O álbum de fotografias
* Por Rodrigo Ramazzini
O seu velho álbum de fotografias caíra em seus braços quando abrira o roupeiro para pegar uma cueca. Achou que aquela queda era um sinal. Pensou: “Estou mesmo precisando relembrar os bons tempos do passado! Essa correria diária está me tirando a vida”. E de posse do álbum sentou-se na sua “poltrona do papai”, e começou a folheá-lo:
Va-voom!
“Que cara de louco eu tinha quando bebê! A mãe teve coragem de entregar essa lembrança para quem me visitou pela primeira vez há quatro décadas atrás... É brabo ter que acreditar nisso!”.
Va-voom!
“Essa foto aqui... Tirada provavelmente na casa da tia Ana. A mãe não tinha noção do ridículo quando me vestiu dessa maneira. Suspensório marrom e sandália quatro números maiores que o meu pé. É de chorar! Essa sandália deve ter sido “presente” do Rodolpho. Acho que era do mano sim! Época de “vacas magras”. Compravam-se apenas roupas e calçados para o filho mais velho, e assim que essa roupa ou calçado deixava-lhe de servir, ela passava para o filho subseqüente abaixo, e assim por diante, de filho em filho, vinham “descendo”. Pobre do Rafinha, quando as roupas e calçados chegavam nele, não serviam mais nem para “pano de chão” ou para as goleiras do futebol... A falta de sorte dele não é ter nascido por último, e sim, ter cinco irmãos...”.
Va-voom!
“Quem é esse aqui, mesmo? Ah... É o... O... Lembrei! É o José Luiz, vizinho da época. Foto do carnaval de 1976. Que quarteto! José Luiz, eu, Rodolpho e o primo Marvin... Chega ser cômico saber que já me fantasiei de arlequim em um carnaval...”.
Va-voom!
“Lembro-me bem dessa noite de dezembro... 1979... Formatura da prima Josi... Fazia um calorão! Bah! Esse meu cabelo lambido, de franja, com essa calça boca sino bege, está de suicidar-se, mesmo anos depois... Que ridículo!”.
Va-voom!
“Ah! Ah! Ah!... Nem sabia que essa foto estava aqui! Garagem da casa do Felipe... Primeiro ensaio da nossa banda... Bons tempos!... Eu, cabeludo e com a camiseta do Sex Pistols... Se eu contar para a turma do escritório que já escutei muito Sex Pistols, ninguém acreditará... Tiramos essa foto por achar que ela poderia ser histórica, pois estava nascendo o grupo que mudaria o mundo... Tem até data aqui no cantinho... Maio de 1986... Babacas! Assim éramos...”.
Va-voom!
“Que merda essa foto! Até vou tirá-la daqui antes que alguém veja... Não chega ter que mostrar essas fotos grotescas do passado... Ter que mostrar eu desmaiado no parto da Sophia é demais!”.
Va-voom!
“Até essa jararaca aqui! Sorrindo ainda... Aquela... Aquela... Bom! Está provado que preciso fazer uma limpeza neste meu álbum... Urgente! Ter a foto da ex-mulher entre as tuas lembranças deve no mínimo trazer maus presságios...”.
Va-voom!
“Recordar é viver! E constatar que se levava uma pífia vida... Era-se ridículo e não se sabia! Putz! Até isso aqui... Se alguém tirou uma foto 3 x 4 e gostou... Que... Que dê um grito!... Ah! Ah! Ah... Estou cômico nesta!”.
Va-voom!
“Ué! Acaba aqui a “sessão comédia”? Não pode! Está faltando foto... Tenho que registrar todos os momentos da minha vida, para poder “olhar” para o passado e me divertir no presente...”.
Então, levantou-se e foi pegar a câmera digital para tirar uma foto sua atual...
