Quando escrever?
Você já tomou, escritor amigo, várias decisões importantes para viabilizar seu plano de escrever um livro, o primeiro da sua carreira. Decidiu, por exemplo, que será um romance, urbano, tendo por cenário a São Paulo do século XXI. Traçou sua estratégia de como desenvolver essa idéia e optou por se organizar. Fez uma detalhada “planta” do edifício de palavras que pretende construir, acolhendo sugestões deste editor.
Foi mais longe: fez um resumão da história que pretende contar e detalhou (resumidamente, também) capítulo por capítulo, para eventualmente não vir a se perder no percurso da redação. Andou, portanto, uma boa parte do caminho. Agora sim seu livro deixou de ser vaga intenção, para se transformar em “projeto”. Doravante vem a fase da execução.
Mas, antes, você terá que tomar outra decisão: quando escrever? “O editor pirou de vez! Como, quando escrever? Quando eu quiser, ora!”, você deve estar dizendo a esta altura, duvidando da sanidade mental deste seu conselheiro informal. Não é bem assim.
Ponderemos. A menos que você seja um Balzac, um Dostoievski ou, quem sabe, um Machado de Assis, vai levar um tempo enorme para escrever seu romance. Se tudo der certo, será de, no mínimo, seis meses. E isso com muita sorte! Conheço escritores que estão trabalhando em suas histórias há quatro anos e ainda sequer chegaram à metade.
Se você estiver na ativa, trabalhando em alguma empresa, aí complicou tudo. O tempo que irá dispor para esta tarefa, convenhamos, será restritíssimo. Se quiser fazer as coisas direito, e seria uma burrice não o fazer, poderá escrever, com relativa tranqüilidade, somente aos sábados e domingos. Isso, se a família deixar. Ou seja, se ninguém inventar uma churrascada fora dos seus planos ou se você não tiver que fazer sala para visitas inoportunas.
Poderá, claro, tentar escrever à noite, quando voltar do trabalho. Isso, todavia, não é o mais recomendável. Se puder, tire uma licença da empresa. Se não puder, espere suas férias para iniciar a redação do seu romance.
Todavia, se você já estiver aposentado, as coisas serão muito mais fáceis nesse aspecto. Se este for seu caso, programe-se adequadamente. Estipule um período de trabalho diário (duas horas por dia, por exemplo) e siga rigorosamente essa programação. Determine o momento do dia que melhor lhe convenha. Há quem goste de escrever à noite, pior, de madrugada, quando todos estão dormindo. A lógica diz, no entanto, que essa está distante anos-luz de ser a melhor opção.
O mais inteligente é você se recolher cedo, por volta das 20 horas, relaxar e ter excelente noite de sono. Em vez de madrugar, acorde por volta das seis horas da manhã, tome um bom banho, um café reforçado e só então vá para o seu gabinete. Mas nada de telefone por perto e muito menos de pessoas conversando ao seu redor.
Se puder, vá para a sua casa de praia, no litoral. Mas vá sozinho. E não se esqueça das suas anotações. Concentre-se em cada capítulo, cujos resumos você já fez, e dê o seu melhor. Não se preocupe se os textos ficarem muito longos. Na revisão, mais da metade do que você escreveu será deletada. Não escreva mais de duas horas seguidas, a menos que as coisas estejam fluindo e você se sinta confortável, sem nenhum cansaço. Pare, ao menor sinal de cansaço, dê uma volta na praia e, se ainda não tiver perdido a vontade de escrever, volte ao computador. Mas não force nada.
Certamente haverá dias, talvez semanas ou, com algum exagero, meses em que você não escreverá nada. As idéias não fluirão. Não se preocupe. Isso acontece “até nas melhores famílias”. O que você não pode é desistir do seu romance. Não imponha prazos para a sua conclusão. Se o fizer, perderá a espontaneidade.
Lembre-se que você está escrevendo um romance, e não um texto descompromissado para o seu blog (ou o de algum amigo), nem mesmo uma crônica para algum jornal. Tudo isso é moleza perto da tarefa que você resolveu encarar.
Outra coisa: você não tardará a descobrir que essa história de “inspiração” é tremenda bobagem de quem não é do ramo (mas ache que saiba fazer literatura. Não sabe). Trata-se, isto sim, de um trabalho árduo, braçal, cansativo, no qual contam, sobretudo, a “transpiração”, a constância, a persistência e a paciência. E boa sorte. Vejo você nas boas livrarias!
Boa leitura.
O Editor.
Você já tomou, escritor amigo, várias decisões importantes para viabilizar seu plano de escrever um livro, o primeiro da sua carreira. Decidiu, por exemplo, que será um romance, urbano, tendo por cenário a São Paulo do século XXI. Traçou sua estratégia de como desenvolver essa idéia e optou por se organizar. Fez uma detalhada “planta” do edifício de palavras que pretende construir, acolhendo sugestões deste editor.
