segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Nós versus Zico


* Por Doca Ramos Mello


Arrááá!!! Enfiamos quatro bolas no Japão!

Peço perdão pelo entusiasmo, eu sou uma torcedora renitente porque sempre morro de pena dos adversários, ainda mais os japoneses, dos quais sou admiradora confessa, temos muitos japoneses brasileiros (nissei, bagunssei, nunssei...), a gente gosta deles, eles são de casa, nos ajudaram muito o país, então isso me dificulta tudo na hora de torcer contra... Isto é...

...Dificultaria, não fosse minha implicância com o Galinho de Quintino. Eu fiquei emputecida com o Zico. Não é que eu tenha assim uma espécie de raiva dele, vocês podem acreditar? Pois tenho. Eu lá me conformo em ver o sujeito cantando o hino japonês com a mão no peito? Brincadeira...

Bem, a seleção japonesa, coitadinha, me deixou meio tonta; eu acho que Zico, espertíssimo como qualquer brasileiro e ainda mais jogador de futebol, botou logo uns quarenta jogadores assim de três em três com o mesmo número de camisa e nem o juiz se deu conta. Digo isso porque os japinhas correram em desespero campo afora sem trégua. Não há cristão que agüente aquela correria sem abrir o bico e os mocinhos nem suavam. Então só pode ter sido que Zico trocava de japonês a toda a hora sem que ninguém percebesse, tanakara, nô?

Corriam, eu disse. Disparavam, devo dizer. Não faziam nada, coitados, mas desabalavam feito formigas desesperadas. Eu acho que lá no Japão é pouca terra para muito japonês. Então, quem corre mais chega primeiro e senta, ou deita, sei lá, quem vem depois, se lasca todo, daí uma verdadeira disposição para o arakiri ali mesmo. Ou tudo ou nada. Era como se tivessem um motorzinho debaixo dos pés, o que, em se tratando de povo japonês, não se pode desconsiderar como hipótese bastante viável. Eu já estava com aqueles meus eternos problemas de caridade para com o adversário (naturalmente dissociando a seleção sol nascente de Zico, o traidor da pátria), quando entrou em campo um Takahara, que confundi com Kitahara, justamente o sobrenome de um médico conhecido nosso. Então fiquei pensando que podia ser parente dele, um samurai afastado, essas coisas. Julguei que devia maneirar ainda mais na torcida. Vai que o cara aqui ficava sabendo da minha indelicadeza, não pegaria bem. Mas o Takahara entrou babando, não deu cinco minutos e foi terminar de babar no banco, matshukado, de modo que eu pude voltar a meter o pau em Zico.

Isso aí. Meter o pau em Zico, com aquela cara de infeliz encostado no poste, quando viu que a vaca tinha ido p’ro brejo completo, nô? Ganhasse da gente e era capaz de vestir um quimono e ficar abrindo a boca na frente da tv a gritar arigatô, arigatô, sayonará, vê se eu aturo uma barbaridade dessa?! Prevendo a coça, já tinha dito que não se podia ensinar ninguém a fazer gol e patati, patatá, toforajá, essas desculpas esfarrapadas... Mas Zico estava com a maior zica, hehehe!!!

Durante a partida, vi alguns jogadores japoneses diferenciados, a modernidade está acabando até com a tradição dos cabelos negros deles e, cada vez que aparecia um de cabeça amarela, eu gritava p’ro meu marido: “benhê, olha lá, o cara é loiro”, e meu marido respondia ‘é natural, é natural’, com um risinho safado no canto da boca.

Muito me impressionou também o goleiro deles, coitado, que engoliu quatro frangos, dois só de Ronaldo, e ainda dava altíssimas broncas ferradas nos companheiros de equipe, fazia caretas medonhas, exortava todo mundo a correr (acho que eles deviam se dedicar à maratona). Queria, com certeza, tirar o peso dos ombros (e que peso!). No final da partida, murchou todo, ficou sem forças, deve ter saído do campo direto para enfiar a cara no saquê...

Ó, eu também não gosto do Felipão. Vão aguardando aí...



* Jornalista

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