quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Sempre sem razão


O ditado que diz que “da discussão, nasce a luz”, é um dos mais furados que conheço. Ainda se dissesse que o esclarecimento de qualquer controvérsia provém de um diálogo lúcido e sereno, entre pessoas do mesmo nível cultural e intelectual, haveria um pouquinho de possibilidade disso ocorrer. Mas não há segurança alguma de que de fato ocorra.

Desconheço quem, em uma conversa, mesmo que descontraída, se curve aos interlocutores e admita que não tenha razão em alguma tese, ou teoria, ou mera afirmação qualquer que defenda ou que tenha enunciado. Da boca para fora, até se pode admitir, para evitar que o papo descambe para a discussão. Mas, interiormente, quem pode jurar que essa pessoa tenha se dado por convencida?

Todos os debates a que assisti – embora eu, no meu íntimo, tenha atribuído a vitória a um dos debatedores – em termos de convencimento, sempre terminaram empatados. Ao cabo das apresentações das teses, das réplicas e das tréplicas, cada um dos contendores se manteve rigorosamente inflexível na sua posição original, sem arredar um mísero milímetro dela.

Ao debaterem projetos, moções e resoluções, no Congresso Nacional, você acredita, de fato, que algum parlamentar da situação (deputado ou senador, não importa) convença, mas convença mesmo, sem que restem dúvidas e senões, seu antagonista da oposição (ou vice-versa)? Se ambos pensassem da mesma forma, seriam do mesmo partido ou facção ideológica. Cada qual puxa a sardinha para a sua brasa e não arreda pé das suas convicções, até por mera vaidade.

Mesmo quando algum projeto é aprovado, a aprovação se dá com uma infinidade de emendas, a maioria redundante e inútil, meros penduricalhos legais, que os oponentes da proposta fazem questão de impor. Raros, raríssimos temas obtêm consenso dos parlamentares.

E isso é ruim? Não sei! Em alguns casos, é saudável, desde que as emendas corrijam omissões do projeto original e sejam, de fato, para melhorar o que foi proposto. Raramente, porém, é. Não passam de manifestações de vaidade, de quem não admite, em circunstância alguma, “dar o braço a torcer” a algum oponente. Esses debates, frise-se, dão-se, via de regra, em um clima “civilizado” (às vezes não), tendo sempre um mediador, no caso quem preside a sessão, para regulá-los.

Imagine, então, uma discussão, mesmo que seja sobre futebol, em que não haja nenhum tipo de arbitramento. Não raro, essas altercações descambam para as vias de fato ou coisa pior, como um conflito generalizado ou até mortes. Como pode nascer a “luz”, ou seja, o entendimento, o consenso ou o esclarecimento, se todos querem ter razão, embora (e principalmente) quando não a tenham?! Acho esse tipo de confronto (mesmo que o fulcro das discussões seja o de ideias), não somente uma inutilidade, uma estúpida perda de tempo, mas, não raro, até uma irresponsabilidade.

Reitero que prefiro o diálogo, sereno, maduro, lúcido, envolvendo iguais. Em caso de desigualdade, será uma covardia. O sábio jamais convencerá o néscio (e vice-versa). Se isso fosse possível, o ignorante perderia essa condição e galgaria degraus e mais degraus, rumo à sabedoria. Não galga.

É possível que ao se dialogar, com serenidade e bom-senso, quem tenha argumentos sólidos consiga convencer, minimamente, quem não o possua. Nunca, todavia, existe uma certeza, nem a esse propósito, nem a respeito de coisa alguma. Aliás, minto. Há uma determinada situação em que o resultado de qualquer debate ou discussão é único e consensual.

O escritor francês, Philippe Destouches, destaca qual é essa circunstância. Afirma, em um de seus tantos textos: “Os ausentes nunca têm razão”. Ou seja, quando se discute determinada tese, apresentada por quem não pode se fazer presente para defendê-la, ela é liminarmente derrotada, mesmo que aos olhos do mundo seja a mais lídima expressão da verdade.

Ademais, a ausência anula qualquer possibilidade de diálogo. Caso haja uma só pessoa falando, haverá, é óbvio, somente um monólogo. E a razão, nem é preciso destacar, estará (pelo menos na cabeça dele) com quem estiver monologando. Portanto, se você tiver qualquer proposta que queira ver aprovada (seja num debate parlamentar, seja numa reunião de condomínio ou em outra assembleia qualquer), não delegue a ninguém, por mais confiança que tenha nesse delegado, a sua defesa. Faça-se presente. Só assim conseguirá impor a razão (mas a sua, claro)!

Boa leitura!

O Editor.



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Um comentário:

  1. Tenho de compartilhar no Facebook, lugar das discussões inúteis, das quais prefiro me omitir.

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