Foi mais longe: fez um resumão da história que pretende contar e detalhou (resumidamente, também) capítulo por capítulo, para eventualmente não vir a se perder no percurso da redação. Andou, portanto, uma boa parte do caminho. Agora sim seu livro deixou de ser vaga intenção, para se transformar em “projeto”. Doravante vem a fase da execução.
Mas, antes, você terá que tomar outra decisão: quando escrever? “O editor pirou de vez! Como, quando escrever? Quando eu quiser, ora!”, você deve estar dizendo a esta altura, duvidando da sanidade mental deste seu conselheiro informal. Não é bem assim.
Ponderemos. A menos que você seja um Balzac, um Dostoievski ou, quem sabe, um Machado de Assis, vai levar um tempo enorme para escrever seu romance. Se tudo der certo, será de, no mínimo, seis meses. E isso com muita sorte! Conheço escritores que estão trabalhando em suas histórias há quatro anos e ainda sequer chegaram à metade.
Se você estiver na ativa, trabalhando em alguma empresa, aí complicou tudo. O tempo que irá dispor para esta tarefa, convenhamos, será restritíssimo. Se quiser fazer as coisas direito, e seria uma burrice não o fazer, poderá escrever, com relativa tranqüilidade, somente aos sábados e domingos. Isso, se a família deixar. Ou seja, se ninguém inventar uma churrascada fora dos seus planos ou se você não tiver que fazer sala para visitas inoportunas.
Poderá, claro, tentar escrever à noite, quando voltar do trabalho. Isso, todavia, não é o mais recomendável. Se puder, tire uma licença da empresa. Se não puder, espere suas férias para iniciar a redação do seu romance.
Todavia, se você já estiver aposentado, as coisas serão muito mais fáceis nesse aspecto. Se este for seu caso, programe-se adequadamente. Estipule um período de trabalho diário (duas horas por dia, por exemplo) e siga rigorosamente essa programação. Determine o momento do dia que melhor lhe convenha. Há quem goste de escrever à noite, pior, de madrugada, quando todos estão dormindo. A lógica diz, no entanto, que essa está distante anos-luz de ser a melhor opção.
O mais inteligente é você se recolher cedo, por volta das 20 horas, relaxar e ter excelente noite de sono. Em vez de madrugar, acorde por volta das seis horas da manhã, tome um bom banho, um café reforçado e só então vá para o seu gabinete. Mas nada de telefone por perto e muito menos de pessoas conversando ao seu redor.
Se puder, vá para a sua casa de praia, no litoral. Mas vá sozinho. E não se esqueça das suas anotações. Concentre-se em cada capítulo, cujos resumos você já fez, e dê o seu melhor. Não se preocupe se os textos ficarem muito longos. Na revisão, mais da metade do que você escreveu será deletada. Não escreva mais de duas horas seguidas, a menos que as coisas estejam fluindo e você se sinta confortável, sem nenhum cansaço. Pare, ao menor sinal de cansaço, dê uma volta na praia e, se ainda não tiver perdido a vontade de escrever, volte ao computador. Mas não force nada.
Certamente haverá dias, talvez semanas ou, com algum exagero, meses em que você não escreverá nada. As idéias não fluirão. Não se preocupe. Isso acontece “até nas melhores famílias”. O que você não pode é desistir do seu romance. Não imponha prazos para a sua conclusão. Se o fizer, perderá a espontaneidade.
Lembre-se que você está escrevendo um romance, e não um texto descompromissado para o seu blog (ou o de algum amigo), nem mesmo uma crônica para algum jornal. Tudo isso é moleza perto da tarefa que você resolveu encarar.
Outra coisa: você não tardará a descobrir que essa história de “inspiração” é tremenda bobagem de quem não é do ramo (mas ache que saiba fazer literatura. Não sabe). Trata-se, isto sim, de um trabalho árduo, braçal, cansativo, no qual contam, sobretudo, a “transpiração”, a constância, a persistência e a paciência. E boa sorte. Vejo você nas boas livrarias!
Boa leitura.
O Editor.
Estava lendo a lista dos mais vendidos de Veja e imaginando sobre o que pensaram os autores que estão lá, quando idealizavam os seus escritos. Em que momento eles descobriram às pressas que era preciso imprimir mais e mais livros para cobrir a demanda? Será que são livros bons? Está bem, nos encontramos na boas livrarias caro Pedro, mas ainda estarei lendo livros alheios. Estranhamente escrevi o meu livro( biografia do meu filho), em cinco meses, sendo duas horas noturnas por cinco meses. Mas tem um defeito grave: reli apenas duas vezes antes de liberar cada capítulo. A intenção era não censurar nada. Consegui ampla espontaneidade, mas os erros foram muitos. Revendo os meus dados, vejo que eles foram um pouco em cima das sua preciosas dicas. Agradeço por elas.
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