domingo, 10 de setembro de 2017

Canção da torre mais alta


* Por Arthur Rimbaud
        
        
        Ociosa juventude
        De tudo pervertida
        Por minha virtude
        Eu perdi a vida.
        Ah! Que venha a hora
        Que as almas enamora.
        
        Eu disse a mim: cessa,
        Que eu não te veja:
        Nenhuma promessa
        De rara beleza.
        E vá sem martírio
        Ao doce exílio.
        
        Foi tão longa a espera
        Que eu não olvido.
        O terror, fera,
        Aos céus dedico.
        E uma sede estranha
        Corrói-me as entranhas.
        
        Assim os Prados
        Vastos, floridos
        De mirra e nardo
        Vão esquecidos
        Na viagem tosca
        De cem feias moscas.
        
        Ah! A viuvagem
        Sem quem as ame
        Só têm a imagem
        Da Notre-Dame!
        Será a prece pia
        À Virgem Maria?
        
        Ociosa juventude
        De tudo pervertida
        Por minha virtude
        Eu perdi a vida.
        Ah! Que venha a hora
        Que as almas enamora!


* Poeta francês do século XIX.

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