Instintiva imitação
A imitação é uma das principais
características humanas. É um ato até mesmo instintivo. Consciente ou
inconscientemente, imitamos nossos pais, amigos, mestres, ídolos esportivos,
artistas de cinema e televisão, astros pop etc.etc.etc. Não raro, até, copiamos
nossos maiores desafetos. Difícil, todavia, é encontrar quem admita isso.
Pior é quando cismamos de imitar
rematados pilantras, perigosos bandidos ou irrecuperáveis marginais. Há muitos
que agem assim e, lógico, se dão mal. Se não formos a este extremo, porém, não
vejo mal algum na imitação. Aliás, é este mimetismo que nos caracteriza como
animais. Os macacos fazem muito isso (não sei se com algum resquício de
consciência ou inconscientemente).
Há quem queira, porém, ser original,
único e inimitável. Perguntaram-me, certa feita, o que fazer para atingir o
grau máximo da originalidade. Respondi: “ame o próximo como Cristo amou; seja
firme em sua fé como Abrahão foi quando Deus ordenou que imolasse seu filho
único Isaac e seja mais criativo e prolífico do que Leonardo da Vinci, e tudo
isso simultaneamente. Talvez, então, você se aproxime alguns passos (sei lá se
muitos) da originalidade”.
Como todo o mundo (consciente ou
inconscientemente), tenho dezenas, centenas, quiçá milhares de pessoas às quais
admiro e que procuro imitar. Não em tudo, óbvio, porquanto isso seria
impossível e nem o tempo todo. Faço-o, contudo, num ato aqui, outro ali, outro
acolá e, com isso, componho um painel de aquisições com as quais procuro sempre
evoluir. Ademais, meus modelos também tiveram os seus, que por sua vez tiveram
igualmente os seus, e assim regressivamente, até chegarmos ao primeiro homem
que habitou a Terra.
Claro que a cópia, por mais perfeita
que pareça, nunca será igual ao original. Os marchands vivem às voltas com
imitações, que se constituem em tormentos na sua atividade. Para venderem
determinado quadro, de algum pintor famoso e consagrado, via de regra, precisam
fornecer os respectivos atestados de originalidade. Contam, para isso, com os
préstimos de especialistas na matéria, super-treinados, que farejam à distância
quaisquer tentativas de fraudes.
Algumas imitações, porém, são tão
perfeitas que enganam os maiores experts. Muita gente por aí, portanto, já
andou comprando, sem se dar conta, gato por lebre. Quando me refiro a imitação,
claro, não estou pensando em
plágio. E sequer na malfadada pirataria de determinados
produtos.
Falo em algo muito mais abstrato e
sutil, ou seja, em imitar gestos, atitudes, posturas, idéias, coisas desse
gênero, sempre acrescentando algo de pessoal ao que for imitado. E sempre
mencionando o modelo, até por questão de justiça. Quase nunca, porém, este é
mencionado, por questão de vaidade nossa.
Que tal imitarmos Cristo, em santidade;
Gandhi, no idealismo; Jacó, na perseverança; Einstein, na genialidade e (no
nosso caso, de escritores), Machado de Assis no talento? Claro que o que
conseguiremos não será propriamente uma imitação, mas mera caricatura. Essas
personalidades, pela excelência de suas vidas, são inimitáveis.
Há muitos outros modelos, além dos
citados, alguns mais atuais e acessíveis. Mas se conseguirmos imitar, digamos,
1% das características positivas dessas personalidades, certamente seremos
pessoas muito melhores, quem sabe geniais.
Há, porém, desgraçadamente, indivíduos
de miolo mole que procuram copiar o que há de pior na espécie humana. São
muitos e muitos e muitos os bandidos, os vilões, os rematados pilantras
servindo de modelo, notadamente, para os adolescentes, que admiram, sobretudo,
sua suposta valentia. Esta, porém, não passa de covardia em relação aos mais
fracos e aos de conduta irrepreensível. Os resultados, dessa estúpida imitação,
todos sabemos, de sobejo, quais são. Só quem deveria saber é que não se dá
conta disso.
Theodore Adorno constatou, a respeito,
em um de seus textos: “O homem estabelece-se na imitação: um homem torna-se um
homem apenas imitando outros homens”. Ou você se acha original e inimitável? Já
nasceu sabendo andar, falar, se relacionar com os parentes, os amigos, os
inimigos e os estranhos, a ler, a trabalhar etc.etc.etc.? Nossa, cara, você é
um gênio! Ou, na verdade, é um baita de um mentiroso! Enfim...
Boa leitura!
O Editor.
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Tudo já foi dito e feito. Originalidade parece algo até certo ponto, impossível.
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