sexta-feira, 5 de novembro de 2010




No lugar e na hora errada

* Por Rodrigo Ramazzini

Lucianinho entra no elevador do prédio de seu trabalho e como estava sozinho começa a se olhar no espelho do local. Admira o tórax o inflando, dá uma ajeitadinha no cabelo, confere se os dentes estão bem limpos e checa se havia colocado desodorante. Foi então que, nota o zíper da sua calça jeans aberto. Pensa: “que mico eu iria pagar! Uma semana apenas no emprego e já aparecer com o pinto de fora”. Sorri! E, quando foi arrumá-lo, repentinamente, o elevador pára e abre as suas portas.

Ainda, agarrando o zíper com as duas mãos, depois de uma tentativa de fechá-lo, mas sem sucesso devido a um travamento, Lucianinho avista parada em frente ao elevador uma morena estonteante. Seca-a com o olhar da cabeça aos pés. É Jaqueline, a musa do setor de marketing da empresa. Uma mulher de longos cabelos pretos, que veste uma blusa amarela que contorna suavemente os avantajados bustos e delineia a modelada cinturinha. Mas seu charme está nos longos cílios e na carnuda boca. Sem falar na tatuagem pouco acima da região das nádegas que arranca suspiros dos homens toda vez que é vista.

Achando engraçada a cena que acaba de ver, da batalha entre um homem e o zíper da sua calça, ela com um sorriso no rosto, sem tecer qualquer tipo de comentário, apenas pergunta:

- Posso entrar?

Lucianinho se recompõe da constrangedora situação, mas ainda “vermelho” da cabeça aos pés, acena positivamente com a mão esquerda e puxa a camisa para tampar a parte frontal da calça, que permanece aberta. Embriagado pelo perfume de Jaqueline que inunda o elevador e pelo contorno da silueta que está encoberto por uma saia marrom, ele rapidamente esquece-se do caso zíper. Depois de imaginar em menos de um minuto todas as fantasias sexuais que realizaria com Jaqueline se a levasse para um motel, Lucianinho é trazido à realidade, quando o elevador pára no andar seguinte e, antes de sair, ela pisca-lhe o olho e com um sorriso nos lábios, diz:

- Cuidado com esse fujão aí na sua calça!
- Pode deixar!, responde Lucianinho, retribuindo o sorriso.

Depois de cumprimentarem com entusiasmo Jaqueline na porta, ingressam no elevador um dos diretores da empresa e o Joaquim, colega de trabalho de Lucianinho. Para descontrair o ambiente, ao perceber que o zíper da calça do Lucianinho estava aberto, apontando para o local, o diretor dispara, soltando uma gargalhada:

- Foi grande a festa aqui nesse elevador antes da gente entrar, hein? Há! Há! Há!

E, Lucianinho, não perdendo a oportunidade de inflar o próprio ego e expulsar a necessidade interior de se mostrar que afligem os homens sobre o seu semelhante, ajeitando a calça, coçando o saco, e, finalmente, conseguindo fechar o zíper, replica:

- É verdade, doutor! Essa Jaqueline é demais!

A porta do elevador abre e o diretor deixa o recinto com a “cara fechada”. Não titubeando, assim que ficam sozinhos, Lucianinho questiona:

- O que foi que eu falei demais, Joaquim?

E, Joaquim, balançando a cabeça, cochicha no ouvido do Lucianinho:

- Ô, mané! Para teu conhecimento: dizem as más e boas línguas que a Jaqueline é amante do diretor...

Meia hora depois Lucianinho é chamado no departamento de pessoal...


• Jornalista

2 comentários:

  1. Tem gente que lucra muito mais de boca fechada...
    Pior que como ele, tem um monte.
    Abração amigo e bom fim de semana

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  2. O machismo sexista continua tirando o emprego de muita gente. O lugar e a hora foram impróprios, mas a narrativa foi totalmente própria.

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