Fúria e lamento
* Por Fernando Yanmar Narciso
Em meados dos anos 60, faroestes italianos eram moda na Europa. Reza a lenda que, de cada 10 filmes feitos na Itália entre 1966 e 1970, pelo menos 7 eram westerns. Um dos mais lembrados do gênero é A Morte Anda a Cavalo, de 1967.
Este faroeste soturno e sanguinolento, dirigido por Giulio Petroni, o mesmo que trouxe Tepepa, frequentemente figura nas listas de melhores westerns da história, sendo inclusive um dos filmes favoritos de Quentin Tarantino e sua fonte de inspiração (para não dizer alvo de plágio descarado da primeira à última cena) para sua saga Kill Bill.
Durante uma tempestade, vemos um grupo de bandoleiros levando 200.000 dólares de uma diligência, e matando os protetores da carga à moda de assassinos de filme de terror. Para comemorar, eles invadem uma casa, estupram e chacinam toda uma família sem nenhum motivo, exceto o filho de 10 anos, que assiste à barbárie insana escondido. Os bandidos põem fogo na casa e vão embora, ao passo que o menino, traumatizado, jura se vingar de todos eles quando crescer. Antes que a casa toda queime, um dos bandidos chega atrasado ao local do crime, sente pena do moleque e salva a sua vida, sem lhe dizer o nome, deixando para trás apenas uma espora velha, que o menino guarda como lembrança da fatídica noite.
Cerca de 15 anos se passam. Bill Messina (o galã John Phillip Law), já crescido, tornou-se um tipo de Robocop de chapéu, capaz de acertar uma mosca com seu palito de dente, que ele tem obsessão por mascar. Ele se prepara para abandonar seu rancho e realizar seu sonho de vingança. Longe dali, vemos Ryan, um senhor de idade (o legendário vilão de westerns Lee Van Cleef) sendo liberado de suas correntes na prisão e pegando sua arma de volta. Ele também anseia por vingança, por motivos ainda não revelados, mas todos nós já sabemos que NUNCA, JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, alguém pode f.... com Lee Van Cleef. Cedo ou tarde, os destinos de Bill e Ryan se cruzariam, pois eles querem matar o mesmo grupo de pessoas, e ficam num joguinho de gato-e-rato pelo Oeste, enquanto aprendem a compartilhar seus desejos de vingança, numa relação meio tutor/aluno.
Logo ficamos sabendo que o grupo que havia traído Ryan e o entregado à polícia prosperou muito com os 200.000 roubados, tornando-se pessoas muito influentes no Oeste, dificultando ainda mais a missão dos nossos anti- heróis.
É claro que o filme não está livre de suas falhas. O já clássico orçamento apertado dessas produções era tão curto aqui, que o roteirista Luciano Vincenzoni –co-autor dos 5 maiores clássicos do gênero- foi pago apenas para criar a idéia geral do roteiro, deixando a maioria das falas por conta dos atores. Isso resultou na maior quantidade de improvisos e frases de efeito por centímetro de fita na história dos westerns. Sem dúvida, o cameraman estava apaixonado por John Law, posto que ele nunca perdia uma oportunidade de dar um close-up extremo nos olhos Megan Foxescos dele. Da metade do filme para o final, a história se transforma em uma aventura dark e intimista de vingança em um campo de batalha entre Bill, Ryan e dezenas de bandidos, num pequeno vilarejo no meio do deserto mexicano, remetendo ao clássico dos westerns psicológicos Os sete magníficos.
Essa mudança de ambiente pode desagradar alguns, mas sem dúvida carregou o filme com ação e tiroteios ainda mais desenfreados. Acho que nunca vi tantos tiros nem nos filmes do Charles Bronson! Porém, o maior defeito do filme é sua falta de sutileza. Os bandidos deixam pistas extremamente óbvias de suas identidades para o Bill ainda criança se lembrar deles para sempre. Em vez de pistas sutis como formato dos olhos, sobrancelhas e afins, eles praticamente esfregam na cara dele adornos como tatuagens, cicatrizes, brincos e pingentes, de um jeito que até Forrest Gump conseguiria identificá-los. Não poderia deixar de citar a trilha sonora do mestre Ennio Morricone, que aqui dá um show de esquisitices combinando uma batida de Flamenco com um coral supostamente indígena, mas cantando (?) em italiano.
No mais, esse filme justifica sua fama com muito ódio, ação, suspense, diversão e, é claro, Van Cleef num de seus melhores papéis. Qualquer locadora pé-sujo o possui em seu acervo, apesar das cópias serem de qualidade sofrível. Mesmo assim, não percam a chance de assisti-lo!
