quinta-feira, 11 de novembro de 2010




Fraquezas que enternecem

* Por Pedro J. Bondaczuk

As pessoas nos admiram por nossas virtudes, mas apenas nos amam pelas nossas fraquezas. A afirmação foi feita (não exatamente com essas palavras) pelo escritor William Somerset Maugham e reflete uma grande verdade. Sequer seria preciso que o dissesse. Basta que fiquemos atentos ao que ocorre conosco ou ao que se passa ao nosso redor para chegarmos à constatação. No caso não se está referindo aos grandes defeitos, àqueles de caráter, de educação, de personalidade, que transformam alguns em párias sociais que precisam ser segregados do convívio com os semelhantes.
Mesmo aí a máxima funciona. Quem não ouviu falar (ou não conhece algum caso) do chamado "amor bandido"? Vêmo-lo a todo o instante e em todo o lugar. Ou seja, a fascinação, a paixão, a autêntica obsessão, que algumas mulheres têm, por pessoas que agem à margem das leis, cometendo assaltos, seqüestros e assassinatos, ou traficando drogas, entre outras coisas.
Mas referimo-nos às pequenas fraquezas. Aos lapsos de memória, às manias inocentes que não prejudicam ninguém, às deficiências físicas, às coisas que nos enfeiam e nos tornam infelizes. Para os que nos cercam, mas não convivem conosco, é só nosso visual que aparece. Quando encontramos alguém assim, fragilizado, nosso primeiro sentimento é o de piedade (de dó, como se diz popularmente). Para o objeto da pena, quando esta é mostrada ostensivamente, ela é ofensiva e humilhante. O que indivíduos assim esperam é reconhecimento por suas pequenas vitórias. Ou, na pior das hipóteses, respeito ou não-interferência.
À medida que vamos convivendo com tais pessoas, esse sentimento inicial de piedade, instintivo, transforma-se em ternura. Sobretudo se elas não são agressivas e se aceitam a nossa ajuda. Quando são agradáveis e de fácil trato. Quando são alegres, amigáveis e abertas ao diálogo. Quando não têm complexos, não alimentam amarguras e não agem com agressividade. Sentimo-nos bem quando as ajudamos. E quando são do sexo oposto, na maioria das vezes nos apaixonamos por elas.
O mencionado Maugham também afirmou: "A perfeição tem um grave defeito: costuma ser sem graça". Isto, supondo que de fato exista. As limitações humanas impedem que haja alguém perfeito. Todos temos nossas virtudes e talentos. Alguns mais, outros menos. Mas da perfeição, ao que se saiba, ninguém jamais sequer se aproximou. Alguns chegaram relativamente perto. Outros ficaram a anos-luz de distância dela. Houvesse o perfeito, as outras pessoas se aproximariam desse fenômeno apenas por interesse, quando não para o eliminar. A perfeição permanentemente diante dos nossos olhos só conseguiria ressaltar nossos defeitos. Não a toleraríamos.
Todos temos deficiências e imperfeições. Aldous Huxley, no livro "Ronda Grotesca", dedica várias páginas a analisá-las. Escreve, em determinado trecho: "Mas todo homem é ridículo quando visto de fora, sem levar em conta o que lhe vai no espírito e no coração. Pode-se transformar Hamlet numa farsa epigramática, com uma cena inimitável, quando ele surpreende sua adorada mãe em adultério. Pode-se tirar o mais gracioso conto de Maupassant da vida de Cristo, fazendo contrastar as loucas pretensões do rabi com seu lamentável destino. É uma questão de ponto-de-vista. Cada um de nós é uma farsa ambulante e uma tragédia ambulante ao mesmo tempo. O homem que escorrega numa casca de banana e fratura o crânio, descreve contra o céu, ao cair, o arabesco mais ricamente cômico".
É incompreensível haver indivíduos, razoavelmente educados e com amplo acesso às informações, que querem ser sempre auto-suficientes, sem que o sejam. Pessoas arrogantes, prepotentes, "donas da verdade", que acham que o dinheiro compra todos e tudo (inclusive amor). Algumas são criativas, nas ciências ou nas artes, e apesar da antipatia, mesmo que secretamente, não podemos deixar de admirar sua competência e talento. Mas...amá-las, jamais! Sua arrogância e prepotência agem como repelentes, como muralhas, como barreiras indevassáveis que as afastam do convívio normal. São pessoas que, de tanto buscar ser superiores, só conseguem fazer um papel ridículo. Infelizes, é o que são.

*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com

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2 comentários:

  1. Fraquezas enternecem sim e por vezes na ansiedade
    em ajudar acabamos nos tornando prisioneiros, onde
    tudo é passível de justificação.
    Bjs

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  2. A evolução do sentimento de piedade para ternura e depois talvez amor foi de uma delicadeza encantadora. Por outro lado, a arrogância criando barreiras, repelindo os demais, mesmo quando a pessoa tem credenciais indiscutíveis, foi de um realismo incontestável. Fugimos dos sempre com a razão.

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