terça-feira, 19 de setembro de 2017

Um cobertor repleto de pulgas

* Por Augusto Capucho

Dividiremos nossa provisão
A mim caberá algum triste pôr do sol
e meia dúzia de nuvens carregadas de angústias.
A você restará cílios molhados de lágrimas,
cinzas pelos cômodos da casa e cordas partidas
de um violão barato.

Ficarás com a lua crescente.
Ficarei com a lua minguante.
O que me restará então quando você for embora?
Só peço que o teu olhar vago
- azul infinito de vazio -
não encontre o de outro alguém.

Fui feliz certa vez e me estatelei no chão
como um suicida bêbado que parte
em um vôo sereno do alto de um prédio.
Da outra vez que fui feliz
esbofeteei a face de um anjo.

Faz frio demais nessa noite
e a poesia é apenas um cobertor
repleto de pulgas.


* Escritor e poeta, autor do livro “Uma história sobre bichos estranhos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário