terça-feira, 26 de setembro de 2017

Por que escrever?

Vezes sem conta inúmeras pessoas me fizeram uma mesma e recorrente pergunta (que, ademais, fiz a mim mesmo “n” vezes) e concluo que essa questão específica comporta uma infinidade de respostas, algumas convincentes e outras nem tanto que, lembro, já dei em várias ocasiões e que ouvi e li de terceiros. E qual é este questionamento tão insistente, a respeito do qual já redigi considerável quantidade de textos, que pressupõe a definição de um objetivo? É “por que” escrever? Observe-se que se trata de pergunta que suscita, automaticamente, algumas outras, complementares, tais como: o que escrever? Quando? Como? E para quem?

Anne Frank – a frágil e esperta garotinha judia que redigiu um diário relatando o drama de seu confinamento, durante a Segunda Guerra Mundial, afirmou, antes dela e de sua família serem capturadas por soldados nazistas e encaminhadas a um campo de concentração onde a menininha sensível e observadora acabou executada – disse que escrevia para “não se asfixiar completamente”. Fazia-o, portanto, como um desabafo. Nunca lhe passou pela cabeça que seu diário de adolescente viria a se constituir em preciosa peça literária.

Já para a contista neozelandesa Katherine Mansfield (pseudônimo de Kathleen Mansfield Beauchamp), que inscreveu seu nome na literatura de ficção nas primeiras décadas do século XX, uma das várias razões que a levavam a escrever era para “declarar seu amor”, pressupondo, pois, que tinha alguns outros motivos que, todavia, não declinou quais eram. Outros escritores, se não explicaram o “por quê”, revelaram o que colocar em texto, além de como e quando, entre outros.

Mariano José Pereira da Fonseca, mais conhecido por seu título nobiliárquico de Marquês de Maricá, por exemplo, garantiu que escrevia porque era “mais seguro” escrever do que falar. E justificou: “Falando, improvisamos, mas para escrever refletimos”. Convenhamos, a improvisação é o caminho mais curto para o erro e para cometermos contundentes disparates verbais, que nos expõem ao ridículo, por falta de reflexão. É certo que nem todo redator reflete (mas deveria) antes de produzir seus textos. Mas… O artista plástico Wesley D’Amico, criador da menor bandeira brasileira que há, concordou, por sua vez, com o Marquês de Maricá, mas apenas em parte. Tanto que recomendou: “Não escreva tudo que pensa, mas pense antes de escrever tudo que acredita ser bom para ler”. Não deixa de ser um conselho sensato, não é mesmo?

Já a motivação de Clarice Lispector é um tanto parecida com a minha, posto que eu sou um tantinho mais vaidoso do que ela. A escritora ucraniana, mais brasileira contudo do que muita gente que nasceu neste País, confidenciou em um de seus livros (não me recordo qual): “Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando”. Pois é. No meu caso, também sou o “meu leitor preferencial”, embora pretenda que não seja o único, mas um de milhões, de bilhões, o tanto quanto for possível.

Poderia citar centenas de outros escritores que abordaram, de uma maneira ou de outra, o tema, mas não o farei, até por causa da limitação de espaço. Mas de todos os que pesquisei, para fundamentar estas reflexões, destaco o que Fernando Pessoa declarou a propósito. O genial escritor dos heterônimos assim se manifestou a respeito: “Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso”. Genial, não é mesmo?!

E você, amigo leitor, que volta e meia ensaia seus textos, em prosa e verso, de ficção e não ficção, por que escreve? Como o faz? Quando os redige? O que coloca no papel ou na telinha do computador? A quem destinha sua produção? Como você vê, devolvo-lhe a pergunta que me fez (ou que, se não fez, pretendeu fazer). É certo que este meu bla-bla-blá não vai fazer a cotação do dólar baixar. Mas, convenhamos, não deixa de ser um tema oportuno para reflexão. Ou não?!!!


Boa leitura!



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