* Jornalista
* Por Rodrigo Ramazzini
O seu velho álbum de fotografias caíra em seus braços quando abrira o roupeiro para pegar uma cueca. Achou que aquela queda era um sinal. Pensou: “Estou mesmo precisando relembrar os bons tempos do passado! Essa correria diária está me tirando a vida”. E de posse do álbum sentou-se na sua “poltrona do papai”, e começou a folheá-lo:
Va-voom!
“Que cara de louco eu tinha quando bebê! A mãe teve coragem de entregar essa lembrança para quem me visitou pela primeira vez há quatro décadas atrás... É brabo ter que acreditar nisso!”.
Va-voom!
“Essa foto aqui... Tirada provavelmente na casa da tia Ana. A mãe não tinha noção do ridículo quando me vestiu dessa maneira. Suspensório marrom e sandália quatro números maiores que o meu pé. É de chorar! Essa sandália deve ter sido “presente” do Rodolpho. Acho que era do mano sim! Época de “vacas magras”. Compravam-se apenas roupas e calçados para o filho mais velho, e assim que essa roupa ou calçado deixava-lhe de servir, ela passava para o filho subseqüente abaixo, e assim por diante, de filho em filho, vinham “descendo”. Pobre do Rafinha, quando as roupas e calçados chegavam nele, não serviam mais nem para “pano de chão” ou para as goleiras do futebol... A falta de sorte dele não é ter nascido por último, e sim, ter cinco irmãos...”.
Va-voom!
“Quem é esse aqui, mesmo? Ah... É o... O... Lembrei! É o José Luiz, vizinho da época. Foto do carnaval de 1976. Que quarteto! José Luiz, eu, Rodolpho e o primo Marvin... Chega ser cômico saber que já me fantasiei de arlequim em um carnaval...”.
Va-voom!
“Lembro-me bem dessa noite de dezembro... 1979... Formatura da prima Josi... Fazia um calorão! Bah! Esse meu cabelo lambido, de franja, com essa calça boca sino bege, está de suicidar-se, mesmo anos depois... Que ridículo!”.
Va-voom!
“Ah! Ah! Ah!... Nem sabia que essa foto estava aqui! Garagem da casa do Felipe... Primeiro ensaio da nossa banda... Bons tempos!... Eu, cabeludo e com a camiseta do Sex Pistols... Se eu contar para a turma do escritório que já escutei muito Sex Pistols, ninguém acreditará... Tiramos essa foto por achar que ela poderia ser histórica, pois estava nascendo o grupo que mudaria o mundo... Tem até data aqui no cantinho... Maio de 1986... Babacas! Assim éramos...”.
Va-voom!
“Que merda essa foto! Até vou tirá-la daqui antes que alguém veja... Não chega ter que mostrar essas fotos grotescas do passado... Ter que mostrar eu desmaiado no parto da Sophia é demais!”.
Va-voom!
“Até essa jararaca aqui! Sorrindo ainda... Aquela... Aquela... Bom! Está provado que preciso fazer uma limpeza neste meu álbum... Urgente! Ter a foto da ex-mulher entre as tuas lembranças deve no mínimo trazer maus presságios...”.
Va-voom!
“Recordar é viver! E constatar que se levava uma pífia vida... Era-se ridículo e não se sabia! Putz! Até isso aqui... Se alguém tirou uma foto 3 x 4 e gostou... Que... Que dê um grito!... Ah! Ah! Ah... Estou cômico nesta!”.
Va-voom!
“Ué! Acaba aqui a “sessão comédia”? Não pode! Está faltando foto... Tenho que registrar todos os momentos da minha vida, para poder “olhar” para o passado e me divertir no presente...”.
Então, levantou-se e foi pegar a câmera digital para tirar uma foto sua atual...
* Jornalista
Inesperada crítica ao passado. De um modo geral achamos que o passado é quer era bom, e o presente não nos reserva nada. Enfim, foi exatamente o inesperado que tornou a crônica hilária. Destaco o momento em que a mãe não tinha noção do ridículo, e vestia o menino de forma esquisita. Amor de mãe é exatamente assim. E filho também.
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