Pernambuco em chamas - A resistência negra
* Por Marco Albertim
(Resenha 3ª parte)
Interessante saber, se bem que os ecos da história confirmam, que os negros eram considerados fôlego-vivo, peça da Guiné, ébano-vivo, peça da África. Duarte Coelho, primeiro donatário de Pernambuco, enviou sucessivos apelos para que a Coroa autorizasse a resgatar “alguns escravos da Guiné”. A população indígena escasseava já em sua época. E os apelos davam conta da crescente necessidade de braços para desenvolver a economia canavieira. Logo tu, Coelho, a quem homenageamos com o nome de uma ponte no centro de Recife!? O negro, triste com a falta de liberdade, entregava-se à morte com o banzo. A Igreja católica, de triste memória, investiu na quebra da resistência negra, convertendo-os a sua ideologia. No entanto, conforme a precisão dos historiadores Rubim Aquino, Francisco Mendes e André Boucinhas, não evitou o surgimento do Ninho das Águias, no dizer de Antônio Castro Alves ao se referir ao Quilombo dos Palmares. O quilombo chegou a reunir 30 mil habitantes, ex-escravos, brancos pobres, índios, mulatos e negros libertos. Palmares teve fim com a morte de Zumbi em 20 de novembro de 1695.
Em Pernambuco destacou-se o quilombo das matas do Catucá, em Abreu e Lima. Ainda hoje o candomblé local realiza cerimônias nas matas para integrar os matizes de origem africana. Lá surgiu a Cova da Onça, liderada pelo negroMalunguinho, o rei das matas da província. Dos 743 territórios quilombolas, Pernambuco hoje abriga 92 comunidades negras remanescentes dos resistentes quilombos. Livramento, Imbé, Gado Bravo, Castanhinho e Conceição das Crioulasno município de Salgueiro. O último tem quatro mil habitantes, moradores de sítios. Foi criado, conforme a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas, pelas negras Francisca Ferreira, Mendencha Ferreira, Emília Ferreira, Germânia, Antônia Presidenta e Antônio Carneiro. Todas guiadas pelo capitão negro Antônio de Sá; outros autores se referem a Francisco José de Sá, escravo foragido. As mulheres não eram escravas, viviam do plantio e fiação do algodão, vendido em Flores. O nome Conceição homenageia a santa do mesmo nome, e crioula era a denominação da negra nascida no Brasil. As crenças religiosas, caracterizadas pelo sincretismo, cultuam Santa Bárbara, Jesus Cristo, Iemanjá, Pomba Gira, Zé Pelintra e Cosme e Damião. O analfabetismo na comunidade é grande, em que pesem as duas escolas na comunidade. Informam os autores que “desde 2000 multiplicaram-se os conflitos a propósito de terras griladas por fazendeiros, que chegaram a articular movimento procurando quebrar a aliança dos negros quilombolas com os indígenas Atikum.” Os fazendeiros, de posse de escrituras falsas, ameaçam de morte as lideranças locais, como Maria Aparecida e Givânia Maria da Silva, vereadora do PT em Salgueiro. Houve um incêndio na AQCC. Os fazendeiros são os suspeitos.
Obs.: “Pernambuco em chamas”, por se tratar de compêndio de grossa lombada, com abundância de informações, será abordado aqui por partes. O volume de informações é tamanho que torna alto o risco de omissões numa simples e solitária resenha.
* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
* Por Marco Albertim
(Resenha 3ª parte)
Interessante saber, se bem que os ecos da história confirmam, que os negros eram considerados fôlego-vivo, peça da Guiné, ébano-vivo, peça da África. Duarte Coelho, primeiro donatário de Pernambuco, enviou sucessivos apelos para que a Coroa autorizasse a resgatar “alguns escravos da Guiné”. A população indígena escasseava já em sua época. E os apelos davam conta da crescente necessidade de braços para desenvolver a economia canavieira. Logo tu, Coelho, a quem homenageamos com o nome de uma ponte no centro de Recife!? O negro, triste com a falta de liberdade, entregava-se à morte com o banzo. A Igreja católica, de triste memória, investiu na quebra da resistência negra, convertendo-os a sua ideologia. No entanto, conforme a precisão dos historiadores Rubim Aquino, Francisco Mendes e André Boucinhas, não evitou o surgimento do Ninho das Águias, no dizer de Antônio Castro Alves ao se referir ao Quilombo dos Palmares. O quilombo chegou a reunir 30 mil habitantes, ex-escravos, brancos pobres, índios, mulatos e negros libertos. Palmares teve fim com a morte de Zumbi em 20 de novembro de 1695.
Em Pernambuco destacou-se o quilombo das matas do Catucá, em Abreu e Lima. Ainda hoje o candomblé local realiza cerimônias nas matas para integrar os matizes de origem africana. Lá surgiu a Cova da Onça, liderada pelo negroMalunguinho, o rei das matas da província. Dos 743 territórios quilombolas, Pernambuco hoje abriga 92 comunidades negras remanescentes dos resistentes quilombos. Livramento, Imbé, Gado Bravo, Castanhinho e Conceição das Crioulasno município de Salgueiro. O último tem quatro mil habitantes, moradores de sítios. Foi criado, conforme a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas, pelas negras Francisca Ferreira, Mendencha Ferreira, Emília Ferreira, Germânia, Antônia Presidenta e Antônio Carneiro. Todas guiadas pelo capitão negro Antônio de Sá; outros autores se referem a Francisco José de Sá, escravo foragido. As mulheres não eram escravas, viviam do plantio e fiação do algodão, vendido em Flores. O nome Conceição homenageia a santa do mesmo nome, e crioula era a denominação da negra nascida no Brasil. As crenças religiosas, caracterizadas pelo sincretismo, cultuam Santa Bárbara, Jesus Cristo, Iemanjá, Pomba Gira, Zé Pelintra e Cosme e Damião. O analfabetismo na comunidade é grande, em que pesem as duas escolas na comunidade. Informam os autores que “desde 2000 multiplicaram-se os conflitos a propósito de terras griladas por fazendeiros, que chegaram a articular movimento procurando quebrar a aliança dos negros quilombolas com os indígenas Atikum.” Os fazendeiros, de posse de escrituras falsas, ameaçam de morte as lideranças locais, como Maria Aparecida e Givânia Maria da Silva, vereadora do PT em Salgueiro. Houve um incêndio na AQCC. Os fazendeiros são os suspeitos.
Obs.: “Pernambuco em chamas”, por se tratar de compêndio de grossa lombada, com abundância de informações, será abordado aqui por partes. O volume de informações é tamanho que torna alto o risco de omissões numa simples e solitária resenha.
* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
Acompanhando assiduamente amigo.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar conosco
desse pedaço da história.
Abraços
Idem, idem, Albertim!
ResponderExcluirAbração do,
José Calvino
RecifeOlinda