Lacuna
* Por Marcelo Sguassábia
Ilustração: Thiago Cayres
Ficou o lugar vazio acumulando pó, sem um átomo de gente que lhe tomasse assento, me sondando enquanto sondo nele o homem que ali firmou posse, de coroa e cetro, espaçoso como só. O lugar do faltante por direito, sempre dele, cadeira vitalícia que a ninguém é dado herdar. Assim está e ficará ao capricho e ao apetite dos cupins, no mesmo estado em que a deixou. Mourão de cerca socado fundo entre as dobras dos miolos, é bem na horinha da Ave-Maria que escuto o arrastar dos seus chinelos e farejo sua lavanda de após banho, tão sua e dos dias todos que meiamos, criador e criatura. Acordo com o ausente me chamando, raro é quando não sucede desse jeito. E são manhãs cinzas e mudas, que para falar a verdade nem careciam amanhecer mais depois do sucedido.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
* Por Marcelo Sguassábia
Ilustração: Thiago Cayres
Ficou o lugar vazio acumulando pó, sem um átomo de gente que lhe tomasse assento, me sondando enquanto sondo nele o homem que ali firmou posse, de coroa e cetro, espaçoso como só. O lugar do faltante por direito, sempre dele, cadeira vitalícia que a ninguém é dado herdar. Assim está e ficará ao capricho e ao apetite dos cupins, no mesmo estado em que a deixou. Mourão de cerca socado fundo entre as dobras dos miolos, é bem na horinha da Ave-Maria que escuto o arrastar dos seus chinelos e farejo sua lavanda de após banho, tão sua e dos dias todos que meiamos, criador e criatura. Acordo com o ausente me chamando, raro é quando não sucede desse jeito. E são manhãs cinzas e mudas, que para falar a verdade nem careciam amanhecer mais depois do sucedido.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
Belo texto sobre separação, sobre saudade. Uma facada no peito da gente, trazendo-nos lembranças de nossas separações. Parabéns, Marcelo!
ResponderExcluirChamou de lacuna o que também é saudade. Humanizou o objeto, dando a ele alma e sentimento de gente. E nós que costumamos negar afeto aos objetos evitando sermos chamados de materialistas, deveríamos aprender a reverenciar certos utensilios da casa, tão presentes, que é como se existissem sempre lá.
ResponderExcluir