quarta-feira, 29 de julho de 2009




Caótico e extraordinário

* Por Sayonara Lino

Faz tempo que ando incomodada com algumas classificações a respeito da personalidade humana. Eu mesma já estive muito condicionada a isso e hoje percebo que muitas divisões existem para que haja um tratamento mais preciso no caso de haver algum problema a ser tratado. Considero o ser humano rico em sua multiplicidade e não acredito em alguém que seja “uma coisa só”, apesar de saber que alguns traços de personalidade predominam, claro. É justamente pela variedade que uma pessoa não se torna empobrecida, monocromática, previsível de causar sonolência.

Eu sou um bom exemplo do quanto alguém pode ter características variadas, até mesmo antagônicas. Sempre fui extremamente extrovertida e comunicativa. Amo encontrar os amigos e conhecidos, badalar, rir, me divertir. Toda vez que saio da toca é quase um ritual: bato um papo rápido com o porteiro, cumprimento os vizinhos, paro com um e outro. Desço a rua e encontro sempre mais gente e falo, continuo conversando. Adoro falar sozinha e não vejo mal algum nisso. Enfim, o diálogo me traz um enorme prazer. Em contrapartida, sou uma das pessoas mais introspectivas que conheço. Preciso de momentos em que possa estar totalmente integrada com minha essência. Amo estar só. Minha alma é solitária. Vira e mexe, recolho meus pedaços e mergulho em mim.

Compartilhar é algo extraordinário. Estar em companhia de pessoas queridas é incrível. Só que nesse exato momento estou me sentindo inteira, em casa, sozinha. É sábado à noite. Resolvi ler um livro que me aguardava na estante havia tempo: “Uma Vida Inventada – Memórias Trocadas e Outras Histórias”, da Maitê Proença. Ótimo, rico, inteligente. Não consigo parar. Tem muita profundidade, estou amando cada detalhe, cada página. Só alguém que busca autoconhecimento poderia escrever de forma tão natural. Suas frases me capturaram, a identificação foi imediata.

Acho que meus dois lados que parecem totalmente opostos se complementam e formam a base do que sou. Deve ser assim que funciona.

Para não perder o elo com o mundo nos momentos em que me transformo em uma ostra lacrada, procuro escrever mais, me expressar, externar o que passa em meu universo. Vou revirando minhas entranhas para encontrar os pontos nevrálgicos. Não se trata de doença, não é necessário medicação. Para as questões de temperamento ainda não encontraram pílula eficaz. Opto por respeitar quem sou, buscar energia em meu íntimo. Energia para enfrentar esse mundo caótico e extraordinário.

* Jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Diretora de Jornalismo e redatora da Revista Mista, que é distribuída em Governador Valadares, Ipatinga e Juiz de Fora, MG e colunista do portal www.ubaweb.com/revista.

3 comentários:

  1. Pois é, duas posturas antagônicas e nem por isso excludentes ou impossíveis de coexistência. Somos sim, um misto de várias coisas, um pouco de quase tudo o que há. De fato gente "monocromática", como você diz, só existe em novela. O maniqueísmo não cabe na vida real.

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  2. Oi, Mara! Obrigada pelos comentários, outro dia tentei postar um para vc mas não consegui. De fato, somos seres com múltiplas faces, normal ue seja sim! Abraços!

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