Admiração sem compreensão
* Pedro J. Bondaczuk
Os jovens, em termos gerais, têm uma característica que me fascina em particular: são capazes de admirar até o que não compreendem (ou principalmente isso). As pessoas maduras e as que se situam no que, eufemisticamente, se convencionou chamar de “terceira idade”, salvo exceções, não têm essa generosidade ao avaliar o próximo e reconhecer suas realizações.
Tive inúmeras experiências desse tipo e, todas, surpreendentemente boas. Com os jovens, claro. E por que minha surpresa? Porque o reconhecimento dos méritos e virtudes alheios não é bem a característica distintiva deste animal que pensa e é intrinsecamente egoísta e predador.
Entre as tantas atividades que exerço, uma das que mais me dão prazer (embora não seja das mais compensadoras do ponto de vista financeiro) é a de conferencista. Já tive o orgulho e o prazer de fazer mais de meio milhar de palestras e conferências, em escolas secundárias e de ensino médio, em faculdades, centros culturais, bibliotecas, empresas e até em igrejas.
É algo que faço amiúde, quando tenho disponibilidade de tempo (e esta sempre se arranja quando há boa vontade) e com enorme satisfação. E jamais cobrei um reles centavo, de quem quer que fosse, mesmo dos que podem pagar. É uma forma de devolver à sociedade o que dela recebi: conhecimento e experiência.
De todos os públicos que já encarei, o mais receptivo, sem dúvida, é o de jovens. Várias vezes trouxe à baila temas que, tenho certeza, fugiam à compreensão dessas platéias imaturas (física e psicologicamente). Nunca, todavia, em nenhuma das minhas palestras para os adolescentes, ouvi um só murmúrio, uma única brincadeira fora de hora ou mesmo algum bocejo (o que é muito comum de acontecer com a garotada, até em aulas, quando entendem que sejam chatas).
Em contrapartida, decepcionei-me, inúmeras vezes, com platéias supostamente de alto nível. Tenho por hábito falar por apenas vinte minutos, nos quais exponho a tese que me é proposta (geralmente sou pautado por quem me convida) e abrir o tempo restante (geralmente de duas horas) a debates. Os participantes podem perguntar o que quiserem, desde que as perguntas sejam pertinentes, referentes ao assunto exposto.
Quando se trata de público jovem, as questões, invariavelmente, são múltiplas (inúmeros adolescentes levantam a mão e esperam com paciência a vez de perguntar) e todas pertinentes, no sentido de buscar o esclarecimento do que lhes ficou obscuro. Quando é adulto, todavia... As palestras são restritas, nesses casos (salvo exceções, claro) a, no máximo, meia hora. Poucos, pouquíssimos me questionam e as perguntas são as mais estapafúrdias e sem sentido, descambando, não raro, para o surreal.
Algumas nem são propriamente questões, mas longos adendos à preleção eu fiz, com observações absolutamente fora do contexto. Não raro, saio abatido, decepcionado e aborrecido desses eventos, com a convicção firmada de que perdi meu tempo.
Quanto à freqüência... a diferença é abissal. Em minhas palestras nas escolas, nunca tive público inferior a duas centenas de alunos. Mas já tive que falar para apenas quatro pessoas (isso mesmo, só quatro!), em uma conferência marcada para o antigo auditório do prédio que um dia sediou o INSS, em São Paulo, na Avenida Nove de Julho.
Os que deveriam comparecer ao evento (previa-se uma platéia de 150 pessoas) simplesmente não apareceram. Fiquei ali, plantado, com a maior cara de bobo, sem saber o que fazer. Fiz questão, porém, de ministrar a palestra, com o mesmo entusiasmo de sempre, apenas em respeito aos quatro que se interessaram em me ouvir, que, por sinal, não tinham mais do que vinte anos de idade, se tanto.
Sei de palestrantes que já tiveram imensas decepções com jovens. Estes devem achar que estou fazendo média com os adolescentes. Creiam-me, porém: não estou! Nunca tive a infelicidade que eles tiveram. Claro que acredito neles (não há porque duvidar). Ademais, a unanimidade, em qualquer atividade que exerçamos, é virtualmente impossível (e até indesejável)..
Curiosamente, foi nas ocasiões em que senti que as platéias juvenis menos entendiam as teses que eu expunha que senti em suas palavras (ao término das preleções) e percebi em seus olhos, maior admiração por este, digamos, esforçado palestrante. Claro que isso me lisonjeou. Afinal, sou vaidoso como todas as pessoas Mas, ao mesmo tempo, me frustrou profundamente, pois esses jovens mereciam, pela sua capacidade de valorizar e de admirar o que sequer entendiam, de mim, maior clareza e competência nas lições que lhes pretendia ministrar.
