno a academia... Os exageros de sempre! Mas vou melhorar. Faço hoje uma aula experimental de Pilates. Vamos ver no que dá.
    Beijos

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