sexta-feira, 10 de julho de 2009




Sinceridade

* Por Rodrigo Ramazzini

- Amor! Tu achas que eu pareço gorda com essa roupa?
- Sei lá, Silvana! Deixa eu terminar de me arrumar!
- Pô, Luiz Mário! Pára um pouquinho e me diz, por favor! Falta uma hora ainda pra começar a cerimônia... Não vamos nos atrasar por causa disso!
- Tá bom! Vira pra cá... Dá uma voltinha... É...
- É o quê?
- Parece gordinha com essa roupa, sim!
- Eu sabia!
- Sabia o quê?
- Que eu estava uma baleia!
- Não, amorzinho! Não é isso...
- Eu estou redonda! Olha pra mim... Olha! O espelho não mente... Olha ali!
- Pára Silvana, não faz drama!
- Estou parecendo um botijão de gás com a capa dentro deste vestido!
- Não é pra tanto também...
- Sabia que eu não devia ter jantado essa semana... Eu sabia!
- Pronto!
- Pronto o quê?
- Achou em quem colocar a culpa...
- Mais uma ironizada dessas o meu sapato vai voar na tua cara!
- Calma!
- E agora... O que eu faço?
- Vai assim mesmo!
- Tu estás brincando com a sorte, Luiz Mário! Não me provoca!
- Tá... Tá... Calma!
- Ai meu Deus, por que isso? Tu também né, Luiz Mário?
- Eu o quê?
- Devia ter me falado que eu estava uma porca de gorda!
- Tu não estás gorda... É o modelo deste vestido que está te deixando assim!
- Não tenta remendar, por favor! Deixa eu pensar...
- Por que não troca de roupa?
- Eu aluguei este vestido, tá!
- Então, vai com ele mesmo!
- Pra todo mundo ficar comentando sobre o meu peso depois... Nem morta!
- Coloca aquele teu vestido preto...
- Aquele que eu já fui a várias festas? Nem pensar! Para eu aparecer igual em todas as fotos...
- Tu não tens outro?
- Não!
- Impossível!
- Pois é...
- Que saco, Silvana! Coloca qualquer roupa que está bom!
- Como tu és insensível, Luiz Mário!

Indignada, Silvana tranca-se no quarto, saindo de lá quinze minutos depois, com o mesmo vestido, porém com um laço, uma espécie de cinto em volta da cintura, questionando o marido:

- O que achas agora com o acessório? Emagreci?

Luiz Mário olha para a esposa, soergue as sobrancelhas, confere a hora, e mesmo achando que nada mudara, opina, com toda a sinceridade “falsa” dos homens:
- Eu não disse que era a roupa! Com o acessório ficaste com o corpinho de miss! Estás linda!

* Jornalista

2 comentários:

  1. Esse "teatrinho" conjugal funciona como quê! Ainda mais quando escrito assim de maneira tão ágil e competente. Parabéns.

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  2. Uma mentirinha de nada não faz mal a ninguém. Sinceridade demais por vezes deve ser evitada, especialmente quando se refere a medida da cintura feminina, ou quem sabe do modo do cabelo, um outro assunto intransponível.

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