

O sal da vida
* Por Risomar Fasanaro
Um dia desses convidei um amigo para almoçar em minha casa. Mesa posta com uma linda toalha bordada, louça, copos, guardanapos, vasinho de violetas; tudo escolhido com carinho, mas na hora de saborear a comida, que desastre! Eu havia posto muito sal em um dos pratos; e ele, que já foi dono de restaurante, me aconselhou: sempre que você for pôr sal na comida, coloque apenas a metade do que pensava pôr.
Depois que ele foi embora, me pus a pensar naquele conselho e transferi-o para a vida. Tenho essa mania de ver às vezes nas palavras do outro mensagens subliminares para minha vida, e aquela foi uma.
É claro que meu amigo não teve outra intenção que a de falar do sal mesmo, aquele que quando usado em excesso provoca problema nos rins, na pressão sanguínea... Eu é que precisava da outra. Da que se espelhava no que ele dissera.
Acho que pôr muito sal em tudo é uma das razões de a gente nem sempre ser feliz. Às vezes uma pessoa nos diz algo e nos magoa. Será que ela teve intenção de nos magoar, ou nós é que pusemos muito sal em suas palavras? Às vezes exageramos tanto no gostar, que nos excedemos. Colocamos muito sal nas relações amorosas, nas amizades, nas expectativas em relação ao trabalho, em relação aos políticos que elegemos e depois nos decepcionamos.
O amigo nem sempre tem por você aquele enorme afeto que você tem por ele. Você é apenas mais um amigo. O trabalho não é aquela maravilha que você criou em sua imaginação. Nele você encontra dificuldades, não consegue levar adiante os projetos que pretendia realizar; os políticos que você elegeu muitas vezes se revelam bem diferentes daqueles que se mostraram durante as campanhas, enfim... Você colocou tanto sal em suas expectativas que estragou o que poderia ter sido mais bem aproveitado se sua forma de desfrutar aquela amizade, aquele trabalho, de avaliar aquele candidato, tivesse sido menos sonhadora, mais equilibrada.
O erro foi deles ou foi seu que salgou demais? A pessoa a quem você entregou de bandeja seu coração, nem sempre sente o mesmo amor que você dedica a ela. Nem sempre é tão tolerante quanto você gostaria que fosse. E se revela muito diferente de você. Sim, ela sabe usar o sal. Coisa que você e Cazuza não aprenderam.
E uma coisa é certa: tanto na cozinha como na vida uma vez posto o sal não há retorno. É preciso saber dosar. Ir com calma, e confesso, acho isso uma das coisas mais difíceis que há na vida: ter equilíbrio, saber dosar.
Estou tentando. Há vinte anos, quando perdi um grande amor, depois de um ano de separação, alguém me perguntou: “você ainda pensa muito nele?” Eu respondi: “não. Só quando respiro.” Acho que só Cazuza entenderia o que eu estava dizendo. Mas hoje estou aprendendo a dosar o sal. Na cozinha e na vida.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
* Por Risomar Fasanaro
Um dia desses convidei um amigo para almoçar em minha casa. Mesa posta com uma linda toalha bordada, louça, copos, guardanapos, vasinho de violetas; tudo escolhido com carinho, mas na hora de saborear a comida, que desastre! Eu havia posto muito sal em um dos pratos; e ele, que já foi dono de restaurante, me aconselhou: sempre que você for pôr sal na comida, coloque apenas a metade do que pensava pôr.
Depois que ele foi embora, me pus a pensar naquele conselho e transferi-o para a vida. Tenho essa mania de ver às vezes nas palavras do outro mensagens subliminares para minha vida, e aquela foi uma.
É claro que meu amigo não teve outra intenção que a de falar do sal mesmo, aquele que quando usado em excesso provoca problema nos rins, na pressão sanguínea... Eu é que precisava da outra. Da que se espelhava no que ele dissera.
Acho que pôr muito sal em tudo é uma das razões de a gente nem sempre ser feliz. Às vezes uma pessoa nos diz algo e nos magoa. Será que ela teve intenção de nos magoar, ou nós é que pusemos muito sal em suas palavras? Às vezes exageramos tanto no gostar, que nos excedemos. Colocamos muito sal nas relações amorosas, nas amizades, nas expectativas em relação ao trabalho, em relação aos políticos que elegemos e depois nos decepcionamos.
O amigo nem sempre tem por você aquele enorme afeto que você tem por ele. Você é apenas mais um amigo. O trabalho não é aquela maravilha que você criou em sua imaginação. Nele você encontra dificuldades, não consegue levar adiante os projetos que pretendia realizar; os políticos que você elegeu muitas vezes se revelam bem diferentes daqueles que se mostraram durante as campanhas, enfim... Você colocou tanto sal em suas expectativas que estragou o que poderia ter sido mais bem aproveitado se sua forma de desfrutar aquela amizade, aquele trabalho, de avaliar aquele candidato, tivesse sido menos sonhadora, mais equilibrada.
O erro foi deles ou foi seu que salgou demais? A pessoa a quem você entregou de bandeja seu coração, nem sempre sente o mesmo amor que você dedica a ela. Nem sempre é tão tolerante quanto você gostaria que fosse. E se revela muito diferente de você. Sim, ela sabe usar o sal. Coisa que você e Cazuza não aprenderam.
E uma coisa é certa: tanto na cozinha como na vida uma vez posto o sal não há retorno. É preciso saber dosar. Ir com calma, e confesso, acho isso uma das coisas mais difíceis que há na vida: ter equilíbrio, saber dosar.
Estou tentando. Há vinte anos, quando perdi um grande amor, depois de um ano de separação, alguém me perguntou: “você ainda pensa muito nele?” Eu respondi: “não. Só quando respiro.” Acho que só Cazuza entenderia o que eu estava dizendo. Mas hoje estou aprendendo a dosar o sal. Na cozinha e na vida.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
Erramos muito mais que acertamos, pq na vida não há receita de bolo a seguir. É tudo de bate-pronto, sem poder passar a limpo, que o tempo nos projeta para adiante. Errar é o comum dos mortais, mas se acertamos temos de festejar. Só o fato de buscar a dose adequada é meio caminho andado, cara Ris. E vc, acredito, tem motivos de sobra para viver em estado de festa. Questão de merecimento. Parabéns.
ResponderExcluirNossa! Essa foi de arrepiar. Uma pancada e tanto. Ando tão sensível, que por pouco não choro. Outro dia, numa caminhada com meu filho, falava de como faço tudo apaixonadamente. Não sei fazer nada mais ou menos. Caso não sinta paixão, é sinal que abandonei o páreo. Sou muito visceral e/ou passional. Ou é tudo ou nada. Essa de lembrar de alguém toda vez que respira foi muito boa. Coisa de poeta. Parabéns!
ResponderExcluirQueridos Daniel e Mara
ResponderExcluirEstive viajando, daí a razão de não ter respondido os comentarios de vocês. Fiquei feliz lendo o que escreveram.
Obrigada
Beijos nos dois
Risomar