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas), com lançamentos previstos para os próximos dois meses. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com
* Pedro J. Bondaczuk
Os jovens, em termos gerais, têm uma característica que me fascina em particular: são capazes de admirar até o que não compreendem (ou principalmente isso). As pessoas maduras e as que se situam no que, eufemisticamente, se convencionou chamar de “terceira idade”, salvo exceções, não têm essa generosidade ao avaliar o próximo e reconhecer suas realizações.
Tive inúmeras experiências desse tipo e, todas, surpreendentemente boas. Com os jovens, claro. E por que minha surpresa? Porque o reconhecimento dos méritos e virtudes alheios não é bem a característica distintiva deste animal que pensa e é intrinsecamente egoísta e predador.
Entre as tantas atividades que exerço, uma das que mais me dão prazer (embora não seja das mais compensadoras do ponto de vista financeiro) é a de conferencista. Já tive o orgulho e o prazer de fazer mais de meio milhar de palestras e conferências, em escolas secundárias e de ensino médio, em faculdades, centros culturais, bibliotecas, empresas e até em igrejas.
É algo que faço amiúde, quando tenho disponibilidade de tempo (e esta sempre se arranja quando há boa vontade) e com enorme satisfação. E jamais cobrei um reles centavo, de quem quer que fosse, mesmo dos que podem pagar. É uma forma de devolver à sociedade o que dela recebi: conhecimento e experiência.
De todos os públicos que já encarei, o mais receptivo, sem dúvida, é o de jovens. Várias vezes trouxe à baila temas que, tenho certeza, fugiam à compreensão dessas platéias imaturas (física e psicologicamente). Nunca, todavia, em nenhuma das minhas palestras para os adolescentes, ouvi um só murmúrio, uma única brincadeira fora de hora ou mesmo algum bocejo (o que é muito comum de acontecer com a garotada, até em aulas, quando entendem que sejam chatas).
Em contrapartida, decepcionei-me, inúmeras vezes, com platéias supostamente de alto nível. Tenho por hábito falar por apenas vinte minutos, nos quais exponho a tese que me é proposta (geralmente sou pautado por quem me convida) e abrir o tempo restante (geralmente de duas horas) a debates. Os participantes podem perguntar o que quiserem, desde que as perguntas sejam pertinentes, referentes ao assunto exposto.
Quando se trata de público jovem, as questões, invariavelmente, são múltiplas (inúmeros adolescentes levantam a mão e esperam com paciência a vez de perguntar) e todas pertinentes, no sentido de buscar o esclarecimento do que lhes ficou obscuro. Quando é adulto, todavia... As palestras são restritas, nesses casos (salvo exceções, claro) a, no máximo, meia hora. Poucos, pouquíssimos me questionam e as perguntas são as mais estapafúrdias e sem sentido, descambando, não raro, para o surreal.
Algumas nem são propriamente questões, mas longos adendos à preleção eu fiz, com observações absolutamente fora do contexto. Não raro, saio abatido, decepcionado e aborrecido desses eventos, com a convicção firmada de que perdi meu tempo.
Quanto à freqüência... a diferença é abissal. Em minhas palestras nas escolas, nunca tive público inferior a duas centenas de alunos. Mas já tive que falar para apenas quatro pessoas (isso mesmo, só quatro!), em uma conferência marcada para o antigo auditório do prédio que um dia sediou o INSS, em São Paulo, na Avenida Nove de Julho.
Os que deveriam comparecer ao evento (previa-se uma platéia de 150 pessoas) simplesmente não apareceram. Fiquei ali, plantado, com a maior cara de bobo, sem saber o que fazer. Fiz questão, porém, de ministrar a palestra, com o mesmo entusiasmo de sempre, apenas em respeito aos quatro que se interessaram em me ouvir, que, por sinal, não tinham mais do que vinte anos de idade, se tanto.
Sei de palestrantes que já tiveram imensas decepções com jovens. Estes devem achar que estou fazendo média com os adolescentes. Creiam-me, porém: não estou! Nunca tive a infelicidade que eles tiveram. Claro que acredito neles (não há porque duvidar). Ademais, a unanimidade, em qualquer atividade que exerçamos, é virtualmente impossível (e até indesejável)..
Curiosamente, foi nas ocasiões em que senti que as platéias juvenis menos entendiam as teses que eu expunha que senti em suas palavras (ao término das preleções) e percebi em seus olhos, maior admiração por este, digamos, esforçado palestrante. Claro que isso me lisonjeou. Afinal, sou vaidoso como todas as pessoas Mas, ao mesmo tempo, me frustrou profundamente, pois esses jovens mereciam, pela sua capacidade de valorizar e de admirar o que sequer entendiam, de mim, maior clareza e competência nas lições que lhes pretendia ministrar.
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas), com lançamentos previstos para os próximos dois meses. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com
Interessante abordagem com ênfase na plateia. Ruim quando quem vai perguntar, na verdade quer é fazer afirmações e não uma pergunta. Alguns chegam a se esquecer do tempo e avançam nele perigosamente. Também há os que conseguem mais holofote do que quem está no palco.
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