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
* Por Fernando Yanmar Narciso
Em meados dos anos 60, faroestes italianos eram moda na Europa. Reza a lenda que, de cada 10 filmes feitos na Itália entre 1966 e 1970, pelo menos 7 eram westerns. Um dos mais lembrados do gênero é A Morte Anda a Cavalo, de 1967.
Este faroeste soturno e sanguinolento, dirigido por Giulio Petroni, o mesmo que trouxe Tepepa, frequentemente figura nas listas de melhores westerns da história, sendo inclusive um dos filmes favoritos de Quentin Tarantino e sua fonte de inspiração (para não dizer alvo de plágio descarado da primeira à última cena) para sua saga Kill Bill.
Durante uma tempestade, vemos um grupo de bandoleiros levando 200.000 dólares de uma diligência, e matando os protetores da carga à moda de assassinos de filme de terror. Para comemorar, eles invadem uma casa, estupram e chacinam toda uma família sem nenhum motivo, exceto o filho de 10 anos, que assiste à barbárie insana escondido. Os bandidos põem fogo na casa e vão embora, ao passo que o menino, traumatizado, jura se vingar de todos eles quando crescer. Antes que a casa toda queime, um dos bandidos chega atrasado ao local do crime, sente pena do moleque e salva a sua vida, sem lhe dizer o nome, deixando para trás apenas uma espora velha, que o menino guarda como lembrança da fatídica noite.
Cerca de 15 anos se passam. Bill Messina (o galã John Phillip Law), já crescido, tornou-se um tipo de Robocop de chapéu, capaz de acertar uma mosca com seu palito de dente, que ele tem obsessão por mascar. Ele se prepara para abandonar seu rancho e realizar seu sonho de vingança. Longe dali, vemos Ryan, um senhor de idade (o legendário vilão de westerns Lee Van Cleef) sendo liberado de suas correntes na prisão e pegando sua arma de volta. Ele também anseia por vingança, por motivos ainda não revelados, mas todos nós já sabemos que NUNCA, JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, alguém pode f.... com Lee Van Cleef. Cedo ou tarde, os destinos de Bill e Ryan se cruzariam, pois eles querem matar o mesmo grupo de pessoas, e ficam num joguinho de gato-e-rato pelo Oeste, enquanto aprendem a compartilhar seus desejos de vingança, numa relação meio tutor/aluno.
Logo ficamos sabendo que o grupo que havia traído Ryan e o entregado à polícia prosperou muito com os 200.000 roubados, tornando-se pessoas muito influentes no Oeste, dificultando ainda mais a missão dos nossos anti- heróis.
É claro que o filme não está livre de suas falhas. O já clássico orçamento apertado dessas produções era tão curto aqui, que o roteirista Luciano Vincenzoni –co-autor dos 5 maiores clássicos do gênero- foi pago apenas para criar a idéia geral do roteiro, deixando a maioria das falas por conta dos atores. Isso resultou na maior quantidade de improvisos e frases de efeito por centímetro de fita na história dos westerns. Sem dúvida, o cameraman estava apaixonado por John Law, posto que ele nunca perdia uma oportunidade de dar um close-up extremo nos olhos Megan Foxescos dele. Da metade do filme para o final, a história se transforma em uma aventura dark e intimista de vingança em um campo de batalha entre Bill, Ryan e dezenas de bandidos, num pequeno vilarejo no meio do deserto mexicano, remetendo ao clássico dos westerns psicológicos Os sete magníficos.
Essa mudança de ambiente pode desagradar alguns, mas sem dúvida carregou o filme com ação e tiroteios ainda mais desenfreados. Acho que nunca vi tantos tiros nem nos filmes do Charles Bronson! Porém, o maior defeito do filme é sua falta de sutileza. Os bandidos deixam pistas extremamente óbvias de suas identidades para o Bill ainda criança se lembrar deles para sempre. Em vez de pistas sutis como formato dos olhos, sobrancelhas e afins, eles praticamente esfregam na cara dele adornos como tatuagens, cicatrizes, brincos e pingentes, de um jeito que até Forrest Gump conseguiria identificá-los. Não poderia deixar de citar a trilha sonora do mestre Ennio Morricone, que aqui dá um show de esquisitices combinando uma batida de Flamenco com um coral supostamente indígena, mas cantando (?) em italiano.
No mais, esse filme justifica sua fama com muito ódio, ação, suspense, diversão e, é claro, Van Cleef num de seus melhores papéis. Qualquer locadora pé-sujo o possui em seu acervo, apesar das cópias serem de qualidade sofrível. Mesmo assim, não percam a chance de assisti-lo!
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
Adoro faroeste. Assisti a todos que existiam na minha época. Adoraria revê-los, e o seu texto é um chamariz e tanto.
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